19 Junho 2024
"Como criar um mundo de paz, liberdade e fraternidade? Eu poderia propor-lhes uma série de princípios, como faço nas minhas encíclicas. Mas aqui estamos no âmbito do concreto, porque não há tempo a perder. Vocês devem descobrir o como aqui, nos seus países ou associações de países a na ONU. Se se pode encontrar o como pelo mal, por que não pelo bem?", escreve José Manuel Vidal, em texto que simula o discurso que o Papa Francisco deveria ter proferido no encontro do G7, no artigo publicado por Religión Digital, 15-06-2024.
Vidal é doutor em Ciências da Informação, licenciado em Sociologia e Teologia e diretor do Religión Digital.
“Caras senhoras, distintos senhores,
Obrigado por me convidar a compartilhar parte de seu encontro. Sinto-me honrado. Como vocês sabem, estava previsto que eu dedicasse meu discurso para falar sobre a 'fascinante e extraordinário invenção da Inteligência Artificial'.
Eu tinha preparado dois discursos sobre o tema: aquele longo e aquele curto. Mas algo me diz por dentro (talvez seja um impulso do Espírito) para abandonar os discursos e aproveitar esta enorme oportunidade que vocês estão me propiciando para falar com o coração.
Já sei que essa forma de proceder vai contra os costumes e as tradições diplomáticas, mas sinto que nestes momentos, o meu dever é apelar às suas consciências como políticos, como pessoas que, além de desfrutarem do poder, com as suas proverbiais amarguras, querem dedicar as suas vidas à arte do bem comum, ao milagre de servir as pessoas, porque a boa política é o melhor exercício da caridade e do amor.
Vocês são os líderes dos seus países, dos maiores e mais poderosos países do mundo. Vocês são os senhores do mundo. Para o bem e para o mal. E das suas decisões dependem o bem-estar ou o mal-estar das pessoas, das suas vidas e da vida da nossa casa comum.
Quero pedir-lhes, com angústia, com dor, com lágrimas (se Deus me conceder este dom) para conseguir a paz. Não estou dizendo para você lutar por ela ou buscá-la. Não estamos mais nesses momentos. Eu lhes peço para a conseguir. Que vocês consigam a paz: que vocês a estipulem, que vocês a implementem, que se calem as armas e parem de matar mães, idosos e crianças inocentes. Parem, por favor! No nome de Deus, consigam a paz!
Vamos parar com essas guerras sem sentido, que são uma loucura: aquela da martirizada Ucrânia, aquela da Palestina e de Israel, a de Mianmar, a do Sudão do Sul e muitas outras guerras em pedaços que cobrem de sangue o nosso mundo.
Parem a indústria das armas, que está fazendo fortuna ao preço de disseminar o mundo de cadáveres. Parem esse comércio ilícito e mortal.
Construam um mundo em paz, onde a miséria e a pobreza não reinem. Porque hoje vocês dispõem de meios suficientes para erradicá-las completamente. Sem muitos esforços. Com vontade política.
Peço a vocês com veemência que para construir um mundo para todos, sem muros, com fronteiras abertas. Um mundo baseado na fraternidade. Um mundo onde o direito de emigrar ou não emigrar seja respeitado. E que aqueles que emigram não devam fazê-lo arriscando literalmente as vidas.
Se conseguirem que não haja guerras, que a indústria armamentista e as grandes multinacionais do capitalismo selvagem e sem alma não governem o mundo, vocês também estarão realizando um mundo de paz e sem muros. Uma casa comum, limpa e arrumada, onde todos podemos viver, com as nossas diferenças, mas em paz e liberdade.
Já sei que vocês podem me definir como um utópico e um sonhador. Já sei que vocês podem me acusar de não ter os pés no chão. Mas também sei que é minha obrigação falar-lhes o que vem da alma.
Estou também ciente de que não existem soluções fáceis para problemas complexos, mas também sei, por experiência e pelos meus muitos anos, que vocês realizaram algumas das coisas que tinham proposto. Mas realmente proposto, não na campanha eleitoral e sobre o palanque.
Como criar um mundo de paz, liberdade e fraternidade? Eu poderia propor-lhes uma série de princípios, como faço nas minhas encíclicas. Mas aqui estamos no âmbito do concreto, porque não há tempo a perder. Vocês devem descobrir o como aqui, nos seus países ou associações de países a na ONU. Se se pode encontrar o como pelo mal, por que não pelo bem?
Por favor, eu lhes peço. Coloquem-se à obra. Não há tempo a perder para estancar a hemorragia humana que está tingindo o mundo de vermelho. Eu, como Moisés, retornarei ao Vaticano e lá convocarei os fiéis de todas as raças e religiões. E juntos, de joelhos, rezaremos dia e noite, com os braços cruzados até que vocês consigam a paz, a fraternidade e a liberdade no mundo. Amém".
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O não discurso do Papa aos senhores do mundo: em nome de Deus façam a paz! Artigo de José Manuel Vidal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU