10 Setembro 2024
"As lágrimas das mães, em Israel e Gaza, clamam por paz, mas o cinismo da política não as ouve".
O comentário é de Mario Giro, professor de Relações Internacionais na Universidade para Estrangeiros de Perúgia, na Itália, em artigo publicado por Domani, 09-09-2024. A tradução de Luisa Rabolini.
Propagam-se somente o ódio e as soluções armadas, que sabemos o quanto já são inúteis. Mas o pedido de paz ignorado provocará o julgamento severo da posteridade: “Prossiga em sua jornada que, espero, seja tão bela quanto aquelas com as quais você sonhava, porque, meu doce menino, você finalmente está livre”. Essas são as palavras de Rachel Goldberg-Polin, a mãe de Hersh, sequestrado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 e assassinado em um túnel em Gaza há alguns dias, talvez pouco antes da tentativa de libertá-lo. Abalados e próximos ao coração de uma mulher destruída, que encontra força das palavras que somente uma mãe pode dizer para se despedir de seu filho, nos perguntamos: como ser finalmente livres?
Livres da violência que mata sem olhar para o rosto daqueles que lhe são impostos como inimigos.
Violência que já se mostrou inútil em muitas guerras anteriores, capaz apenas de reproduzir a si mesma. Livre do ódio que desfigura povos inteiros, tornando-os inacessíveis e assustadores para os outros.
Livres dos cálculos de políticos cínicos que não dão mais nenhum valor à vida humana, nem mesmo à de seus concidadãos, obsequiando a antiga mensagem demoníaca de que sua própria razão pode exigir sacrifícios humanos.
Livres de uma história pesada e de uma memória que esmaga ao condenar a repetir para sempre os erros do passado, como se fosse possível obter um resultado diferente. Livres como as crianças que crescem sem aprender o ódio mortal que os adultos já lhes ensinam desde cedo.
Livres como mães que acompanham seus filhos rumo à vida em vez de vê-los obrigados a pegar em armas – primeira de todas, a arma do ódio - para lutar contra um inimigo considerado eterno.
Livres como filhos que sonham com o mundo além dos muros, das separações, das bombas e da abominação da destruição total da natureza. Livres da morte que esmaga toda a vida, tornando aquelas terras - a Terra Santa! - áridas, sem futuro e sem descendentes.
Em meio aos gritos dos políticos e dos falsos aliados, ouve-se fraco o lamento das mães que choram por seus filhos e não querem -nem podem- ser consoladas, como Rachel Goldberg-Polin, como a Raquel da Bíblia "Ouve-se uma voz em Ramá, pranto e amargo choro; é Raquel, que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque os seus filhos já não existem" (Jr 31,15).
Como disse o Papa Francisco: “Raquel encerra em si a dor de todas as mães do mundo, de todos os tempos, e as lágrimas de todo ser humano que chora perdas irreparáveis”. Sem medo de parecer populistas, devemos afirmar que a política atual parece totalmente inadequada para responder ao choro das mães. Nem em Gaza, nem na Ucrânia, nem em qualquer outro lugar onde se combate, como no esquecido Sudão, as vozes dos responsáveis se levantam para clamar pela paz e fazem todos os esforços para negociar e enxugar as lágrimas. Apenas se ouvem gritos de guerra, com governantes e líderes se sentindo obrigados a incitar ao uso das armas.
Aliás, há até mesmo aqueles que se sentem investidos de um dever quase ético: se eu não fizer isso, quem o fará?
Como se incitar ao ódio e às armas fosse o único caminho a seguir. A guerra já parece ser aceita como a resposta normal a qualquer disputa; a retaliação sem limites como reação moral; o ódio como um modo de vida aceitável e até razoável.
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As mães choram os filhos mortos na guerra, a política cínica as ignora. Artigo de Mario Giro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU