09 Junho 2025
Especialistas de mais de cem países estão em Nice, na França, para definir ações prioritárias até 2030 para melhorar a saúde do oceano
O artigo é de Germana Barata, publicado por ((o))eco, 06-06-2025.
Germana Barata é bióloga de formação, mestre e doutora em história social, jornalista de ciência e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Mais de dois mil cientistas de 100 países se reúnem em Nice, na França, entre 3 e 6 de junho, para compartilhar evidências científicas que apoiem ações e políticas em prol da saúde do oceano. O primeiro Congresso One Ocean Science (OOS), organizado pelas Nações Unidas, tem o desafio de debater questões estratégicas que impactam a saúde do oceano e colocam a humanidade em risco. “Nossa missão é clara: precisamos fornecer informação científica para apoiar ações políticas”, diz Frédéric Gazeau, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França, na abertura do evento.
A acidificação e o aumento da temperatura das águas oceânicas, o esgotamento dos estoques pesqueiros, a poluição por plásticos, o branqueamento dos corais e a extinção em massa de espécies estão entre as emergências planetárias que ameaçam a humanidade e que precisam ser mitigadas até 2030.
“Fala-se sobre a necessidade de usar a ciência para informar políticas, mas temos um desafio ainda maior que é influenciar as políticas. Mas em tempos em que a ciência está sob pressão, temos que atingir partes da sociedade com as quais ainda não colaboramos”, enfatizou Vidar Helgesen, Secretário executivo da Comissão Oceanográfica Intergovernamental (IOC) da Unesco, durante a abertura do evento.
Entre as ações prioritárias estão o diálogo e o acesso público a informações científicas, o pacto de nações para ações coordenadas e coletivas, além do aumento de áreas de proteção do oceano, que hoje somam menos de 8% em todo o mundo, considerando diferentes níveis de proteção. “Precisamos ter entre 30 a 50% do oceano protegido até 2030”, ressaltou Michelle Bender, da empresa Ocean Vision Legal, especializada em direitos do oceano.
Dia 8 de junho, o mundo se dedica a celebrar e a refletir sobre sua relação com o oceano. Durante a ocasião é esperado que os países se comprometam a estabelecer pactos e definir estratégias de ações que possam evitar os chamados pontos de não retorno, com a consequente piora na qualidade de vida no planeta. John Bell, diretor na divisão “Planeta Saudável” da Comissão Europeia, informou que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lançará no próximo domingo (8) um novo Pacto pelo Oceano para a União Europeia, relevante não apenas em função das urgências que o planeta enfrenta, mas também pelos ataques que a ciência tem sofrido globalmente. Bell se solidarizou com os cientistas que estão sendo atacados ao redor do mundo. “A ciência deve construir pontes, não muros”, lembrou.
A delegação brasileira que está presente no OOS crescerá ainda mais na próxima semana, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará do primeiro dia de debates, na segunda (09). A expectativa é que a comunidade de ciências oceânicas também consiga influenciar e marcar as decisões durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a chamada COP30, em Belém.
A importância da informação científica para impactar e orientar políticas é, de longe, o desafio mais presente nos debates da OOS. Ficou claro que a comunidade científica já possui as descobertas e os resultados capazes de reverter a maior parte dos problemas que afetam o oceano. No entanto, sem vontade política, eles são insuficientes. Talvez por isso, o congresso científico antecede a grande conferência do Oceano da ONU, que ocorrerá na semana que vem, com a presença de chefes de Estado, autoridades, representantes de ONGs, lideranças de povos originários e representantes da sociedade civil.