02 Julho 2024
"Para além de alguns percursos de leitura sobre a educação de gênero e sobre as dinâmicas que desencadeiam a violência, a temática será enfrentada com uma perspectiva psicológica, pedagógica, sociológica com aprofundamentos bíblicos e teológico-espirituais e serão apresentadas algumas possíveis estratégias para a prevenção da violência de gênero nos vários contextos educativos", escreve Luciano Moia, em artigo publicado por Avvenire, 27-06-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Sobre a educação de gênero com ênfase na prevenção à violência, a Igreja “tem a responsabilidade de oferecer a sua proposta, clara, respeitosa do homem e da sua dignidade, fundada no Evangelho”. Quem explica isso é Marzia Ceschia, professora de teologia espiritual da Faculdade Teológica do Trivêneto que em parceria com a psicóloga Michela Simonetto realizará um curso universitário semestral de licenciamento (o nível anterior ao doutorado) justamente sobre “Educação afetiva e prevenção da violência de gênero”. Nenhuma invasão de campo, sem intervenções “fora de lugar”. Pelo contrário, a teologia tem o dever de falar sobre violência de gênero, não “para fazer discursos moralistas (os moralismos só despertam incômodo e rejeição), mas para ir à essência do ser humano, ao significado do amor e da generatividade", acrescenta a professora.
Em outras palavras, o curso que será iniciado na Faculdade Teológica do Trivêneto pretende “propor concretamente o amor como forma máxima de liberdade, ou seja, um dos desafios a que Igreja não pode escapar por medo. Isso, enfatiza ainda Marzia Ceschia - comporta saber acompanhar com paciência, misericórdia, mas também com clareza, as vivências das mulheres e dos homens de hoje, as suas feridas, as suas dificuldades no amar e a sua necessidade de amor". E, para acompanhar, a primeira preocupação não deve ser “corrigi-los para que ‘se comportem bem’, mas - acrescenta a teóloga - facilitar condições que permitam experimentar o bem, relações que acolhem, que curam e libertam, também nas nossas comunidades cristãs”.
Partiremos, portanto, da exigência de reformular, com modalidade, linguagem e propostas originais, aquelas grades curriculares para a afetividade que muitas vezes resultam datadas, quando não negligenciadas por medo de não ter “as palavras certas para falar”, para se fazer compreender plenamente. “A Igreja – intervém Michela Simonetto – está mostrando cada vez mais que sabe perceber a emergência educacional que existe, ciente de que para acompanhar e estar ao lado das novas gerações é necessário estar na escuta, superando posições de julgamento”. Não se trata apenas de propor reflexões teóricas. Para além de alguns percursos de leitura sobre a educação de gênero e sobre as dinâmicas que desencadeiam a violência, a temática será enfrentada com uma perspectiva psicológica, pedagógica, sociológica com aprofundamentos bíblicos e teológico-espirituais e serão apresentadas algumas possíveis estratégias para a prevenção da violência de gênero nos vários contextos educativos, com um envolvimento ativo de parte dos alunos.
“Chegamos a uma consciência que – continua a psicóloga – a partir do diálogo com as ciências humanas, está progressivamente saindo do plano teórico para se tornar cada vez mais prática. Assistimos a uma transição que defino como revolucionária e que se concretiza na ativação de cursos de formação destinados a sacerdotes, religiosos, educadores pastorais, catequistas, animadores e pais com o objetivo de fornecer aos adultos conhecimentos e instrumentos úteis na abordagem do mundo juvenil".
Enfrentar o discurso da igualdade de gênero de uma perspectiva teológica também significa purificar a linguagem dos restos do passado e abrir uma nova temporada de verdade. “Claro - confirma Marzia Ceschia – por exemplo, em vez da igualdade prefiro utilizar reciprocidade. “Igualdade” ainda me parece uma forma de justaposição, "reciprocidade" parece-me, em vez disso, um termo mais apropriado para pensar um dar e receber de ambas as partes em jogo. A diferença é tutelada precisamente por essa troca. Não basta colocar no mesmo plano, mas é necessário criar as condições para que cada uma e cada um possam se expressar. É um longo caminho, mas chegaremos lá".
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Igualdade de gênero, está chegando um curso de teologia. Artigo de Luciano Moia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU