20 Mai 2024
Reproduzimos a seguir a nota, publicada pelo Instituto de Biociências (IBIO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), referente à abertura de um novo canal para o escoamento da água da laguna dos Patos para o mar, 13-05-2024.
Foto: Instituto de Biociências (IBIO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Em complementação a Nota do IPH o IBIO vem trazer os seguintes apontamentos:
Na prática não se trata de abrir um canal de escoamento. Trata-se de fazer uma nova ligação entre a laguna dos Patos e o mar, que poderá proporcionar tanto a saída de água doce quanto a entrada de água salgada mudando todo o ciclo da laguna, trazendo prejuízos ao ambiente e ao próprio uso humano, como na pesca, agricultura e navegação.
1 – Outro canal não garante o escoamento, pois este depende do nível das marés, condições climáticas e regime de ventos, como já ocorre no canal de Rio Grande.
2 – Outra ligação com o mar pode diminuir a vazão de água e assorear o canal em Rio Grande, prejudicando a circulação de água e a navegação.
3 – Toda a produtividade pesqueira de camarões, tainhas, bagres, e outras espécies dependem do ciclo natural de entrada de água do mar que regula a salinização na porção sul da laguna e da livre passagem pelo canal de Rio Grande.
4 – A abertura de outro canal mais ao norte pode proporcionar a salinização da porção norte da laguna impedindo o uso da água da laguna na produção de arroz e outros usos em vários municípios que margeiam a laguna dos Patos.
É essencial adotar soluções que integrem a natureza em seu núcleo. Isso significa preservar e restaurar ecossistemas naturais, como florestas, campos e banhados, que desempenham um papel vital na redução do risco e impacto de enchentes. A vegetação nativa possui raízes profundas que ajudam a estabilizar o solo e absorver grandes quantidades de água durante tempestades, agindo como esponjas naturais. Além disso, o território precisa ser ordenado, impedindo construções na planície de inundação de rios ou mesmo o aterro de banhados, que funcionam como áreas de amortecimento de enchentes e não servem à ocupação urbana, bem como construções ou plantações em encostas e topo de morros que sofrem risco de desmoronamento. Estratégias de gestão sustentável da água em cidades, como a criação de áreas de infiltração e bacias de retenção, podem ajudar a retardar o escoamento da água da chuva, reduzindo assim a probabilidade de enchentes. Essas medidas não apenas protegem as comunidades humanas contra os impactos das enchentes, mas também promovem a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas locais. Portanto, qualquer plano de adaptação e mitigação de enchentes em um mundo em rápida
transformação climática deve reconhecer a importância crítica de trabalhar em harmonia com a natureza. É preciso destacar ainda que em uma situação emergência é preciso ter cuidado, pois não há soluções fáceis e rápidas. Qualquer intervenção necessita de estudos profundos e detalhados, pois pode acarretar em riscos sérios para o meio ambiente e às populações humanas de toda região envolvida.
Porto Alegre, 13 de maio de 2024.
Instituto de Biociências