26 Junho 2025
Encontramos Enzo Bianchi na Casa della Madia, seu mosteiro perto de Ivrea. Velho conhecido do nosso jornal, com o qual colaborou nos últimos anos, a partir da próxima edição inaugurará uma nova coluna de espiritualidade focada na oração intitulada: “Cristão, quem você é?”.
A entrevista é de Stefano Stimamiglio, publicada por Famiglia Cristiana, 20-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Irmão Enzo, por que esse título?
Estou convencido, e não é apenas meu pensamento, que neste momento há uma grande fragilidade na vida de fé de muitos cristãos. O Papa Leão, em seu recente discurso à Conferência Episcopal Italiana, pediu aos bispos que despertassem a fé em Jesus Cristo como único Salvador e como centro da fé cristã. Vivemos em um tempo em que os cristãos se abriram justamente às necessidades do mundo, ao diálogo e ao confronto com muitas realidades terrenas, mas desapareceu a centralidade do primado de Cristo, do qual depende a nossa fé. A nossa salvação não depende dele?
Em palavras simples, o que é a oração?
A oração tem um desenvolvimento diferente de pessoa para pessoa. Há a da pessoa simples que pede graças e proteção e que deve ser respeitada, mesmo sabendo que não é suficiente para uma vida madura de fé. A oração não é tanto um pedido a Deus, mas sim uma escuta da sua voz que se manifesta na Palavra de Deus. É da escuta que nasce a fé, que conhecemos a vontade de Deus, que moldamos a nossa vida segundo o Evangelho. A oração é um longo caminho que leva a pessoa a adorar e louvar a Deus até à contemplação, que não é só para místicos, mas é a capacidade, aberta a todos, de assumir o olhar de Deus sobre as pessoas e as coisas. Esse é o ápice da oração.
O que diria a um jovem?
A única coisa que se pode pedir a ele é que pare dez minutos por dia para ler algumas linhas do Evangelho e se pergunte se encontra algo que fale ao seu coração. Só isso. Não estou dizendo que isso o tornará automaticamente um cristão, mas pelo menos ele desenvolverá uma memória afetiva de Jesus que perdurará no tempo. E que, no momento oportuno, ressurgirá como uma verdadeira luz.
Que doença nos aflige hoje?
É a doença de um mundo em fuga que deveríamos combater e que, em vez disso, apoiamos com as nossas escolhas, vivendo da manhã à noite à velocidade máxima. Essa velocidade não nos dá tempo para pensar, para parar, para nos aprofundar. Para sair dela, deveríamos organizar o nosso dia antes que comece e reservar um bom tempo para o que realmente queremos fazer. Caso contrário, somos ‘engolidos’ e, no final, ficamos estranhos a nós mesmos. Muitos idosos me confidenciam que não viveram a sua vida e estão tristes, não porque não tenham tido sucesso na vida, mas porque sentem que para eles o tempo voou inutilmente. É um problema antropológico antes de ser cristão.
E as distrações na oração?
Há uma educação para a concentração na oração, mas não devemos nos assustar se isso acontecer. A mente divaga na oração, pode haver distrações. Leva tempo e perseverança para que elas percam a força. Às vezes, porém, são uma espécie de monstro que se agita dentro de nós e que emerge das nossas regiões interiores mais profundas. É então o momento de mergulharmos ainda mais em nós mesmos para encará-lo sem nos assustarmos, para derrotá-lo e ordená-lo com o poder do Espírito Santo.
Hoje, recorremos frequentemente a psicólogos...
Hoje, existe uma perigosa 'psicologização' da vida de fé. Mesmo na Igreja, fala-se mais de psicologia do que da ação da graça, isto é, do Espírito Santo. Até mesmo nos seminários, o que contribuiu para criar um verdadeiro deserto no campo das vocações. Assim, Jesus não é mais o médico das nossas vidas. Creio, em vez disso, que devemos lutar sobretudo com as armas espirituais contra os fantasmas que nos habitam. Essa mistura entre espiritualidade e ciências humanas é perigosa e pode, em casos extremos, ser causa de abusos espirituais, porque a certa altura já não fica claro se alguém é o pai espiritual ou o psicólogo.
Mas também há a paz do coração...
A paz é o fruto máximo da vida do espírito. Para obtê-la, o Espírito Santo deve descer às nossas profundezas, onde guardamos as nossas reservas contra o inimigo e a nossa carga de agressividade. Se isso não acontecer, permanecerão em nós formas de rancor, ódios ocultos e desejo de dominação. Vemos isso até mesmo entre nós, cristãos. Basta pensar na guerra fratricida na Ucrânia: irmãos batizados e parte do único corpo de Cristo matam-se todos os dias.
O que inspirou a sua oração?
Minha vida de oração começou quando eu era muito pequeno e todas as noites minha mãe me fazia ajoelhar ao lado da cama, sussurrando as palavras das orações, fazendo-me repeti-las. Assim ela começou a me fazer balbuciar com Deus e desde então nunca parei de rezar. Acredito que se as mães fizessem isso com seus filhos, propiciariam um grande presente.