22 Outubro 2024
"Dúvidas a serem dissipadas nas próximas semanas? Muitas. Seria a COP16 mais um palco para um show de discursos, eventos paralelos e metas mirabolantes mas sem ações e recursos efetivos?", questiona Kelly Lima, diretora-executiva da Alter conteúdo, em artigo publicado na newsletter da Alter Comunicação, 21-10-2024.
Reconhecida pelo ritmo pulsante da salsa e com um zoológico (!) apontado como principal atração turística da cidade no TripAdvisor, terceira maior cidade colombiana, Cáli, promete dançar nas próximas duas semanas ao som de promessas ambientais e metas ambiciosas de preservação da biodiversidade.
Com a presença de mais de 190 nações e hotéis com capacidade máxima de lotação, começou ontem, e vai até o dia 1º de novembro, a COP16 da Biodiversidade, que tingiu os monumentos da cidade de verde e promete ter dimensões históricas, que representem uma mudança de paradigma: as conferências de biodiversidade, que antes ocupavam um papel secundário em relação às COPs do Clima, a partir de agora ganham maior protagonismo. É que o elo entre a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas nunca foi tão evidente.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, foi direto ao ponto em seu discurso de abertura cobrando a todos por recursos financeiros. "Devemos sair de Cali com um investimento significativo no Fundo Marco Mundial para a Diversidade Biológica (GBFF, na sigla em inglês) e compromissos para mobilizar outras fontes de financiamento público e privado", disse, em mensagem em vídeo aos delegados na conferência.
Captação de recursos é sem dúvida o maior desafio do evento. Para transformar em ação as 23 metas do Marco Global da Biodiversidade, firmado no Canadá em 2022, entre elas a proteção de 30% das áreas terrestres e marinhas até 2030, além da restauração de 30% dos ecossistemas degradados, são estimados US$ 200 bilhões por ano. O clima é de apreensão e urgência entre os negociadores. Além do volume elevado, esse financiamento, também enfrenta uma série de obstáculos, desde a definição clara de onde virão até a divisão justa entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, com foco especial nas nações que abrigam a maior parte da biodiversidade, como a Colômbia e o Brasil.
Vale lembrar que os dois países também são os que mais matam defensores ambientais, segundo o Global Witness, e o evento, batizado com o tema de 'Paz com a Natureza', acontecerá sob um forte esquema de segurança ante as ameaças da facção dissidente das antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), conhecida como Estado-Maior Central (EMC), que rejeitou o acordo de paz de 2016. Além disso, o Brasil, que tinha a pretensão de roubar os holofotes do anfitrião chamando para si as atenções pelos esforços de redução do desmatamento, leva na bagagem uma dose de frustração com o aumento na devastação nos últimos meses, e, a exemplo de 162 (dos 190 países), sem um plano nacional claro para proteger e restaurar a fauna e flora locais.
“O Brasil é um país grande territorialmente, com uma população grande e diversificada. Para fazer a revisão, é preciso fazer uma ampla consulta”, tentou justificar Braulio Dias, diretor de conservação e uso sustentável da biodiversidade no MMA e único brasileiro a ter ocupado a secretaria executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB).
Neste cenário que está mais para guerra do que para paz, outro tema complexo: um dos debates centrais será sobre a repartição dos benefícios da utilização de informações genéticas digitais (DSI). A Capital Reset trouxe uma boa matéria sobre o tema, que envolve a compensação justa para os países que detêm a biodiversidade, e que interessa diretamente às indústrias farmacêutica, cosmética e de biotecnológica.
Dúvidas a serem dissipadas nas próximas semanas? Muitas. Seria a COP16 mais um palco para um show discursos, eventos paralelos e metas mirabolantes mas sem ações e recursos efetivos?
Como diz o meme: Que show da Xuxa é esse?
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COP16: que show da Xuxa é esse? Artigo de Kelly Lima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU