01 Mai 2025
O poema a seguir é de Célio Turino, historiador e escritor, caminha por aí, semeando as ideias da cultura viva e do bem-viver, enviado pelo autor ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Tulipa Amarela
(ou Subway in New York)
Nos vagões do metrô de Nova Iorque
a tristeza é companheira constante,
rostos fechados, olhos baixos,
gente cansada,
desoladamente só.
Pessoas solitárias,
a vida passando naquele túnel;
terá alguém a lhes esperar?
A sociedade capitalista em decadência,
medo, desesperança, desilusão,
um futuro sem futuro,
uma busca sem propósito.
E o trem subterrâneo
se perde na névoa da incerteza.
Palco vazio, sem atores,
só uma multidão sendo movida
entre vagões,
cada qual em seu próprio labirinto
sem compreender (sequer saber)
quem move os cordões.
Um amontoado de gente absorto nas cadeiras,
segurando-se nos canos
do metrô em movimento,
chacoalhando,
dormitando,
outro tanto
com a vista e os dedos no celular.
Entre a gente cansada,
uma tulipa amarela,
uma única flor
de beleza e pureza,
simplicidade em talo esbelto
a sustentar forma e cor.
Um passageiro segura o ramo
enquanto dorme
no trem desolador,
a cabeça chacoalhando,
as mãos segurando a flor,
uma só.
Símbolo de paz, amor,
tranquilidade
que se apresenta
no vagão dos desolados.
A tulipa amarela é contraste,
uma só flor,
solitária
como a dor dos passageiros,
luminosa entre a penumbra,
limpa entre a sujeira.
Mesmo na tristeza
há sempre uma beleza,
mesmo no desânimo
há sempre uma esperança.
O vagão, por um momento,
se ilumina.
Para as mãos de quem chegará aquela tulipa?
Que penumbra irá iluminar?
Que sorriso irá acender?
Por um instante vi Frank
a tentar escalar o topo da colina
com seus sapatos vagabundos.
- Vai Frank!
Você consegue,
conseguiu sair daquela cidadezinha triste,
já chegou até aqui.
- Vai Frank, você consegue,
cantaram Liza Minelli e Sinatra,
e tantos mais.
Você está em Nova Iorque,
seja o rei do pedaço,
entregue aquela tulipa amarela
e faça o mundo sorrir.
O trem para na estação,
desço.
Segue o comboio triste.
New York, New York...
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