O sinal profético do Papa sobre a Inteligência Artificial. Artigo de Enzo Bianchi

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01 Mai 2024

"Esse convite nasce do desejo de conhecer um pensamento humanista nesse alvorecer da inteligência artificial. A IA é uma grande inovação, pode ser uma ideia fundamental para o bem social, mas fica totalmente em segundo plano quando estão em ato conflitos entre blocos de poder e guerras sangrentas. Também pode ser usada para propósitos maléficos, vigilância em massa, guerras cibernéticas, automação de armas letais", escreve o monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 29-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Na minha longa e intensa vida eclesial ouvi diversas vezes a justificativa do bom propósito para comportamentos realizados por eclesiásticos. Sim, na Igreja se age muitas vezes assim até para operações nem sempre obedientes à prudência, à justiça e sobretudo ao Evangelho. Esse foi um costume em voga na igreja: por um bom propósito calava-se diante da injustiça, por um bom propósito fazia-se silêncio sobre o genocídio nazista, por um bom motivo se permitia a perseguição dos cristãos, obtendo, entretanto, o acordo com o governo, para um bom propósito, se violavam as leis eclesiásticas. O Papa Bento e o Papa Francisco interromperam esse tipo de justificação “para um bom propósito” e trouxeram de volta o primado da justiça, do Evangelho, do "sim-sim, não-não" na sua atuação cotidiana: essa mudança significará muito para a reforma espiritual da igreja fortemente desejada por Francisco. Agora recebemos a notícia de que o Papa Francisco estará presente no G7 a convite e fará uma intervenção.

Esse convite nasce do desejo de conhecer um pensamento humanista nesse alvorecer da inteligência artificial. A IA é uma grande inovação, pode ser uma ideia fundamental para o bem social, mas fica totalmente em segundo plano quando estão em ato conflitos entre blocos de poder e guerras sangrentas. Também pode ser usada para propósitos maléficos, vigilância em massa, guerras cibernéticas, automação de armas letais. Se a IA não visa o bem social, corre o risco de acelerar o fim da humanidade. É por isso que uma palavra do Papa Francisco pode ser urgente. O Papa se encontrará diante dos sete grandes: os archontes, como os definia o apóstolo Paulo, os donos do mundo, aqueles que possuem e decidem o uso de armas estarão presentes e alguns deles são envolvidos em guerras ferozes. São os países mais ricos sob a hegemonia dos Estados Unidos, são de fato o Ocidente empenhado neste momento numa guerra contra a Rússia e num apoio a Israel contra os palestinos.

Teria sido oportuno convidar também o oitavo membro, a Rússia, que às vezes participava, para um G8 capaz de confronto. E o Papa que se encontrará diante desses poderosos terá que, como os profetas e como Jesus, endurecer o rosto para expressar um juízo e implorar a paz. Terá que dar um sinal profético como Jesus diante de Herodes quando ficou em silêncio e nem uma palavra saiu de sua boca, ou como diante de Pilatos.

Não será fácil, mas se não o fizer seria apenas uma presença sentada à mesa dos poderosos do mundo e o Evangelho do qual é portador ficaria ocultado. O Papa Francisco é um profeta, conhece a parrésia, não teme e permanece firme mesmo diante de possíveis oposições e, portanto, poderá enunciar numa síntese performativa todo o seu magistério sobre a paz, pedindo liberdade e justiça. Mais do que nunca aquele dia de confronto em Borgo Egnazia, o Papa Francisco poderá manifestar o seu estar no mundo sem ser do mundo. Por isso, como Jeremias, será um profeta suspenso entre céu e terra.

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