25 Março 2025
Homens contestados e processados, à margem das relações sociais e familiares. Mas homens que também decidiram construir uma identidade nova, mais apresentável e interessante. O traço poderia ser representado por aquela antropologia cristã que, sobre o assunto, oferece àqueles que vão buscá-los, modelos inesperados, precisamente porque são inspirados pela imagem masculina de Jesus nos Evangelhos. Essa é a longa viagem em busca do homem, do pai, do marido, apresentada por Riccardo Mensuali em seu livro Pieno di grazia. La sfida cristiana per il maschio del nostro tempo (Cheio de graça. O desafio cristão para o homem do nosso tempo, em tradução livre, San Paolo, pp. 192, euro 18).
Pieno di grazia. La sfida cristiana per il maschio del nostro tempo, de Riccardo Mensuali (Foto: Divulgação)
As cotações da paternidade nunca foram tão baixas, mas as estatísticas nos dizem que os garotos - mais do que as garotas - dizem que gostariam de ter muitos filhos, um desejo que, na maioria dos casos, não é realizado. Por que essa contradição? Poderíamos dizer, banalmente, que os garotos têm menos consciência de quanto “custa” uma maternidade. Mas, pelo contrário, acredito que no coração de um jovem existe um desejo real de se realizar também a partir da paternidade, por um serviço que necessariamente nos obriga a ser mais gentis, mais atentos e pacientes, mais comprometidos com o cuidado. Como se muitos jovens sentissem que o antídoto para a violência, os modos rudes e a dureza é ser pai de uma criança. É um pouco como o que Lucio Corsi cantou em Sanremo: Eu não nasci com a cara de mau. Também tenho medo do escuro.
A entrevista é de Luciano Moia, publicada por Avvenire, 19-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O homem, programado por séculos de vida social para usar a palavra em público, na vida familiar escolhe muitas vezes o mutismo ou, no máximo, os monossílabos. Por que aprender a expressar emoções e sentimentos por meio da palavra pode ser uma forma privilegiada de aumentar a qualidade das relações?
A baixa loquacidade dos homens nos relacionamentos é quase proverbial, como se devêssemos gastar as nossas energias somente na frente de um grande público. Mas até isso está começando a se tornar um estereótipo ultrapassado. Hoje em dia, nos cursos de noivos, se fala muito, inclusive sobre si mesmo, e até mesmo os futuros maridos o fazem de bom grado. Para nós, cristãos, filhos da Palavra, essa é uma grande oportunidade. Dar as palavras certas às emoções, descrever com sobriedade e sabedoria o que se sente, não é apenas para o divã de um psicólogo. É coisa de verdadeiro homem. Rico em interioridade.
Alguns sugeriram que a crise do homem nas últimas décadas tem andado de mãos dadas com o crescimento das responsabilidades e dos papéis das mulheres, como se a igualdade fosse o maior problema do homem. Uma meta, no fundo, percebida como inaceitável. Quanto há de verdade nessa posição?
É preciso ter cuidado com a forma de falar. Porque é fácil dizer que o homem não aceita de bom grado a emancipação, tem dificuldade, então a culpa é das mulheres. Alguns não apenas pensam isso, mas também o dizem. Eu diria, mais precisamente, que há muitos homens atrasados, despreparados para o novo mundo, mais feminino, em que prevalecem a força do intelecto, a empatia, a grande riqueza de capacidades relacionais. Nessa nova e boa “competição”, é preciso treinar. Se o homem ficar para trás, a culpa é dele. Assim como reagir com a violência instintiva e descontrolada do frustrado.
Muito interessante, entre as muitas reflexões que o senhor propõe, aquela sobre a paternidade na idade avançada, a dos grandes idosos que muitas vezes têm filhos perto da aposentadoria. No entanto, é uma questão de valorizar seu papel e respeitar a história por trás de cada um deles. Como conseguir?
Muitas vezes não se pensa muito em como não é fácil envelhecer bem, com serenidade e ser bons pais, mesmo aos 80 ou 90 anos. Considera-se como certo que tudo é espontâneo. Mas não é assim. Também se aprende a envelhecer. O espírito cristão propõe que sejamos sempre filhos e discípulos do Mestre. Preparar-se bem e com cuidado para deixar este mundo e entrar na vida eterna pode ser um testemunho importante para os filhos já bem adultos, que certamente se lembrarão de como seu pai partiu.
Por que considera que o modelo masculino, de homem, de marido oferecido pela antropologia cristã pode representar uma maneira viável e desejável de “viver como homens”, fora de todas as contradições e clichês?
Simplesmente porque nós, homens, poderíamos, com alguma astúcia, quase “tirar proveito” do fato de que já temos um verdadeiro modelo de homem na figura de Jesus, conforme emerge dos Evangelhos. Sabemos que ele não era casado nem tinha filhos, mas quem mais do que ele é mestre do amor, mestre privilegiado de relações humanas? Ele sabia como se aproximar de uma mulher e de um homem, sabia como falar ou escutar de acordo com o momento, ficar com raiva ou ser um homem doce e diferente de todos quando necessário. Ele sabia como resolver rápido, mas também como parar. Soube ser pai para os Apóstolos, delegando-lhes poderes e responsabilidades, fazendo-os enfrentar seus limites para que os superassem. E quando todos queriam que ele ficasse, ele partiu para agir por meio deles, ou seja, por meio de nós e da Igreja. Não vejo um modelo masculino mais eficaz e atraente no mundo. Um homem que conquista.