04 Outubro 2024
Publicamos os textos completos das intenções escritas pelo Papa Francisco e lidas pelos Cardeais Gracias, Czerny, O”Malley, Farrell, López Romero, Fernández, Schönborn na Basílica de São Pedro na terça-feira, 1º de outubro, por ocasião da liturgia penitencial no final do retiro em preparação para a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos.
A edição é de Andrea Lebra e publicada por Settimana News, 03-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Peço perdão a Deus Pai, sentindo-me envergonhado pelo pecado da falta de coragem, da coragem necessária para a busca da paz entre os povos e as nações, no reconhecimento da dignidade infinita de cada vida humana em todas as suas fases, desde o nascimento até a velhice, especialmente as crianças, os doentes, os pobres, do direito de ter um trabalho, uma terra, uma casa, uma família, uma comunidade na qual viver livremente, do valor que é a paisagem e a cultura de cada área do planeta. Para garantir a paz é preciso coragem: dizer sim ao encontro e não ao confronto; sim ao respeito aos pactos e não às provocações; sim à sinceridade e não à duplicidade.
Em nome de todos os fiéis, peço perdão àqueles que estão nascendo hoje e que nascerão depois de nós, às gerações do futuro que estão nos emprestando este mundo e que têm o direito de habitá-lo, um dia, em concórdia e na paz. Ainda mais grave é o nosso pecado, se invocarmos o nome de Deus para justificar a guerra e as discriminações. Perdoai-nos, Senhor!
Peço perdão, sentindo-me envergonhado pelo que nós, crentes, também fizemos para transformar a criação de jardim em deserto, manipulando-a à nossa vontade; e pelo que não fizemos para evitar isso.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por termos deixado de reconhecer o direito e a dignidade de cada pessoa humana, discriminando-a e explorando-a - estou pensando especialmente nas populações indígenas - e por termos sido cúmplices de sistemas que favoreceram a escravidão e o colonialismo.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por termos aceitado e participado da globalização da indiferença diante das tragédias que transformam as rotas marítimas e as fronteiras entre as nações de um caminho de esperança em um caminho de morte para tantos migrantes. O valor da pessoa é sempre superior ao da fronteira. Neste momento, ouço a voz de Deus perguntando a todos nós: “Onde está seu irmão, onde está sua irmã?”. Perdoai-nos, Senhor!
Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por todas as vezes em que nós, fiéis, fomos cúmplices ou cometemos diretamente abusos de consciência, abusos de poder e abusos sexuais. Quanta vergonha e dor sinto ao considerar especialmente os abusos sexuais de menores e pessoas vulneráveis, que roubaram a inocência e profanaram a sacralidade de quem é fraco e indefeso.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por todas as vezes em que usamos a condição do ministério ordenado e da vida consagrada para cometer esse terrível pecado, sentindo-nos seguros e protegidos enquanto tirávamos proveito diabólico dos pequeninos e dos pobres. Perdoai-nos, Senhor!
Peço perdão em nome de todos na Igreja, especialmente de nós, homens, sentindo-me envergonhado por todas as vezes em que não reconhecemos e defendemos a dignidade das mulheres, quando as tornamos mudas e subservientes, e não poucas vezes as exploramos, especialmente na condição de vida consagrada.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por todas as vezes que julgamos e condenamos antes de cuidar das fragilidades e das feridas da família.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por todas as vezes em que roubamos a esperança e o amor das gerações mais jovens, quando não conseguimos compreender a delicadeza das fases de crescimento, das dificuldades de formação da identidade, e não estamos dispostos a nos sacrificar pelo seu direito de expressar seus talentos e profissionalismo, encontrando um trabalho digno e recebendo um justo salário.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado por todas as vezes em que preferimos nos vingar em vez de nos empenharmos na busca da justiça, abandonando aqueles que erram nas prisões e recorrendo ao uso da pena de morte. Perdoai-nos, Senhor!
Peço perdão em nome de todos na Igreja, sentindo-me envergonhado por termos virado a nossa cabeça para o outo lado diante do sacramento dos pobres, preferindo adornar a nós mesmos e ao altar de culpadas preciosidades que tiram o pão do faminto.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado pela inércia que nos impede de acolher o chamado para sermos uma Igreja pobre dos pobres e que nos faz ceder à sedução do poder e às lisonjas dos primeiros lugares e dos títulos ostensivos.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por quando cedemos à tentação de nos escondermos no centro, protegidos em nossos espaços eclesiais doentes de autorreferencialidade, resistindo a sair, negligenciando a missão nas periferias geográficas e existenciais. Perdoai-nos, Senhor!
Peço perdão, sentindo-me envergonhado por todas as vezes que na Igreja, particularmente nós, pastores, a quem foi confiada a tarefa de confirmar nossos irmãos e irmãs na fé, não fomos capazes de salvaguardar e propor o Evangelho como fonte viva de eterna novidade, “doutrinando-o” e correndo o risco de reduzi-lo a uma pilha de pedras mortas a serem atiradas contra os outros.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado por todas as vezes em que demos justificativa doutrinária a tratamentos desumanos.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado por não termos sido testemunhas credíveis do fato de que a verdade liberta, por termos obstruído as diversas legítimas inculturações da verdade de Jesus Cristo, que sempre trilha os caminhos da história e da vida para ser encontrado por aqueles que querem segui-lo com fidelidade e alegria.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado pelas ações e omissões que impediram e ainda dificultam a recomposição na unidade da fé cristã e a autêntica fraternidade de todo o gênero humano. Perdoai-nos, Senhor!
Peço perdão, sentindo-me envergonhado pelos obstáculos que colocamos no caminho da construção de uma Igreja verdadeiramente sinodal e sinfônica, consciente de ser um povo santo de Deus que caminha junto reconhecendo sua dignidade batismal comum.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado por todas as vezes que não escutamos o Espírito Santo, preferindo escutar a nós mesmos, defendendo opiniões e ideologias que ferem a comunhão em Cristo de todos, esperados no fim dos tempos pelo Pai.
Peço perdão, sentindo-me envergonhado por quando transformamos a autoridade em poder, sufocando a pluralidade, não ouvindo as pessoas, dificultando a participação de tantos irmãos e irmãs na missão da Igreja, esquecendo que todos somos chamados na história, pela fé em Cristo, a nos tornarmos pedras vivas do único templo do Espírito Santo. Perdoai-nos, Senhor!
Os pedidos de perdão podem ser ouvidos e vistos aqui, 37:51.
No mesmo vídeo podem ser ouvidos e vistos os testemunhos proferidos na mesma celebração. O contundente testemunho de Lawrence Gien é dado em inglês e os demais são em italiano.
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Os Cardeais também pedem perdão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU