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No âmbito do Ciclo de Formação Virtual organizado pela Comissão Animadora do Eixo Mulheres da Igreja e Sociedade do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), foi realizado o 5º e último encontro virtual intitulado “Rumo a uma Igreja Sinodal, caminhando juntas no Espírito.”
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“As mulheres tocam criativamente as feridas da Criação. Procuram formas de redesenhar a vida e as relações. As mulheres quebram o silêncio, há consciência da sua invisibilidade tanto na sociedade como na Igreja”
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“Durante os diálogos continentais, na América Latina foram reconhecidas feridas tanto nas mulheres como nos homens, entre leigos e religiosos. A Igreja não está isenta do machismo da sociedade”
“Não apenas boas intenções, mas decisões concretas que reflitam a participação das mulheres”
A reportagem é de Virgínia Bonard, DNA Celam, publicada por Religión Digital, 15-09-2024.
No âmbito do Ciclo de Formação Virtual organizado pela Comissão Animadora do Eixo Mulheres da Igreja e Sociedade do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), foi realizado o 5º e último encontro virtual intitulado “Rumo a uma Igreja Sinodal, caminhando juntas/no Espírito".
Com a coordenação da teóloga argentina Andrea Sánchez Ruiz, nesta ocasião foi Irmã Birgit Weiler, consultora da Secretaria do Sínodo, quem abordou a proposta falando num espanhol impregnado de suas raízes alemãs e com traços de suas fluidas trocas com os povos americanos.
O que a irmã Birgit disse?
Fazemos um resumo da sua apresentação.
- “É uma alegria partilhar o caminho que percorremos com abertura ao Espírito, já estamos às portas da 2ª Sessão do Sínodo da Sinodalidade com seus processos de escuta, consulta e discernimento”.
- “Vocês trabalharam no Sínodo sob diferentes perspectivas, as novidades que este processo traz para nós, mulheres na Igreja, mas queremos fazer um caminho junto com os homens para que a nossa Igreja se torne cada vez mais uma comunidade."
- “O Espírito, na Bíblia Hebraica, é o ruach e é feminino. Está semanticamente ligado ao rechem em hebraico, ventre da mulher. Esta mesma raiz está ligada ao Espírito e está intimamente relacionado com a novidade que Deus nos traz”.
- “Queremos estar atentas e atentos, com todo o nosso ser, ao sopro do Espírito (ruach) que é aquele que traz vida nova para nós e para a nossa Igreja. Rosto da Igreja sinodal onde aprendemos a caminhar juntos, na escuta do ruach, por toda a humanidade sofredora de hoje”.
- “O Espírito sopra onde quer, pede-nos que nos abramos ao impensável, tira-nos da rotina, convida-nos a trilhar novos caminhos e a partilhar frutos com os outros. “Nós nos deixamos surpreender por Ele.”
- “No caminho sinodal há quem o faça com grande alegria e profunda convicção, há quem ainda o faça com o coração duvidoso e outros que estão à beira do caminho, à espera”.
- “Há quem não seja de paróquia e queira caminhar neste Espírito”.
- “O caminho que estamos trilhando é na fidelidade ao Concílio Vaticano II. Já naquele momento foi dito que as mulheres estão ocupando o seu lugar nas sociedades humanas e onde podem exercer as suas convicções e valores para que o Evangelho se encarne mais”.
- “ As mulheres tocam criativamente as feridas da Criação. Eles procuram maneiras de reconstruir a vida e os relacionamentos. “As mulheres estão quebrando o silêncio, há consciência da sua invisibilidade tanto na sociedade como na Igreja”.
- “ A nossa fé deve estar encarnada no momento histórico em que vivemos.”
- “Um feminismo que não é contra os homens – isso deve ser bem esclarecido – ajudou as mulheres a se valorizarem e a superarem as formas de ver e tratar as mulheres, ligadas ao que o próprio Jesus disse. Muitos estudiosos da Bíblia propõem reler a Bíblia e detectar quais são os sinais de. esperança para as mulheres nos Evangelhos. Jesus questionou a profunda cultura patriarcal do seu tempo e ousou viver de forma diferente as suas relações com as mulheres. “Muito disso foi expresso no processo sinodal”.
