09 Dezembro 2024
Se nos primeiros anos de seu pontificado ele tinha feito nomeações surpreendentes, mantendo, porém, uma certa prudência quanto à idade dos novos arcebispos e cardeais, nos últimos anos Francisco acelerou o sistema de preenchimento dos quadros de liderança da Igreja, escolhendo personalidades mais jovens que poderão deixar uma marca duradoura na reconfiguração da Igreja do futuro.
O artigo é de é de Iacopo Scaramuzzi, vaticanista e autor de vários livros historicamente focados no atual papado, como, Il sesso degli angeli: pedofilia, feminismo, LGBTQIA+: il dibattito nella Chiesa, publicado por Repubblica, 08-12-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Angelo Acerbi, 99 anos, mal consegue ficar de pé: o ex-núncio apostólico é o cardeal mais velho da história, ninguém imaginava que ele seria incluído no Consistório realizado pelo Papa Francisco ontem à tarde em São Pedro. É o paradoxo da situação, porque ontem Francisco não só nomeou o cardeal mais jovem do Colégio cardinalício, o ucraniano Mykola Bychok, de 44 anos, mas também rejuvenesceu o próximo Conclave. A idade média desse Consistório é 62 anos, e sete dos 21 cardeais têm menos de sessenta anos: a Santa Igreja Romana dos jovens.
São a nova geração de bergoglianos, uma geração de pastores que permanecerá por décadas na assembleia mais exclusiva do catolicismo. Eles são os homens que ajudam o Papa usque ad effusionem sanguinis, até o derramamento de sangue (daí a cor vermelha da vestimenta), e especialmente quando um Pontífice morre ou renuncia, eles elegem o sucessor.
Com esse Consistório, o décimo de seu pontificado, Francisco já escolheu 80% do colégio eleitoral, ou seja, os cardeais que, com menos de 80 anos, têm o direito de entrar na Capela Sistina para a eleição do novo bispo de Roma. E se, ao longo dos onze anos de seu pontificado, Bergoglio internacionalizou o Colégio cardinalício, reduziu o velho mundo e valorizou o sul global, ampliou o número de países representados, de 48 no Conclave que o elegeu em 2013 para 73 hoje, nos últimos anos apostou em figuras jovens, que, portanto, incidirão na vida da Igreja por um longo tempo.
“What is the use of having a full bank account, a comfortable home, unreal virtual relationships, if our hearts remain cold, empty and closed?” pic.twitter.com/nXKZnYzn5d
— Austen Ivereigh (@austeni) December 8, 2024
A partir de ontem, além do ucraniano, bispo da eparquia de Melbourne, tornaram-se cardeais o indiano Jacob Koovakad, de 51 anos, até agora organizador das viagens do Papa, o lituano Rolandas Makrickas, de 52 anos, arcipreste da basílica de Santa Maria Maggiore, Francis Leo, de 53 anos, arcebispo de Toronto, o arcebispo de Belgrado Ladislav Nemet, de 58 anos, e quatro “jovens” italianos: o vigário do papa para a diocese de Roma, Baldo Reina (54), o arcebispo de Turim, Roberto Repole (57), o scalabriniano Fabio Baggio (60), grande especialista em migração e subsecretário do dicastério do Vaticano para o Desenvolvimento Humano Integral, e Mimmo Battaglia, arcebispo de Nápoles (62).
Se nos primeiros anos de seu pontificado ele tinha feito nomeações surpreendentes, mantendo, porém, uma certa prudência quanto à idade dos novos arcebispos e cardeais, nos últimos anos Francisco acelerou o sistema de preenchimento dos quadros de liderança da Igreja, escolhendo personalidades mais jovens que poderão deixar uma marca duradoura na reconfiguração da Igreja do futuro. Esses são homens com um perfil mais pastoral, muitas vezes à frente de dioceses complexas, vários vêm de ordens religiosas (franciscanos, dominicanos, jesuítas), mas não são a cópia de Bergoglio nem se assemelham entre si.
It appears that Cardinals-designate Radcliffe, and Vesco, both Dominicans, have chosen to scrap the scarlet for today’s consistory, likely with permission from Pope Francis. pic.twitter.com/y8D56qDcT1
— Rich Raho (@RichRaho) December 7, 2024
O Cardeal Frank Leo, de Toronto, bem como, nomeado no penúltimo Consistório, o arcebispo de Ajaccio, o franciscano Francois-Xavier Bustillo, por exemplo, não são progressistas. O Cardeal Giorgio Marengo, o segundo mais jovem do colégio, com 50 anos, um religioso italiano da Consolata em missão na Mongólia, lidera uma minúscula comunidade de cristãos que lembra a Igreja dos primeiros séculos. Din Dieudonné Nzapalainga, 57 anos, que recebeu Francisco na República Centro-Africana, lidera a Igreja de um dos países mais pobres do mundo. Dom José Cobo Cano, 59 anos, é o novo arcebispo de Madri, chamado a desideologizar uma Igreja que, nos anos de seu antecessor, o cardeal Rouco Varela, pensou mais nos contrastes políticos do que na proximidade com o povo de Deus.
Em Jerusalém, há o Patriarca Pierbattista Pizzaballa, de 59 anos. Na Cúria Romana, também há o Cardeal Mauro Gambetti, de 59 anos, arcipreste de São Pedro, e dom José Tolentino de Mendonça, cardeal e poeta português à frente do dicastério para a cultura. “A aventura da estrada, a alegria do encontro com os outros, o cuidado com os mais frágeis”, disse o Papa aos novos cardeais ontem: ”Isso deve animar seu serviço como cardeais”. Francisco, que completará 88 anos em 17 de dezembro, tem uma voz fraca. Um hematoma pode ser visto em sua mandíbula; a sala de imprensa do Vaticano informou que foi provocado ao bater na mesa de cabeceira. O Papa olha para o futuro da Igreja - para um futuro de longo prazo.
Cardinal Radcliffe receives his red hat, ring and scroll from a joyful pope. pic.twitter.com/JPE1QB22FN
— Austen Ivereigh (@austeni) December 7, 2024
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Os jovens cardeais que estão herdando a Igreja, “nos próximos vinte anos serão eles que contarão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU