28 Fevereiro 2025
"Os senhores europeus tiveram o bom gosto de não mencionar ouro, diamantes, marfim, petróleo, borracha, estanho, cacau, café e nem mesmo o óleo de palma; proibiram que a escravidão fosse chamada pelo nome; chamaram as empresas que forneciam carne humana ao mercado mundial de 'sociedades filantrópicas'; avisaram que estavam agindo com o desejo de 'promover o desenvolvimento do comércio e da civilização'", escreve Tonio Dell'Olio, padre italiano, jornalista e presidente da associação Pro Civitate Christiana, em artigo publicado por Mosaico di Pace, 26-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
No fim do século XIX, as potências coloniais europeias se reuniram em Berlim para dividir a África entre si. Foi uma luta longa e difícil pelos espólios coloniais, as florestas, os rios, as montanhas, o solo, o subsolo, até que as novas fronteiras foram traçadas e, neste dia, em 1885, foi assinado o Ato Geral, “em nome de Deus, o Todo-Poderoso”.
Os senhores europeus tiveram o bom gosto de não mencionar ouro, diamantes, marfim, petróleo, borracha, estanho, cacau, café e nem mesmo o óleo de palma; proibiram que a escravidão fosse chamada pelo nome; chamaram as empresas que forneciam carne humana ao mercado mundial de “sociedades filantrópicas”; avisaram que estavam agindo com o desejo de “promover o desenvolvimento do comércio e da civilização” e, se houvesse alguma dúvida, deixaram claro que estavam agindo impelidos pela preocupação em “favorecer o desenvolvimento do comércio e da Civilização” e, caso houvesse alguma dúvida, esclareceram que agiam preocupados em “aumentar o bem-estar moral e material das populações indígenas”.
Assim, a Europa inventou a nova geografia da África.
Não havia nenhum africano, nem mesmo por acidente, naquela cúpula.
(de Eduardo Galeano, I figli dei giorni, Sperling & Kupfer, p. 68).