16 Agosto 2025
"A militarização da UE, evidenciada pela expansão das fábricas de armas, está, assim, exacerbando a corrida armamentista global, que, por sua vez, alimenta a violência e a pobreza, representando uma grave ameaça à paz e à segurança humana."
O artigo é de Francesco Vignarca, publicado por il Manifesto, de 14-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A bolha que há três anos alimenta a retórica belicista e o crescimento robusto (nos orçamentos e nas previsões) dos gastos militares agora está se concretizando em novas formas.
Uma investigação do Financial Times baseada em imagens de satélite destaca como as fábricas de armas vêm expandindo (triplicando) suas instalações desde a invasão russa da Ucrânia. Os números do Financial Times são claros: 7 milhões de metros quadrados de novos empreendimentos em 150 locais de 37 empresas ligadas à produção de munições e mísseis.
Esses não são simples detalhes, mas indicadores de algo profundo: o aumento dos gastos militares não só traz mais recursos para os exércitos (para compras ou operações), mas também implica uma transformação industrial (e, portanto, econômica) concreta, direta, de orientação. Porque um aumento repentino nos gastos militares não se consegue aumentando as operações militares ou o número de soldados (estruturas e recrutamento exigem prazos mais longos), mas sim por um caminho mais favorável aos interesses armados: aumentar a compra e a produção de armas, ou seja, resumindo, fazer crescer a indústria bélica. Em poucos anos, enormes fluxos de dinheiro público acabam nos balanços de empresas que, por sua própria natureza, têm grande interesse em que o clima de instabilidade se mantenha. E que hoje também estão empregando esses fundos para aumentar suas estruturas e capacidade de produção.
Nos bastidores, o quadro é ainda mais inquietante. As principais empresas de defesa são em grande parte controladas por megafundos de investimento globais (BlackRock, Vanguard, KKR, etc.) que dominam os setores estratégicos da economia global e se mantêm no topo graças, em parte, à bolha criada pelo aumento constante dos gastos militares. Sem esse fluxo garantido, seus lucros e sua própria centralidade nos mercados globais seriam questionados, pois seu modelo de negócios se baseia na constância dos retornos acionários atrelados a um gasto públicos (como aquele militar) que nunca sofrerá cortes súbitos em contextos de "insegurança permanente".
O resultado é um ciclo vicioso que se autoalimenta: as tensões geopolíticas levam os governos a aumentar os gastos militares, esses fluxos de dinheiro fortalecem os balanços das indústrias bélicas, elevando o valor de suas ações, e os principais acionistas — que, assim, aumentaram seus portfólios — têm grande interesse em consolidar seu desempenho financeiro, de modo que qualquer movimento em direção à paz é percebido como uma ameaça econômica.
Disso decorre um evidente risco de "empobrecimento" do cenário industrial e econômico europeu, já em crise devido a vários fatores estruturais, que sofre com a falta de investimento em setores-chave (inovadores e socialmente mais úteis e produtivos) para alimentar o setor militar, estruturalmente menos vantajoso. Enquanto as finanças públicas dos Estados europeus permitirem (com alquimias orçamentárias, aumento da dívida para as gerações futuras e cortes profundos nos gastos sociais), as empresas militares terão um sistema direto para aumentar as receitas às custas da coletividade. Mas o que fazer, dado que a cada vislumbre de negociação as ações das gigantes do setor perdem valor (a paz, nessa lógica, não é uma boa notícia, mas apenas uma ameaça ao negócio)?
O lobby militar vem repetindo há tempo que precisa de encomendas de longo prazo para cobrir os investimentos ligados ao aumento da produção, e a retórica da dissuasão e do "medo do inimigo" por si só jamais poderão absorver tais níveis aumentados de produção (a capacidade de armazenamento é limitada e há a questão da obsolescência). A única outra saída possível são as exportações para fora da UE, que iriam em grande parte para regimes autoritários e países em crise e/ou conflito, como vem acontecendo há muito tempo. Não é por acaso que, tanto em nível de União como de Estados-membros individuais, incluindo a Itália, já foram lançados vários ataques às normas que controlam a venda de armamentos: nada deverá criar obstáculos para os negócios de uma indústria agora acostumada a um elevado nível de lucro. A militarização da UE, evidenciada pela expansão das fábricas de armas, está, assim, exacerbando a corrida armamentista global, que, por sua vez, alimenta a violência e a pobreza, representando uma grave ameaça à paz e à segurança humana.
Essa situação cada vez mais concreta e evidente levanta uma questão urgente: até que ponto queremos vincular a nossa economia e o nosso emprego à produção de armas? Porque a retórica daqueles que pressionam para o armamento "para a segurança e a democracia" muitas vezes mascara uma realidade mais simples: uma transferência de recursos públicos para um setor que, por sua natureza, prospera na guerra, mas tem tudo a perder com a paz.