17 Junho 2025
Uma nova revisão destaca a ameaça aos vertebrados necrófagos, especialmente os maiores, o que tem implicações na remoção de patógenos como o antraz e na contaminação de fontes de água.
A reportagem é de Antonio Martínez Ron, publicada por El Diario, 16-06-2025.
Grandes necrófagos, como abutres, tubarões e jacarés, desempenham um papel crucial nos ecossistemas, consumindo carcaças e eliminando potenciais fontes de doenças. De acordo com uma revisão publicada na segunda-feira por Chinmay Sonawane e colegas da Universidade Stanford, 36% das espécies necrófagas do mundo estão listadas como ameaçadas ou apresentando populações em declínio, com os animais de grande porte entre os mais afetados.
Para o estudo, publicado na segunda-feira na revista PNAS, os autores analisaram o status de 1.376 espécies de vertebrados terrestres, de água doce e marinhos que consomem carniça e estão incluídas na Lista Vermelha da IUCN, e detalharam a distribuição, o status de conservação e os serviços ecossistêmicos de cada espécie.
A análise mostra que os necrófagos são geográfica e filogeneticamente diversos, com mais de 200 famílias taxonômicas representadas. O que eles observam é que, enquanto a população de grandes necrófagos está diminuindo, os menores, como os roedores, estão aumentando. Na visão deles, o aumento de pequenos necrófagos generalistas pode aumentar os riscos de doenças que os grandes necrófagos ajudaram a mitigar.

Um grupo de abutres devorando carniça (Foto: Pexels/El Diario).
“Doenças zoonóticas (transmitidas por animais) matam milhões de pessoas todos os anos, e algumas dessas doenças podem vir de resíduos de carcaças”, explica Sonawane ao elDiario.es. “Portanto, os necrófagos, que se alimentam desses resíduos, são importantes para a proteção da saúde humana”. Isso significa, acrescenta, que se menos resíduos de carcaças forem removidos do meio ambiente, haverá mais criadouros disponíveis para patógenos.
As principais espécies em perigo de extinção tendem a ser grandes necrófagos, como tubarões, como o tubarão-de-pontas-brancas-oceânico, albatrozes, ursos, felinos como tigres, crocodilos e aves de rapina como abutres, observa ele. "Por outro lado, necrófagos de médio e pequeno porte estão prosperando", afirma o autor principal. "Isso também é problemático para a saúde humana, pois inclui cães, porcos e roedores selvagens, animais que podem transmitir doenças às pessoas".
Um custo invisível
A remoção de carcaças da natureza também tem um impacto econômico que nem sempre avaliamos e que os autores tentaram documentar. "Os catadores se destacam na remoção de volumes impressionantes de resíduos", escrevem.
Hienas-malhadas (Crocuta crocuta), por exemplo, consomem 200 toneladas de resíduos de carcaças de gado anualmente em Mekelle, Etiópia, e na Espanha, os abutres economizam milhões de euros aos agricultores a cada ano, removendo carcaças da terra. Nas Américas, os autores estimam que os abutres-americanos (Cathartes aura) removem cerca de 1,5 milhão de toneladas de resíduos anualmente, economizando quase US$ 1 bilhão em custos de descarte.
Antoni Margalida, pesquisador do Instituto Pirenaico de Ecologia (IPE), acredita que o estudo é uma abordagem abrangente que demonstra o impacto que a perda ou redução do consumo de carniça pode ter devido ao declínio dessas espécies. "O artigo reforça as evidências disponíveis em estudos anteriores", disse ele ao SMC. "Isso pode facilitar a proliferação de patógenos, com a consequente ameaça à saúde humana".
José Antonio Donázar Sancho, professor pesquisador da Estação Biológica de Doñana (CSIC), acredita que o valor desta publicação reside em sua capacidade de fornecer uma visão abrangente. "Sua potencial importância reside no fato de que, como uma publicação de alto nível, pode dar maior visibilidade ao problema, especialmente se as descobertas forem divulgadas ao público em geral", afirma.
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