01 Fevereiro 2018
Se você é um católico LGBTQI, você é um movimento. Sei que isso parece contraditório. Os movimentos não têm que ver com um monte de pessoas, não apenas um indivíduo, causando algum tipo de impacto ou impulso em direção a um bem desejado ou em resposta à injustiça? Deixe-me explicar.
O artigo é de Christopher Pett, presidente da DignityUSA, uma organização nacional comprometida com a igualdade para todos os católicos LGBTQ, membro fundador da Global Network of Rainbow Catholics (Rede Global de Católicos Arco-íris) e da coalizão Equally Blessed (Igualmente Abençoados), em artigo publicado por Advocate, 23 de janeiro de 2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Recentemente, num encontro em um feriado, um participante que se identifica como um homem gay católico falou sobre o quanto ele acredita que a Igreja Católica esteja caminhando em uma direção positiva. Ele chegou a identificar alguns líderes de igreja locais como exemplos de indivíduos com quem ele teve conversas profundas sobre sexualidade gay e inclusão na igreja, e mencionou uma organização LGBTQI arquidiocesano local como um exemplo de progresso.
Quando eu chamei a atenção para o fato de que a organização citada foi fundada na expectativa de que seus membros aceitassem o ensinamento oficial da Igreja (ou seja, ser gay é moralmente desordenado e intrinsecamente mal) e que espera que seus membros sejam celibatários, ele respondeu: "Ninguém me pediu isso."
Não quero ser duro demais com esse indivíduo, a quem eu respeito e que tem muitos dons para oferecer à nossa comunidade, mas fiquei surpreso pela sua falta de conhecimento e compreensão do que realmente significa ser LGBTQI e membro da Igreja Católica. Na realidade, a experiência desta pessoa não é a experiência de muitos outros católicos LGBTQI, e me senti convidado a respeitosamente pontuar isso.
Quer saibam ou não, só por ser total e abertamente LGBT ou I e católico, faz-se parte de um esforço longo e vital para efetuar a mudança na maior e mais poderosa instituição do planeta. Cada um de nós é um movimento.
Cada vez que você abraça sua orientação sexual ou identidade de gênero e a sua fé católica, você está desafiando a posição da Igreja de que existe um conflito inerente entre estes aspectos da sua individualidade.
A cada dia em que você vive em uma relação amorosa, respeitosa e sexualmente íntima, está resistindo ao poder dessa instituição.
Cada vez que você oportuniza que membros católicos da família, amigos, colegas e outros fiéis abracem seu verdadeiro eu, você ajuda a aproximar o dia em que o falso dogma por muito tempo promulgado pelo Vaticano e pelas autoridades da Igreja no mundo todo finalmente vai desmoronar. Aí então as pessoas LGBTQI serão finalmente vistas como totalmente humanas, encarnando o divino, assim como nossos irmãos heterossexuais e cisgênero. Quando os ensinamentos prejudiciais e desumanizadores forem finalmente excluídos, os fundamentos opressivos de muita discriminação social e jurídica desaparecerão.
Foi preciso uma experiência em uma festa de férias para inflamar minha crença na autoagência novamente, de não esperar que alguém crie a próxima hashtag ou slogan para abordar o que eu sei que não é certo ou justo para muitas pessoas.
Eu preciso abraçar continuamente essa crença de que cada um de nós é um movimento, chamado a alterar percepções, contar nossa história, se pronunciar, aparecer e às vezes agir. Fazer perguntas. Desafiar autoridades que desejam mascarar o ensinamento da Igreja Católica dentro de um casulo de "cuidado pastoral" que se estende apenas àqueles que se submetem à estrutura oficial e ao mesmo tempo omite os que se mantêm à margem em sua verdade e integridade.
Eu acredito que ser um movimento também significa correr o risco como indivíduo de articular uma visão de um futuro desejado, valorizado e repleto de Espírito Santo. Precisamos fazer mais do que simplesmente resistir ao que somos contrários, mesmo nesse ambiente político e social vergonhoso e extremamente desafiador. Como uma pessoa religiosa, imagino uma Igreja verdadeiramente inclusiva e justa, que respeite todos os crentes e seus dons. E ao articular essa opinião, convido os outros a compartilhá-la. Este compromisso pode ser formal ou informal, espontâneo ou contínuo. Quando sou um movimento, sou visionário e tenho esperança, enquanto também responsabilizo as estruturas de poder.
Sim, eu sou um movimento. Acredito que nenhum de nós, enquanto membros da comunidade humana ou religiosos, deve perder a oportunidade — e direito — de trazer todo o calor e a bênção de uma sociedade justa e para nós, católicos, uma Igreja justa e respeitosa.
Bem-vindo a um novo ano. Seja ousado! Seja belo! Seja o movimento que você é!
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Os últimos rebeldes: católicos queer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU