07 Mai 2019
“Ecossistemas, espécies, populações selvagens, variedades locais e raças de plantas e animais domésticos estão diminuindo, deteriorando ou desaparecendo. A essencial e interconectada rede de vida na Terra se retrai e cada vez está mais desgastada”, adverte Josef Settele, um dos principais autores do relatório da IPBES [Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos] . “Essa perda é a consequência direta da atividade humana e constitui uma ameaça direta ao bem-estar humano em todas as regiões do mundo”.
A reportagem é de Silvia Ayuso, publicada por El País, 06-05-2019. A tradução é do Cepat.
Relatórios alarmistas abundam há tempo. Este não é mais um. Elaborado durante os últimos três anos por 145 especialistas de 50 países e com colaborações de outros 310 especialistas, o estudo Avaliação Global sobre Biodiversidade e Ecossistemas, de mais de 1.500 páginas, é um dos mais amplos realizados em escala mundial – avalia as mudanças nas últimas cinco décadas – e o primeiro que analisa a situação da biodiversidade desde 2005. Ainda que não será publicado na totalidade por enquanto, o resumo das conclusões, aprovadas após uma reunião de uma semana da IPBES, um organismo impulsionado pela ONU, na sede da Unesco em Paris, não é nada alentador.
“Estamos diante de uma crise da biodiversidade”, resumiu sem rodeios, em teleconferência, Paul Leadley, outro dos coordenadores do relatório.
Dos oito milhões de espécies que existem atualmente no planeta - entre animais, insetos e plantas -, um milhão está ameaçado de extinção. E esta está se “acelerando”. Nos últimos 40 anos, aumentou o risco de extinção total de espécies. “A velocidade de extinção é centenas de vezes maior que a natural”, segundo Leadley.
Mais de 40% das espécies anfíbias, quase um terço dos recifes de corais, tubarões e espécies relacionadas, assim como mais de um terço dos mamíferos marinhos estão ameaçados. Mais difícil é fazer esta estimativa, destacam os especialistas, no caso dos insetos, mas consideram que as provas existentes permitem falar em 10% de espécies ameaçadas. E as consequências, adverte novamente Leadley, são diretas para a espécie humana. “Dependemos da biodiversidade e, portanto, essa perda tem consequências para nós”, conforme destaca e apresenta um exemplo simples: “A queda constatada dos polinizadores tem efeitos potencialmente muito negativos sobre a polinização de frutas e legumes, ou para o chocolate e o café. São consequências diretas”.
Desde o século XVI, ao menos 690 espécies vertebrais foram levadas à extinção e mais de 9% de todos os mamíferos domesticados usados para alimentação e agricultura haviam se extinguido em 2016. Ao menos mil a mais ainda estão ameaçados, continua o relatório.
Este identifica e, pela primeira vez classifica, os cinco impulsionadores diretos – que também se aceleraram nos últimos 50 anos, segundo as investigações – das mudanças na natureza, com maior impacto relativo global. O primeiro são mudanças no uso da terra e o mar: três quartos do meio ambiente terrestre e cerca de 66% do marinho se viram “significativamente alterados” pela ação humana. Acompanha-lhe a exploração de organismos – 33% dos recursos pesqueiros marinhos eram explorados em níveis insustentáveis em 2015 – e, em terceiro lugar, a mudança climática: as emissões de gases do efeito estufa duplicaram, a partir de 1980, e provocaram o aumento global da temperatura em ao menos 0,7 graus centígrados. Outro dos fatores é a poluição – a poluição plástica se multiplicou por dez, a partir de 1980 – e, finalmente, as espécies exóticas invasoras, que aumentaram em 70%, a partir de 1970, em ao menos 21 países.
As consequências, insiste o relatório, serão sentidas por todos os seres humanos, em todo o planeta. A atual tendência negativa em biodiversidade e ecossistemas “minará” os avanços em 80% das metas estimadas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, fixados para 2030, especialmente em matéria de fim da pobreza, fome, saúde, água, cidades sustentáveis, clima, vida submarina e ecossistemas terrestres (os objetivos 1,2,3,6,11,13,14 e 15).
“Os objetivos para conservar a natureza e conseguir a sustentabilidade não podem ser conquistados com a trajetória atual, e as metas fixadas para 2030, e para depois, só serão conquistadas mediante mudanças transformadoras de caráter econômico, social, político e tecnológico”, ressaltam os especialistas.
É possível deter esta “crise”, explica Leadley, mas isso irá exigir “uma transformação de nosso modo de desenvolvimento”. E uma implicação em todos os níveis.
“Este relatório nos recorda a verdade óbvia: as atuais gerações têm a responsabilidade de legar às gerações futuras um planeta que não esteja irreversivelmente danificado pela atividade humana”, destaca o administrador do Programa de Desenvolvimento da ONU, Achim Steiner. “Nosso saber local, indígena e científico está demonstrando que temos soluções, sendo assim, basta de desculpas, temos que viver de maneira diferente na Terra”.
Após um panorama tão pessimista, um raio de esperança: “Já vimos as primeiras ações e iniciativas para uma mudança transformadora, como políticas inovadoras por parte de muitos países, autoridades locais e empresas, mas especialmente por gente jovem em todo o mundo”, avalia o presidente da IPBES, Robert Watson. “De jovens após o movimento #VoiceforthePlanet a greves escolares pelo clima, há uma corrente de compreensão acerca da necessidade de uma ação urgente, caso queiramos assegurar algo parecido a um futuro sustentável”.
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Um milhão de espécies ameaçadas de extinção - Instituto Humanitas Unisinos - IHU