11 Junho 2025
Noventa e cinco países pediram na terça-feira (10), na Cúpula dos Oceanos de Nice, no sul da França, a adoção de um tratado "ambicioso" que restrinja a produção de plástico, antes das novas negociações agendadas para agosto.
A reportagem é publicada por Rfi, 10-06-2025.
"Pedimos a adoção de um objetivo global para reduzir a produção e o consumo de polímeros plásticos primários a níveis sustentáveis", escreveram os signatários do texto.
Esta declaração simbólica é "importante" porque os países "estão tentando nos fazer acreditar que é agindo na coleta, triagem e reciclagem que poremos fim à poluição plástica", disse à imprensa a ministra francesa para a Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher. "Isso é uma mentira; não apoiamos, não podemos apoiar essa mentira", acrescentou.
Os países signatários representam mais da metade dos 170 envolvidos nas negociações de um tratado sobre o tema desde 2022. Milhões de toneladas de plástico vazam para os oceanos, lençóis freáticos, alimentos e até mesmo para o corpo humano todos os anos na forma de microplásticos.
As negociações para um tratado vinculativo sobre poluição plástica estão programadas para serem retomadas em Genebra no início de agosto. A última sessão terminou em fracasso em dezembro passado, em Busan, Coreia do Sul.
"Esta declaração é essencial porque envia um sinal muito forte", disse Alicia Bárcena, ministra do Meio Ambiente e Recursos Naturais do México.
Bloco contra tratado
As negociações de Busan sobre plásticos foram paralisadas após o surgimento de um bloco de países, principalmente produtores de petróleo (Arábia Saudita, Rússia, Irã etc.), que se opõe a impor limites à produção global.
A ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Lena Estrada, disse na terça-feira que a declaração de Nice enviou "uma mensagem clara ao mundo". "Não aceitaremos qualquer tratado baseado em falsas soluções. Proporemos o tratado de que precisamos. Um tratado que não reduza a produção de plástico será uma folha em branco", enfatizou.
Graham Forbes, da ONG Greenpeace, viu esta declaração como "o sinal de alerta de que o mundo precisa". "Os governos estão finalmente dizendo em alto e bom som: não podemos acabar com a poluição plástica sem reduzir a produção de plástico. Ponto final", acrescentou em um comunicado.
A produção de plástico aumentou de 2 milhões de toneladas em 1950 para 413,8 milhões em 2023, representando mais de 80% do lixo marinho identificado, de acordo com o Barômetro Oceânico Starfish.
"Sabemos que, se não fizermos nada, até 2060, triplicaremos a produção de plástico e, portanto, triplicaremos os resíduos plásticos que nos submergirão", disse Pannier-Runacher.
Atualmente, apenas 9,5% do plástico produzido a cada ano é feito de materiais reciclados. O restante (mais de 90%) é produzido a partir de petróleo e de gás.
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