20 Mai 2025
O reitor do Angelicum, a universidade onde o pontífice se formou: “No texto que escreveu para seu doutorado, Leão XIV indicou o uso correto da autoridade. Uma encíclica sobre inteligência artificial? Ele provavelmente a fará”.
Sobre a mesa do padre Thomas Joseph White, de 54 anos, estadunidense da Geórgia e reitor do Angelicum, a universidade pontifícia onde estudaram Leão XIV e São João Paulo II, entre os vários livros, há um que imediatamente chama a atenção. É de 1987 e é a tese de doutorado em direito canônico de Robert Prevost com a qual ele explorava o conceito de exercício do poder na Igreja.
A entrevista com Thomas Joseph White é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 16-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Prevost fez seu doutorado aqui...
Estou lendo sua tese justamente nestes últimos dias. Na época, lecionava um canonista espanhol, um dos maiores especialistas no assunto e um dos autores da revisão do Código de Direito Canônico. Praticamente, o Papa trabalhou sob a orientação do maior especialista da época.
Qual é o título?
"O papel e a autoridade do prior na ordem de Santo Agostinho". É um ensaio sobre o equilíbrio entre a autoridade do superior em relação àquela dos coirmãos, todos sob uma única Regra de vida, aquela elaborada por Santo Agostinho (que, aliás, nós, dominicanos, também adotamos).
Então, já naquela época, ele estudava a grande questão de como governar sem arbítrio?
Circunscreve a obediência autêntica na Igreja, mas sempre em referência à fé, à ética, à natureza da pessoa humana e à sua dignidade. Debruça-se bastante sobre o conceito de colaboração autêntica para buscar juntos o bem comum. Na prática, fala do uso correto da autoridade a serviço da unidade.
Um tema que ainda é atual hoje...
Acredito não ser coincidência que, por dois mandatos (algo raro), tenha sido eleito superior-geral da ordem agostiniana, depois bispo no Peru, cardeal à frente do dicastério dos bispos. Agora ele se tornou Papa. Já então, analisava o conceito de autoridade para projetá-lo ao serviço de todos. Incrível, não é?
O Direito Canônico, portanto, retorna ao centro, enquanto no pontificado de Francisco havia sido posto um pouco de lado...
O Direito Canônico é a maneira da Igreja respeitar e enfatizar os direitos das pessoas. A Igreja vem de Cristo e é uma instituição divina, mas ao mesmo tempo é uma realidade humana, com pessoas que podem cometer erros, portanto, há necessidade de uma lei que possa garantir, por um lado, a proteção das pessoas e, por outro, a proteção dos bens sobrenaturais da Igreja.
O que o Angelicum, com todo o seu acervo intelectual, pode oferecer a esse Papa?
Como instituição pontifícia, estamos a seu serviço, como todas as outras universidades. É claro que, como dominicanos, temos um vínculo estreito com os agostinianos. Temos a mesma Regra e uma espiritualidade, não idêntica, mas semelhante. São Tomás é o intérprete por excelência de Santo Agostinho a partir da Idade Média. Disso já podemos pensar que, se o atual papado quiser se inspirar no caminho de Santo Agostinho, a própria tradição tomista é efetivamente um recurso potencial, mesmo que ainda não saibamos quais são os desejos e os planos do Papa. O pontificado apenas começou.
O Angelicum tem uma faculdade de ciências sociais e há tempo vem investigando as implicações éticas e morais da IA ...
É verdade, estudamos a interpretação da doutrina social no mundo contemporâneo em relação às teorias econômicas e à filosofia jurídica. Pouco antes da eleição de Leão XIV, houve um grande encontro interfaculdades sobre esse tema. O campo é vasto e precisa ser explorado: sabemos que os cenários impactarão as futuras condições de trabalho. A questão que deve ser colocada é como respeitar a dignidade humana do trabalho com a introdução dessas tecnologias. Refletimos sobre como a IA possa ser útil ao homem, mas não como algo equivalente. Seu uso poderia até mesmo não elevar o homem, mas explorá-lo de acordo com as dinâmicas do mercado. Poderia haver o risco de uma desumanização da cultura. Podemos imaginar um mundo onde delegamos tudo às máquinas? E onde iriam parar a arte, a espiritualidade, a criatividade, a imaginação ou a sabedoria? Toda a sabedoria pode ser canalizada para um computador ou um androide? Existe o perigo disso?
Consegue imaginar uma encíclica de Prevost sobre esse tema?
Tendo adotado o nome de Leão e conhecendo a sua sensibilidade aos desafios em curso, poderia haver. Claro, essas são apenas hipóteses. No contexto da ética contemporânea, é provável que o novo pontificado queira sublinhar a importância dos direitos da pessoa humana em relação aos critérios reais de progresso. Santo Tomás de Aquino disse uma bela frase: a pessoa é a coisa mais perfeita em toda a natureza, e isso permanece no centro do pensamento católico, do humanismo. Imagino que se queira sublinhar esse ensinamento tão central para a doutrina social.
O senhor conhece o novo Papa?
Terei oportunidade de conhecê-lo. Nós o tínhamos convidado para o Angelicum e ele deveria vir nos visitar justamente nestes dias. Entretanto, nesse interim, foi eleito. Mais tarde, tentaremos marcar outro encontro, se ele quiser.