13 Março 2024
"Se a despesa militar global quase duplicou nos últimos vinte anos, não é por acaso que o comércio de armas também tenha registrado uma clara tendência de crescimento, após o ponto mínimo alcançado no fim do século passado", escreve Francesco Vignarca, coordenador das campanhas da Rede Italiana Paz e Desarmamento, em artigo publicado por Il Manifesto, 12-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os dados do SIPRI de Estocolmo são sempre muito úteis para corroborar com números e valores as tendências do mercado de armas, em geral dos gastos militares, que são evidentes para quem lida com esse setor. Em particular, as Trends in international arms transfers recentemente divulgadas com referência a 2023 permitem-nos compreender que indústrias militares (e, consequentemente, que países) estão impulsionando o comércio de armas não apenas como fonte de retorno econômico, mas também - em alguns casos, acima de tudo - como instrumento de influência e intervenção nos conflitos e nas áreas mais turbulentas do globo.
Por essas razões é certamente importante avaliar os aspectos mais relevantes que podem ser extraídos dos dados mais recentes.
Lembrando que os números do SIPRI sobre o comércio de armas referem-se a um indicador-valor de tendência que por sua natureza deve ser tomado como sinal de uma dinâmica e não em seu valor absoluto.
O primeiro elemento diz respeito ao valor global do comércio de armas, que continua a aumentar tanto numa base anual como avaliando as tendências de blocos quinquenais (por sua natureza tanto de acordos como de produção, a venda de armamentos ocorre a médio e longo prazo, daí a necessidade de uma análise plurianual). Na verdade, não deve enganar que o último quinquênio tenha totais ligeiramente inferiores ao anterior, porque esse período inclui os anos Covid que, em certo sentido, também paralisaram a economia do setor. A retomada dos últimos dois anos já é claramente visível e irá certamente fortalecer-se ainda mais no futuro imediato, devido ao crescimento robusto já previsto para a despesa militar no seu conjunto e para a despesa específica relativa à aquisição de armas.
Uma tendência que reforça um aumento das despesas militares que já está presente, mas que é acelerada pelo envolvimento em conflitos de grande escala de alguns entre os principais produtores de armamento (sobretudo Ucrânia e Palestina).
Se a despesa militar global quase duplicou nos últimos vinte anos, não é por acaso que o comércio de armas também tenha registrado uma clara tendência de crescimento, após o ponto mínimo alcançado no fim do século passado.
O segundo elemento é aquele relacionado aos países exportadores e às diretrizes de venda internacional.
A invasão da Ucrânia, que o próprio Putin inicialmente supôs que pudesse ser uma força motriz para as armas russas, mas que depois se transformou numa guerra mais longa do que o esperado, obviamente causou a queda das exportações militares de Moscou, prontamente substituída por outros países fornecedores. Entre eles, certamente a França, que tem estratégias de vendas público-privadas muito agressivas nesse setor, e soube tirar partido da situação, embora obviamente os Estados Unidos continuem a ser os verdadeiros protagonistas das exportações de armas: mais de 40% do mercado internacional é sua prerrogativa.
Um dado realmente relevante e explícito. Também resultado da duplicação das importações de armamentos por parte dos países europeus (em 23% devido aos dados ucranianos) que no quinquênio 2019-23 tiveram origem nos EUA (era apenas 35% no quinquênio anterior)
Apesar disso, o comércio internacional de armas continua a ter uma direção precisa: dos estados produtores (particularmente ocidentais, mais a Rússia e a China) até àqueles em que as tensões são maiores e, portanto, são feitas tentativas para influenciar, ou mesmo alimentar, o conflito. Não é por acaso que 37% de todas as armas exportadas nos últimos cinco anos acabaram na Ásia e na Oceania, seguidas pelo Oriente Médio com 30%.
E onde é que a Itália se insere nesse quadro? Existem dois elementos principais a serem avaliados dos +86% de salto registado (com uma quota de mercado de 4,3% do comércio internacional de armas). O primeiro é a confirmação da mesma, problemática, direção das vendas: 71% das exportações italianas de armas nos últimos cinco anos acabaram no Oriente Médio. O segundo é a clara negação das razões apresentadas pelo governo e pelo lobby da indústria militar (com analistas ligados) para a piora da Lei 185/90: não é verdade que as empresas de armamento italianas sejam mais controladas e, portanto, frágeis em comparação à concorrência (inclusive europeia). Os negócios de armas já vão muito bem, mas quem os controla não quer que sejam visíveis: mais um motivo para apoiar a grande mobilização promovida pela sociedade civil para manter a transparência no comércio de armas.
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Armamento. Um mercado que não pode escapar aos controles. Artigo de Francesco Vignarca - Instituto Humanitas Unisinos - IHU