09 Setembro 2025
Sem o apoio dos EUA e com a ajuda europeia restrita, governos africanos querem avançar autonomamente na transição energética.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 08-09-2025.
A 2ª Cúpula do Clima da África que acontece nesta semana em Adis Abeba, na Etiópia, não poderia ocorrer em momento mais decisivo. As tensões geopolíticas e o avanço do negacionismo climático colocaram em xeque a ajuda que os países da região recebiam dos EUA e Europa. Agora, a realidade exige algo que essas nações já vinham buscando há algum tempo: autonomia para combater às mudanças climáticas de acordo com os seus próprios interesses e necessidades.
“Não estamos aqui para negociar nossa sobrevivência. Estamos aqui para projetar a próxima economia climática do mundo”, afirmou o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, na abertura do evento, citado pela Reuters. Os líderes africanos querem oferecer um novo modelo de investimento verde que consiga destravar novas fontes de recursos, sem depender das nações ricas e industrializadas.
Um grupo de bancos de desenvolvimento e bancos comerciais africanos firmou um acordo para mobilizar até US$ 100 bilhões para impulsionar a “industrialização verde”, com base na expansão do uso de fontes renováveis de energia. Entre as instituições participantes, estão o Banco Africano de Exportação e Importação, o Banco Africano de Desenvolvimento, Ecobank Transnational e KCB Group.
O financiamento é um ponto crucial para a ação climática na África. Como o Guardian assinalou, o continente tem um grande potencial para a geração renovável de energia, mas a falta de recursos para financiar a transição energética é um obstáculo difícil de ser superado em alguns países africanos.
“A África está pronta para fazer parte [da luta contra a crise climática], desde que recebamos apoio financeiro, tecnológico e de capacitação. Houve um aumento de investimentos em algumas áreas, mas a África ainda precisa de muito financiamento para poder fazer parte da solução global e enfrentar esses desafios”, afirmou Richard Muyungi, enviado especial da Tanzânia para o clima.
O Climate Home deu detalhes sobre um relatório elaborado pelo governo do Quênia sobre os avanços e obstáculos para a industrialização verde na África. Os problemas citados no documento não são poucos: o continente sofre com escassez de energia limpa e infraestrutura, declínio na capacidade produtiva, altos níveis de endividamento, e participação limitada nas cadeias de valor global.
“[A África continua] enfrentando ventos contrários – desde dívidas paralisantes e déficits persistente no financiamento climático até a necessidade de promover a adaptação e a resiliência, sem as quais o continente não pode resistir às pressões de hoje nem prosperar amanhã”, observou o presidente queniano, William Ruto, no relatório.
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