14 Março 2025
A entrevista é de Roberto Cetera, publicada por Religión Digital, 12-03-2025.
O cardeal Jean Claude Hollerich é arcebispo de Luxemburgo e membro do Conselho dos Cardeais (C9), tendo sido presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (COMECE) por vários anos, e ainda vice-presidente das Conferências Episcopais Europeias, é um grande conhecedor da dinâmica política europeia.
Vossa Eminência, como avalia o programa de rearmamento da Europa aprovado nos últimos dias?
Antes de qualquer consideração política, devemos refletir sobre a queda da tensão moral que parece invadir os governantes de grande parte do mundo. Esse tabu da guerra que influenciou as orientações políticas após a tragédia da Segunda Guerra Mundial parece ter esgotado seu curso. Sem a recuperação dessa tensão moral, não há políticas que possam ser sustentadas, e o mundo corre o risco de deslizar por uma ladeira perigosa.
Uma questão moral, sem dúvida, mas ofuscada por grandes mudanças políticas...
Por outro lado, acredito que o mundo só pode voltar a viver em paz dentro de um quadro de multilateralismo. O Papa Francisco insiste muito, com razão, na importância do multilateralismo; de facto, atrevo-me a dizer que é a pedra angular sobre a qual a Santa Sé baseia a sua presença político-diplomática.
Enquanto isso, a Europa também está se rearmando, com um programa de 800 bilhões de euros. Mas, na opinião de Vossa Eminência, a Europa está realmente em perigo estratégico?
A anunciada retirada militar gradual dos EUA assusta esses países. Penso que, embora seja necessário um reforço militar da União Europeia, este deve ser de natureza defensiva obrigatória. E isso também deve decorrer dos tipos de armas que podem ser adotadas.
O novo curso americano está por trás desse desejo de fortalecer as defesas europeias?
Como podem ver, mesmo para a Europa, o multilateralismo foi a opção política decisiva e partilhada. Do outro lado do Atlântico, esse horizonte parece ter desaparecido. Se a Europa, para além da capacidade de se defender de forma autónoma, for também capaz de recuperar uma subjetividade política – um pouco manchada – estará a prestar um serviço não só a si própria, mas a todo o mundo, desempenhando um papel multilateral de fato. Acrescentaria que a Europa também faria bem em tornar-se autónoma em termos de produção militar, que continua fortemente dependente dos Estados Unidos. Uma dependência que o torna vulnerável.
Acha que um investimento militar tão maciço ainda é chocante, enquanto na Europa o estado de bem-estar social parece ranger? Muitos objetam: a saúde, a educação, a segurança social e a segurança social estão em crise em todo o lado e gastamos oitocentos mil milhões em armas?
Não devemos nos enriquecer com armas, com lucros, vamos fazer hospitais e escolas. Trata-se de uma proposta imediatamente exequível, que tenciono transmitir ao Embaixador da União Europeia junto da Santa Sé, com quem tenciono encontrar-me nos próximos dias.