- “O Sínodo da Amazônia foi muito importante nesse caminho. Esta 2ª fase sinodal não caiu do céu. Há uma obra persistente do Espírito em nosso meio. Foram muitos os homens que valorizaram o chamado que muitas mulheres sentiram para pedir que a Igreja realizasse as transformações necessárias para ser mais uma Igreja de discípulos de Jesus. Isso significa superar as masculinidades tóxicas.”
- “Sinodalidade como estilo de vida.”
- “No Sínodo da Amazônia foi valorizado o sensus fidei, intuição do povo de Deus. “Mulheres e homens são portadores deste Espírito pela graça do batismo”.
- “Sínodo Amazônico: maior participação de leigos, homens e mulheres e possibilidade de contemplar o diaconato feminino.”
- “Durante a Assembleia Eclesial aprofundou-se a diversidade vivida pelas mulheres e pela Igreja em geral. Estamos aprendendo a ser católicos. Diversidade sem quebrar a unidade. E não se trata de universalizar no sentido de tornar tudo igual, mas de nos compreendermos nas nossas diferenças.”
- “Durante os diálogos continentais, na América Latina, foram reconhecidas feridas tanto nas mulheres como nos homens , entre leigos e religiosos. A Igreja não está isenta do machismo da sociedade”.
- “Saia dos estereótipos femininos: delicado e terno. A ternura não exclui a força. Existem diferentes formas de viver o ser mulher. “A Igreja dando espaços para viver autenticamente a identidade de cada pessoa”.
- “Valorizar as diversas contribuições implica valorizar as diversas vocações.”
- “Crescer na humanidade é crescer na relação com Deus. Vamos fomentar relações humanizadoras.”
- “A sinodalidade está diretamente relacionada com a fidelidade no seguimento de Jesus como homens e mulheres”.
- “Durante a fase continental do Cone Sul-Ceama-Repam, surgiu a necessidade de uma conversão dentro da Igreja, isso significa superar o machismo e o clericalismo que estão intimamente ligados. Onde há clericalismo há abuso de poder. “O Papa Francisco volta a colocar o dedo na ferida.”
- “Os caminhos da sinodalidade já começaram. A Conferência Eclesial da Amazônia é certamente um exemplo disso.”
- “Já existem muitos clérigos, bispos e cardeais que vivem a sua vocação na sinodalidade”.
- “O passo à frente: as mulheres que deram voz à dor. Expressaram-se contra o machismo e o clericalismo. “O Papa Francisco deu o exemplo ao colocar as mulheres em posições de alta responsabilidade.”
- “Estamos quebrando o teto de vidro: são os preconceitos e as ideias preconcebidas que tornam difícil – e até mesmo impossível – para as mulheres viver plenamente a sua vocação, para contribuir com o que puderem.”
- “Algo que está registrado no Instrumentum Laboris do 2ª Sessão Sinodal é que a maior participação das mulheres se reflita nas decisões concretas. E não apenas bons propósitos.”
Conhecendo a Irmã Birgit
- Membro das irmãs médico-missionárias;
- Ela mora no Peru há mais de 30 anos;
- Professora de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Peru;
- Colabora com a Pastoral dos Povos Indígenas, especialmente os Awajún e Wampis,
- É assessora teológica da presidência da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama);
- Membro da Equipe de Reflexão Teológica Celam;
- Membro da Comissão de Conteúdo Celam para o processo de Assembleia Eclesial,
- Membro da Comissão pós-Assembleia Eclesial;
- Assessora teológica da Comissão Animadora do Eixo Mulheres da Igreja e Sociedade;
e, em fevereiro deste ano, o Papa Francisco nomeou-a membro do Conselho da Secretaria Geral do Sínodo, que tem o 2ª Fase em outubro de 2024.
Este Ciclo foi organizado pela Celam, Cáritas América Latina e Caribe e a Confederação Latino-Americana de Religiosos (CLAR).
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Birgit Weiler: “As masculinidades tóxicas devem ser superadas (...) A Igreja não está isenta do machismo da sociedade” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU