22 Fevereiro 2025
Hoje, com Francisco, como ao longo dos séculos, “quando um papa enfrenta uma doença, seu testemunho se torna um lembrete da força da fé diante das dificuldades da vida, um exemplo de resiliência espiritual”. Palavras do historiador Franco Cardini.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 19-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na história da Igreja, a enfermidade de um papa levantou questionamentos teológicos?
A patologia é interpretada pela teologia católica como uma experiência que pode fortalecer o vínculo com Deus. Isso também é verdade para os pontífices: seus sofrimentos físicos podem ser vistos como uma forma de compartilhar os sofrimentos de Cristo.
Vários papas foram marcados por problemas de saúde. Além de São João Paulo II, em qual deles pensa primeiro?
Pio II, Aeneas Silvius Piccolomini, papa de 1458 a 1464. Ele sofria de podagra, uma inflamação dolorosa dos membros inferiores, provavelmente relacionada a uma forma grave de diabetes. Apesar de sua doença, continuou a governar a Igreja e a escrever, deixando um importante testemunho em seus ‘Commentarii’.
Como a medicina à disposição dos papas mudou ao longo dos séculos?
A partir da Idade Média, o papado se cercou de arqueatras pontifícios especializados. E a corte papal também se equipou com uma extensa farmácia.
Poderia citar um arqueatra?
Um dos mais conhecidos foi Francesco Petacci, médico pessoal de Pio XI. Ele era o pai de Claretta Petacci, a amante de Mussolini. Petacci era um médico muito experiente. Há um episódio curioso sobre ele: circulou um boato - nunca provado - de que estivesse envolvido na morte do Papa Ratti. O médico supostamente teria administrado ao pontífice uma dose letal de medicamentos para impedi-lo de proferir um discurso crítico ao regime fascista. Mas não existem provas concretas a apoiar essa tese.
Os papas e o medo da doença: como é a relação?
Os médicos eram encarregados não apenas de curar o pontífice, mas também de protegê-lo de um possível envenenamento, o outro grande temor entre os papas do passado. A relação entre os pontífices e a doença evoluiu com o tempo, mas a ideia básica permanece: o sofrimento é uma provação que pode ser vivenciada à luz da fé.
Ratzinger abriu o caminho para a possibilidade de renunciar ao papado em caso de fragilidade. Nesse sentido, como enxerga Francisco?
Bento XVI tomou a decisão histórica por causa de sua idade avançada e do declínio de sua força física e mental. Francisco disse repetidamente que a renúncia de um pontífice é uma possibilidade. No entanto, ele sempre deixou claro que não tem intenção de renunciar.