09 Setembro 2024
A soberana da Jordânia para a plateia em Cernobbio “A guerra não termina esmagando um lado”.
A reportagem é de Francesca Spini, publicada por La Stampa, 09-09-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foi em 2005 a última vez que Rania da Jordânia passou pelo elegante portão da Villa d'Este. E parece que foi há um século: “Eu nunca imaginaria olhar para aqueles dias e pensar: ‘Eram tempos mais simples’”. Agora, a rainha retorna ao Fórum de Cernobbio organizado por Teh-Ambrosetti e propõe cinco pontos, cinco propostas para promover a paz entre Israel e Gaza e acabar com o que sua majestade chama de “racismo antipalestino”.
Ela começa relembrando o fatídico 7 de outubro, quando “Israel foi atacado pelo Hamas”, com uma “escalada violenta que chocou o mundo”. Mas também relata a resposta de Israel, que levou seu bloqueio a Gaza “a novos níveis desumanos”. Ela detalha com os números o “inimaginável sofrimento dos civis”, que “está sendo normalizado a cada dia. Mas eu lhes peço: tentem imaginar como deve ser não estar reunido aqui ao lado do belo Lago de Como, mas ser um pai em Gaza...”, onde ”você enterrou um filho... outro perdeu uma perna e metade do peso. Toda a sua família está morrendo de fome”, é o relato, terrível, da Rainha da Jordânia. E ainda: “Nenhum hospital. Nenhuma escola. Nenhuma universidade ainda de pé. Quase todos os bairros viraram escombros”. Dois pesos e duas medidas, de acordo com Rania, aqueles que o mundo aplica quando fala de segurança para Israel e de segurança para Gaza. “Essa desvalorização da vida deve ser chamada pelo que é: racismo antipalestino”, declama diante de diretores, empresários, banqueiros e políticos que lotam a sala. Ela se pergunta se esperaríamos de qualquer população ocidental “tolerar décadas de ocupação, opressão e violência”. É peremptória ao se dirigir à plateia em Cernobbio: “O banho de sangue deve parar”. Pois “o que o Sul Global deve pensar quando vê o Ocidente apoiando o povo ucraniano mas deixando os civis inocentes em Gaza sob uma punição coletiva sem precedentes?”
De acordo com a soberana, agora é necessário superar e rejeitar esses “padrões duplos” e “encontrar um percurso comum para a paz”. Os planos para resolver a situação não decolam, mas ela não quer se resignar “a uma realidade intolerável”. Portanto, propõe uma “base compartilhada, baseada em um conjunto de princípios fundamentais com os quais todos podemos concordar e aderir”. Cinco princípios “inquestionáveis” que “deveriam servir de base para todas as verdadeiras iniciativas de paz”.
Ponto primeiro: “O direito internacional deve prevalecer, sem exceções”. Afinal de contas, admite, “não sou neutra. Acredito que nenhum de nós realmente o seja, por mais que nos esforcemos. É por isso que precisamos da lei”. Em primeiro lugar, “para fazer respeitar as resoluções vinculantes do Conselho de Segurança da ONU e respeitar as opiniões e as sentenças dos tribunais internacionais, mesmo quando são politicamente incômodas”.
Segundo: “A autonomia, a dignidade e os direitos humanos são universais e absolutos”. Portanto, a paz “não pode ser criada por meio da adoção de atitudes fortes contra uma parte mais fraca, forçando-a a aceitar condições desfavoráveis. Israelenses e palestinos têm direitos iguais à segurança e à autodeterminação. Alguns países europeus reconheceram esse direito ao reconhecer o Estado palestino. Espero que outros países da Europa e de outros lugares façam o mesmo”.
Terceiro ponto: “Para que a justiça prevaleça, é preciso assumir as responsabilidades” pelas próprias ações, aplicando controles sobre o poder e sancionando os atos ilícitos. “Em Gaza, vemos as consequências catastróficas desse desequilíbrio: uma nação poderosa, que cria condições de fome e deslocamento em massa, enfrenta poucas contestações.” O revés da medalha da responsabilidade “é a impunidade”, lembra Rania da Jordânia.
E, ainda, quarto ponto: “A verdadeira segurança não é de soma zero. Uma paz justa gera segurança mútua” porque ”a insegurança de um lado não serve ao outro. Ela apenas perpetua o problema”.
Finalmente, o quinto princípio. “É simples: as vozes extremas - independentemente de sua origem - devem ser excluídas da conversação. O futuro, diz a Rainha, não pode ser refém daqueles que defendem a fome em massa, o extermínio e a expulsão... que aplaudem a punição coletiva... que defendem o indefensável. Devem ser denunciados e silenciados”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Rania, a rainha por Gaza “Paz em cinco pontos, chega de racismo antipalestino” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU