12 Fevereiro 2025
Análise de 18 mil poços revelou que 55,4% estão abaixo do nível dos riachos, indicando infiltração e risco de redução no fluxo dos rios.
A informação é publicada por ClimaInfo, 11-02-2025.
A abundância de recursos hídricos no Brasil, apontada como uma das vantagens naturais do país, está sob ameaça. Além das mudanças climáticas – causadas principalmente pela queima de combustíveis fósseis – que vêm alterando regimes pluviométricos em todo o mundo, a exploração excessiva de águas subterrâneas está “secando” rios em todo o território nacional.
É o que mostra um estudo de cientistas da USP e de outras universidades publicado na Nature Communications. Segundo a pesquisa, mais da metade dos rios brasileiros apresenta risco de redução de fluxo devido à percolação da água (movimento descendente da água no interior do solo) em direção aos aquíferos subterrâneos.
A constatação resultou da análise de 17.972 poços em todo o território nacional. Destes, 55,4% apresentaram níveis de água abaixo da superfície dos rios mais próximos, informam Folha, O Globo, Gigante 163 e ((o))eco. Essa perda de água para o subsolo pode comprometer a vazão dos cursos d’água e afetar tanto o abastecimento humano quanto os ecossistemas aquáticos.
“Devido a condições climáticas e à intensa atividade agrícola, são áreas especialmente críticas a bacia do rio São Francisco e a região do Matopiba [que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia], ambas muito dependentes de águas subterrâneas para irrigação e abastecimento humano”, explicou Paulo Tarso Sanches de Oliveira, segundo autor do estudo, professor de hidrologia e recursos hídricos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e da USP.
No caso da bacia do São Francisco, 61% dos rios analisados mostraram potencial de perda de fluxo de água para o aquífero, resultado atribuído ao uso intensivo de águas subterrâneas principalmente para a irrigação. A situação é ainda pior na bacia do rio Verde Grande, um afluente do São Francisco, que se estende pelo norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia. Neste caso, o potencial de perda de fluxo chega a afetar 74% dos curso d’água.
Um forte fator de impacto é a perfuração indiscriminada de poços, para irrigação agrícola ou consumo privado. Estudo publicado em 2021 mostrou que existiam naquela data cerca de 2,5 milhões de poços tubulares no Brasil e que mais de 88% deles eram ilegais, sem licença ou registro para bombeamento. O volume de água bombeada, da ordem de 17,6 bilhões de metros cúbicos por ano, seria suficiente para atender toda a população brasileira, mas era usufruído por menos de 20% da população.
Em tempo: Em Minas Gerais, a inadimplência de grandes consumidores de água prejudica o funcionamento de comitês de bacia e programas de recuperação ambiental. Dos quase R$ 160 milhões devidos aos órgãos de proteção de bacias e a projetos por eles indicados em 2024, mais de R$ 70 milhões não foram honrados até o momento, uma inadimplência de 44 %, mostra uma levantamento do Estado de Minas junto ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Há casos como os de captações municipais de água não pagas por cidades que ainda poluem os mananciais com esgoto, como em Caeté, na Grande BH.