Hélder Câmara: 25 anos após a sua morte

Dom Helder Câmara (Foto: Wikimedia Commons)

28 Agosto 2024

As grandes palavras às vezes correm o risco de se tornarem banais. Isso vale, talvez, também para a frase de Hélder Pessoa Câmara: "Quando uma pessoa sonha sozinha, é apenas um sonho. Quando muitos sonham juntos, é o início de uma nova realidade". Com essa convicção, no entanto, o pequeno homem proveniente do pobre nordeste do Brasil tornou-se uma força motriz para a alfabetização de milhões de pessoas e um dos pais da Teologia da Libertação.

A reportagem é de Roland Juchem, publicada por Settimana News, 27-08-2024.

Nascido em 07-02-1909, o décimo primeiro de treze filhos de uma professora primária e de um contador de Fortaleza, Hélder Câmara cresceu em uma região onde a política, a economia e a sociedade eram dominadas por proprietários de plantações e barões do gado. Quando criança, queria se tornar sacerdote, um desejo que se concretizou aos 22 anos de idade.

Um bispo nas favelas

Após seu envolvimento inicial nos movimentos sindicais e trabalhistas católicos, em 1934, ele se tornou secretário de Educação em seu estado natal, o Ceará, e dois anos depois passou para o Ministério da Educação do Rio de Janeiro. Nomeado bispo auxiliar em 1952, tomou consciência da miséria nas favelas. Câmara visitava regularmente as casas dos pobres e lutava para garantir condições habitacionais dignas e acessíveis aos mais necessitados.

Ao mesmo tempo, o então bispo de 43 anos preparou a fundação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) juntamente com Giovanni Montini, que mais tarde se tornaria o papa Paulo VI. A partir de outubro de 1952, Câmara seria o secretário-geral da CNBB por doze anos. Da mesma forma, a partir de 1955, ele se empenhou na formação do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM).

Câmara alcançou fama nacional graças às pregações transmitidas pela televisão. Ele também foi um influente representante da Igreja do Sul no Concílio Vaticano II (1962-1965). Em 1963, em uma carta aberta, apelou a seus colegas bispos para que deixassem de lado suas riquezas a fim de reduzir a distância entre eles e os pobres.

Essa preocupação levou ao chamado Pacto das Catacumbas, em 16-11-1965, assinado por 40 bispos de vários países na Catacumba de Domitila, em Roma. Embora Câmara nunca tenha discursado na sala conciliar, sua teologia encontrou espaço em um dos documentos conciliares mais importantes: a Gaudium et Spes, documento sobre a Igreja no mundo atual. Entre outras coisas, o texto afirma a atenção da Igreja Católica para com os pobres.

Acusações de comunismo

Em março de 1964, Paulo VI nomeou Câmara arcebispo de Olinda e Recife. Pouco depois, os militares tomaram o poder no Brasil após um golpe de estado, e foi nesse momento que Câmara retornou ao pobre nordeste do país, onde mais uma vez se deparou com a miséria generalizada, como a morte por fome de milhares de crianças a cada ano.

É nesse contexto que foi escrita outra frase atribuída a ele: "Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, me chamam de comunista". Inicialmente deixado relativamente livre pelos militares, a partir de 1968 Câmara foi cada vez mais caluniado e ameaçado como "bispo vermelho". Houve várias tentativas de assassinato; em uma delas, seu secretário Antonio Peirera Neto foi morto a tiros.

Jogado no ostracismo pela mídia e por políticos brasileiros, Câmara gozava muitas vezes da fama de santo revolucionário no exterior. Foi indicado várias vezes ao Prêmio Nobel da Paz. No entanto, permaneceu uma figura controversa dentro da Igreja. Provavelmente, por isso, seu apoiador Paulo VI nunca o nomeou cardeal. Com sua mensagem "o desenvolvimento é paz, o subdesenvolvimento é guerra", Câmara estava destinado a polarizar as opiniões. Ainda havia um longo caminho a percorrer até a chegada do papa Francisco e sua afirmação (frequentemente mal interpretada) "esta economia mata".

Quando Hélder Câmara apresentou sua renúncia, o papa João Paulo II já havia ascendido ao trono papal. Em 02-04-1986, o papa polonês aceitou sua renúncia. Influenciado por suas experiências com o socialismo na Europa Oriental e desconfiado de qualquer tipo de teologia supostamente de esquerda, no mesmo dia nomeou o conservador José Cardoso Sobrinho como sucessor de Câmara.

Dom Helder Câmara (Foto: Wikimedia Commons)

O Deus que perturba nossa tranquilidade

Sobrinho atrasou os relógios do arcebispado e fechou as instituições inovadoras de seu predecessor. Câmara absteve-se de comentar. Treze anos depois, em 27-08-1999, o pequeno homem de grande coração faleceu aos 90 anos.

O processo de beatificação de Dom Hélder Câmara começou apenas em 2015, quando um papa do sul subiu à cadeira de São Pedro. Os documentos registram certamente que o "bispo vermelho" também era um incansável guerreiro da oração.

Frequentemente, ele se levantava à noite para rezar, ler a Bíblia e meditar. Anotava alguns pensamentos, como este: "Tu perturbas minha tranquilidade, Senhor, abalas minha confiança em mim mesmo, zombas do meu orgulho mal colocado e fazes ruir meus planos, sonhos e ambições. Então, quando tudo parece perdido, tu recolocas tudo em seu devido lugar com toda a tua compreensão e todo o teu amor (...), Senhor, Deus do universo".

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