Xi Jinping tem uma mensagem para Trump: chegou a hora da China

Foto: RS/Fotos Públicas

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04 Setembro 2025

Pequim está se preparando para retornar ao lugar que acredita que lhe corresponde naturalmente, aproveitando tanto o poderoso ímã comercial, de investimentos e tecnológico que irradia quanto a perda de confiabilidade inspirada por um Donald Trump cada vez mais questionável.

A reportagem é de Jesús A. Núñez, publicada por El Diario, 03-09-2025.

Em forte contraste com o erro que foi o desfile de Donald Trump em junho passado, o espetacular desfile militar organizado nesta quarta-feira pelas ruas de Pequim para comemorar o fim da Segunda Guerra Mundial, 80 anos atrás, foi apenas a cereja do bolo primorosamente preparado para glorificar a China como o próximo hegemônico global.

Xi Jinping, atuando como anfitrião, já havia feito uma demonstração de poder político e diplomático na 25ª cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), realizada de 31 de agosto a 1º de setembro. Aproveitando seus sucessos e os erros de Washington, ele procurou demonstrar que a China agora é uma alternativa sólida à hegemonia dos EUA.

Na cidade portuária de Tianjin, estavam presentes não apenas os 10 membros da OCSBielorrússia, China, Índia, Irã, Cazaquistão, Quirguistão, Paquistão, Rússia, Tadjiquistão e Uzbequistão —, mas também outros convidados, incluindo Coreia do Norte, Egito, Indonésia e Turquia, além dos secretários-gerais da ONU e da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). Esse grupo de países inclui não apenas os aliados tradicionais de Pequim, mas também outros, como a Índia, que buscam manter sua própria margem de manobra para não serem arrastados para a dinâmica de confronto imposta pelas grandes potências e até mesmo por países que costumam aparecer na lista de aliados de Washington.

Aumento de peso de Pequim

Isso indica que, longe de se isolar, a influência da China cresce inexoravelmente, aproveitando-se tanto do poderoso ímã comercial, de investimentos e tecnológico que gera por meio de seus macroprojetos Cinturão e Rota (2013) e BRICS, quanto da perda de credibilidade inspirada por um Donald Trump cada vez mais questionado como líder mundial. O comportamento da Rússia e da Índia serve como exemplo.

Depois de passar pelo Alasca sem ter que ceder a nenhuma de suas exigências maximalistas para se impor à Ucrânia, mas ainda dando margem de manobra a Trump para continuar seu discurso de guerra, Vladimir Putin chegou à China ostentando a "amizade sem limites" de Pequim. Isso não só reforça sua pretensão de ver a Rússia reconhecida como uma potência global, como também se traduz na reativação de um projeto tão notável quanto o gasoduto Power of Siberia 2.

Em sua ânsia por encontrar alternativas à perda da Europa como principal cliente de seus recursos de gás, Moscou está adicionando um novo gasoduto ao gasoduto Power of Siberia 1 (do leste da Sibéria ao norte da China, em operação desde 2019). Detalhes técnicos ainda não foram definidos; este gasoduto conectará os campos de Yamal a Xangai, fornecendo cerca de 50 bilhões de metros cúbicos anualmente. Isso representa um verdadeiro alívio para a economia russa e mais um sinal da aliança entre Moscou e Pequim, ainda que seja amplamente alimentada pela rejeição mútua à hegemonia americana.

Aproximação entre China e Índia

No caso da Índia, o erro estratégico de Trump é ainda mais contraproducente para os interesses dos EUA. A prioridade geoestratégica de Washington é prolongar indefinidamente sua liderança global, impedindo por todos os meios à sua disposição a ascensão da China como rival. Nesse contexto, a Índia é um ator fundamental na união de forças com aqueles na região Indo-Pacífico que, por diversas razões, temem a ascensão de Pequim. A Índia tradicionalmente percebe o gigante chinês como uma ameaça à sua segurança e, portanto, pode estar disposta a se aliar a Washington na tentativa de conter sua ascensão.

No entanto, a decisão de Trump de aplicar tarifas de 50% sobre as importações de Nova Déli — sem ousar fazer o mesmo com Pequim, em seu plano de cortar o apoio de Moscou aos dois países para enfrentar as sanções impostas até então por sua invasão da Ucrânia — pode ter sido a gota d'água que acelerou um processo de reaproximação entre Nova Déli e Pequim que ainda estava em fase inicial.

 Nesse caminho, a aliança QUADAustrália, Estados Unidos, Índia e Japão — também pode perder um de seus principais pilares, à medida que a Índia se submete cada vez mais à China, que já é seu principal parceiro comercial e da qual depende significativamente tanto para investimentos quanto para transferência de tecnologia.

No discurso oficial chinês, "o século da humilhação" perante o Ocidente terminou em 1949, com a criação da República Popular da China e a liderança do Partido Comunista. Desde então, e especialmente desde a era de Deng Xiaoping — com suas quatro modernizações aplicadas à agricultura, indústria, ciência e tecnologia e defesa nacional — Pequim vem se preparando para reconquistar o lugar que acredita naturalmente pertencer. E agora Xi parece destinado a concluir o processo, incluindo Taiwan.

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