22 Mai 2025
Banco espanhol investiu milhões em grupo acusado de desmatar florestas na Argentina, Brasil, Paraguai e Bolívia, mostra a Global Witness.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 19-05-2025.
É greenwashing que chama? Mesmo adotando políticas antidesmatamento em 2018 e metas de emissões líquidas zero em 2021, o banco espanhol Santander, o 14º maior do mundo, não viu problemas em financiar o grupo de agronegócio e imobiliário argentino Cresud e sua subsidiária brasileira BrasilAgro, acusados de desmatarem cerca de 170 mil hectares, uma área maior que a cidade de São Paulo, desde 2001, inclusive no Cerrado.
É o que mostrou um relatório da Global Witness divulgado na semana passada.
Junto com outras instituições financeiras, o Santander destinou um total de US$ 1,3 bilhão em financiamentos para o Cresud desde 2011. Além de ser um dos maiores financiadores do grupo, o banco espanhol é seu acionista, com quase 35% de suas ações, destacaram Deutsche Welle, Forbes e Guardian.
A região mais atingida pela atividade do Cresud e da BrasilAgro foi o Gran Chaco, vasta planície de vegetação tropical seca que se estende por Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil. Parte do Cerrado brasileiro – o bioma brasileiro mais devastado em 2024, como mostrou o MapBiomas – também foi afetada. Essas florestas estão entre as mais biodiversas e ricas em carbono do mundo e abrigam vários Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais.
“O total de US$ 1,3 bilhão foi subscrito em conjunto pelo Santander com diversos bancos argentinos e internacionais, com o Santander frequentemente assumindo o papel de subscritor líder”, diz o relatório. “Grupos bancários coliderados pelo Santander ajudaram a subscrever mais de três quartos dos títulos emitidos pela empresa desde 2011, e o banco concedeu mais de US$ 50 milhões em empréstimos diretamente ao Cresud”.
De acordo com a Global Witness, o Santander é o principal subscritor de 35 dos 47 títulos emitidos pelo grupo desde 2002. Além disso, os consórcios coliderados pelo banco espanhol respondem por mais de 90% do valor total em dólares dos títulos emitidos pela empresa.
O relatório mostrou que o apoio do Santander foi fundamental para acelerar a expansão geográfica e financeira do Cresud. De 2010 a 2024, a receita do grupo cresceu 28 vezes, chegando a US$ 1,4 bilhão. A gigante do agronegócio chegou a receber certificações de sustentabilidade para duas de suas fazendas, o que facilita e barateia o financiamento para produção de soja e milho.
“O modelo de negócios consiste em encontrar áreas, comprá-las a baixo custo, desmatá-las e depois vendê-las. O Chaco é considerado terra improdutiva a ser convertida em terra produtiva, em oposição a um ecossistema vital e também lar de grandes quantidades de Povos Indígenas a serem defendidos”, explicou Charlie Hammans, autor do relatório.
O caso do Santander não é isolado. Uma investigação do Greenpeace divulgada em dezembro do ano passado revelou diversos empréstimos e concessão de crédito feitos por bancos e investidores, incluindo a instituição espanhola, a fazendas com ocorrência de desmatamento e outros delitos ambientais.
“O Chaco está em perigo de extinção. Estamos testemunhando um ecocídio”, diz Sergio Rojas, do Povo Indígena Qom, da Argentina. “Isso precisa parar agora, porque, do contrário, não sobrará nada. Ninguém está fazendo nada – nem o Estado, nem a Justiça; apenas as Comunidades Indígenas. Isso afeta diretamente nossa realidade cotidiana e nossas necessidades de sobrevivência”, desabafou.
Entidades protocolaram uma nova petição no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender qualquer tentativa do governo de avançar com o projeto da Ferrogrão enquanto o ministro Alexandre de Moraes não levar a julgamento a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) sobre o caso. O documento foi submetido pelo PSOL e pelo Instituto Kabu à corte no momento em que a ferrovia é apresentada oficialmente a investidores estrangeiros como uma das apostas de novos projetos estruturantes no setor, destacou o Valor. A Ferrogrão é uma ferrovia de quase 1.000 km que pretende ligar Sinop (MT) a Miritituba (PA). Seu principal objetivo é escoar a produção agrícola do Centro-Oeste, majoritariamente da soja, mas o projeto ameaça áreas de Floresta Amazônica e também Povos Indígenas.