10 Abril 2025
"Como nação, estamos em um território desconhecido. Como Igreja, nossa estrela-guia é o Evangelho, que nos convoca a proteger migrantes e refugiados. A Conferência dos Bispos dos EUA certamente pode se mobilizar para fazer mais para cumprir esse chamado do Evangelho", escreve Michael Sean Winters, jornalista e escritor, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 09-04-2025.
A Conferência dos Bispos Católicos dos EUA anunciou na segunda-feira, 7 de abril, "sua decisão de não renovar os acordos de cooperação com o governo federal relacionados aos serviços para crianças e apoio a refugiados". A decisão foi tomada após o governo do presidente Donald Trump suspender os contratos de reassentamento de refugiados.
Dom Timothy Broglio publicou um artigo de opinião no Washington Post explicando a "decisão dolorosa". Ele relembrou as décadas de colaboração entre a conferência episcopal e o governo federal e afirmou que a conferência não abandonaria aqueles a quem o governo deu as costas.
"Quero deixar claro que esta decisão de encerrar nossa agência de reassentamento não significa abrir mão da ajuda aos refugiados e a outros", disse Broglio, presidente da Conferência Episcopal e chefe da Arquidiocese para os Serviços Militares. "Juntem-se a nós em oração pela graça de Deus, para que possamos ainda encontrar maneiras generosas de responder às crises e levar esperança onde ela é mais necessária".
Os problemas orçamentários na conferência são reais. Ninguém esperava que as mudanças políticas do novo governo fossem tão draconianas ou tão imediatas. Ainda assim, não se pode deixar de sentir que os bispos não se esforçaram muito, não é mesmo?
Quando o governo Obama decidiu, erroneamente, não conceder isenções suficientes para grupos religiosos à obrigatoriedade da contracepção, o caos se instalou na conferência. Quando o presidente Barack Obama ofereceu um acordo, os bispos o recusaram. A conferência então lançou uma "Quinzena pela Liberdade" com encartes distribuídos em todo o país. Os bispos criaram uma comissão especial sobre liberdade religiosa e arrecadaram fundos para financiar seu trabalho.
Agora? Um artigo de opinião no Washington Post. Foi um artigo sem uma palavra de crítica específica às políticas do governo Trump que tornaram esses cortes necessários?
Não houve nenhuma consideração em se reunir com filantropos católicos para manter pelo menos parte do trabalho em andamento? Houve alguma discussão sobre a realização de uma segunda coleta emergencial, como fazemos quando ocorre algum desastre? Os bispos estavam programados para os talk shows de domingo para defender a manutenção dos contratos governamentais com grupos religiosos para ajudar essas pessoas desesperadas?
Entendo que a Conferência está com falta de verbas. Será que também está com falta de imaginação?
O anúncio foi especialmente doloroso porque ocorreu no momento em que surgia um rosto humano para a crueldade do governo Trump contra os migrantes: Kilmar Ábrego García. Ele é o jovem que, segundo o próprio governo, foi deportado por engano para El Salvador para ser detido no Centro de Confinamento de Terroristas daquele país, uma prisão infernal que abriga detentos em condições deploráveis.
Ábrego García nunca foi condenado por nenhum crime. Ele tinha uma autorização de trabalho. É casado com uma cidadã americana, que afirma ter um filho deficiente de 5 anos. O governo alega que ele é membro de uma gangue, o que seus advogados negam. Em 2019, um tribunal concluiu que ele não era membro de uma gangue e proibiu sua deportação.
Temos tribunais neste país para decidir se alguém é ou não membro de uma gangue criminosa. A alegação do governo de que não tem mais jurisdição no caso é ridícula. Um telefonema do secretário de Estado Marco Rubio e de Ábrego García seria libertado e devolvido à família.
O fato de o governo poder prender alguém na rua sem um mandado é precisamente o tipo de tática semelhante à Gestapo que diferencia países civilizados que respeitam o Estado de Direito de regimes totalitários que atropelam os direitos das pessoas.
O presidente do Supremo Tribunal, John Roberts, suspendeu uma ordem judicial inferior que exigia que o governo trouxesse Ábrego García de volta até a meia-noite de segunda-feira. Os partidários de Trump não devem estourar o champanhe ainda. Na última vez em que a Suprema Corte emitiu uma suspensão de uma ordem judicial inferior enquanto analisava o desembolso de fundos de ajuda externa, Roberts e a juíza Amy Coney Barrett apoiaram os três juízes progressistas do tribunal para forçar o governo a pagar os contratados de ajuda externa que haviam sido prejudicados por Trump.
A Suprema Corte também revogou uma ordem judicial que proibia deportações emitida por um juiz federal em Washington, DC, mas insistiu que os detidos têm o direito de entrar com um pedido de habeas corpus contestando sua detenção. Como o juiz Brett Kavanaugh deixou claro em seu voto concordante: "A discordância da Corte não se refere à possibilidade de os detidos receberem revisão judicial de suas transferências – todos os nove membros da Corte concordam que a revisão judicial está disponível. A única questão é onde essa revisão judicial deve ocorrer".
Como nação, estamos em um território desconhecido. Como Igreja, nossa estrela-guia é o Evangelho, que nos convoca a proteger migrantes e refugiados. A Conferência dos Bispos dos EUA certamente pode se mobilizar para fazer mais para cumprir esse chamado do Evangelho.