13 Janeiro 2025
O artigo é de Joseba Kamiruaga Mieza, missionário e sacerdote claretiano, publicado por Religión Digital, 11-01-2025.
Acabei de ver “Conclave”, filme de Edward Berger, baseado – com algumas variações na trama – no romance homônimo de Thomas Harris. Uma premissa puramente estética: é melhor evitar ver este filme sem se arrepender muito. O espectador apreciador de urbanismo e arquitetura vai se divertir, porém, observando, por exemplo, como a colunata do Museu EUR da Civilização Romana foi utilizada para “substituir” a colunata de Gian Lorenzo Bernini na Praça São Pedro.
À sua maneira, porém, “Conclave” desvia-se um pouco do gênero de conspiração que, como em “Os Subterrâneos do Vaticano” de André Gide ou “Anjos e Demônios” de Dan Brown, faz da Cúria Romana uma mera fossa de feiúra e vilania. Não é que a maioria dos cardeais em conclave, chamados a eleger um novo Papa após a morte inesperada do anterior, se comportem bem no decorrer da história; no centro da história estão verdades não ditas, conspirações e desejo de poder.
Perto do fim, porém, a abertura de uma brecha no teto da Capela Sistina e o sopro do vento que nela penetra parecem sugerir a possibilidade de um novo começo, para além dos pecados e mesquinharias de seus representantes, para a instituição Igreja.
A derrota do reacionário Goffredo Tedesco, interpretado num tom tão exagerado que o personagem chega a ser quase simpático, e a eleição com o nome de Inocêncio XIV do arcebispo de Cabul, o cardeal Vincent Benítez (por assim dizer, nascido e criado com uma peculiaridade anatômica) permitem, com efeito, alimentar a esperança do advento de uma Igreja mais "liberal", termo que é frequentemente repetido no filme.
Um momento antes da votação decisiva, o Cardeal Vincent Benítez respondeu assim a um discurso de Goffredo Tedesco sobre a necessidade de uma nova cruzada contra o Islã: “Quando você diz que devemos lutar, contra quem devemos fazê-lo? A luta está dentro de nós. A Igreja não é tradição, não é passado. A Igreja é o que faremos a partir de agora”.
Pode-se certamente partilhar a esperança de que a Igreja Católica, resistindo ao desejo nostálgico de restaurar um regime passado do cristianismo, adoptará resolutamente uma atitude de diálogo com o mundo contemporâneo (e para isso um homem santo como o Cardeal Vincent Benítez-Inocêncio XIV seria muito mais adequado e funcional do que um novo Torquemada alemão).
Iniciar um diálogo, porém, pressupõe que cada um dos interlocutores tenha – ou pelo menos acredite ter – algo a dizer, uma contribuição a dar. Com efeito, o que uma Igreja completamente “inocente” teria para comunicar aos homens e mulheres do nosso tempo? Porque a tolerância, a rejeição da violência, o sentido de solidariedade para com os sujeitos mais frágeis, ..., são atitudes típicas e louváveis, mas não exclusivas de nós que nos dizemos cristãos.
Neste sentido, há quem também aponte como uma espécie de ‘assimetria’, no mundo católico, entre o compromisso prático com a solidariedade e a capacidade de “pensar a fé”, dando razões de esperança, no sentido teológico.
Há também o risco de, ao privilegiarmos sempre a dimensão da práxis, acabarmos por fazer uso ideológico da própria categoria de “testemunha”. Ao separar as testemunhas dos senhores, continuando a exaltar a concretude das primeiras e a denunciar a abstração dos segundos, as próprias testemunhas tornaram-se mudas e irreconhecíveis: mesmo quando estão presentes, parece que ninguém as nota; você pode ouvi-los, mas parece que ninguém mais fala sobre eles porque ninguém é capaz de falar sobre eles.
Ou, dito de outra forma, talvez correndo o risco de cair numa forma de neofundamentalismo: não nos é exigido hoje, além de um estilo de vida não muito diferente do que prescreve o Evangelho, também um esforço de reflexão, de estudo sobre os antigos conteúdo da história cristã? Não teremos que repensar o possível significado das palavras “Deus”, “criação”, “salvação”, “vida eterna”?
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Sobre o filme 'Conclave'. Artigo de Joseba Kamiruaga Mieza CMF - Instituto Humanitas Unisinos - IHU