A Igreja alemã “varre” os neonazistas dos cargos diocesanos

Foto: Christian Lue | Unsplash

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27 Abril 2024

  • "Quem represente um partido que difame, insulte, assedie ou negue o direito de asilo a pessoas por sua origem, língua, religião ou cultura e, portanto, atente contra sua dignidade humana, não é aceitável no serviço da Igreja."

  • Essa preocupação da Igreja alemã já se evidenciou no mês passado com a publicação do documento "O nacionalismo étnico e o cristianismo são incompatíveis", onde se condenava inequivocamente o crescimento da extrema-direita.

  • Os bispos têm encorajado e participado de algumas das mais de 100 manifestações convocadas até agora este ano contra o AfD depois que foi revelada uma reunião secreta sobre a "remigração", termo que não é nada mais do que um plano para, caso cheguem ao poder, realizar uma expulsão em massa de estrangeiros.

A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 26-04-2024. 

Os bispos alemães não escondem sua preocupação com o aumento da extrema-direita no país, que foi traumatizado pela era nazista. No entanto, a onda populista global também provocou lá o crescimento de novas formações de extrema-direita, como o AfD (do qual se diz que é dirigido por neonazistas), ganhando cada vez mais poder e presença parlamentar e consolidando-se como sérias alternativas de governo, inclusive em relação às eleições europeias de 9 de junho.

No meio de tudo isso, pesquisas recentes confirmam "uma clara guinada à direita entre a população jovem. Isso se reflete nas preferências políticas dos jovens de 14 a 29 anos. Enquanto os partidos no governo de coalizão continuam perdendo popularidade, o AfD é particularmente popular", segundo um relatório divulgado na semana passada, que constatou que o partido ultra seria o preferido (com 22%) por esse segmento etário.

Essa séria preocupação da Igreja alemã já se evidenciou no mês passado com a publicação do documento O nacionalismo étnico e o cristianismo são incompatíveis, onde se condenava inequivocamente o crescimento da extrema-direita, e até mesmo alguns bispos foram vistos encorajando e participando de algumas das mais de 100 manifestações convocadas este ano contra o AfD depois que foi revelada uma reunião secreta sobre a "remigração", termo que nada mais é do que um plano para, se chegar ao poder, realizar uma expulsão em massa de estrangeiros.

Precisamente por essa razão as dioceses decidiram remover de suas funções em seus órgãos - mesmo aqueles realizados de maneira voluntária - os apoiadores de partidos de extrema-direita, como aconteceu dias atrás com Christoph Schaufert, vice-líder do AfD na assembleia estadual de Sarre, que em fevereiro passado defendeu publicamente a "remigração".

Schaufert se recusou a renunciar a essas opiniões e, consequentemente, foi destituído de seu cargo no conselho paroquial de Neunkirchen e declarado inelegível para qualquer outro cargo na diocese de Trier.

"O Evangelho não é apolítico"

"Quem representar um partido que difame, insulte, assedie ou negue o direito de asilo a pessoas por sua origem, língua, religião ou cultura e, portanto, atente contra sua dignidade humana, não é aceitável no serviço da Igreja", afirmou o vigário-geral de Trier, o padre Ulrich von Plettenberg, conforme relatado pelo The Tablet.

Da mesma forma, a Diocese de Münster declarou que extremistas não podem fazer parte de seus conselhos paroquiais, e várias associações católicas nacionais declararam que os ultradireitistas não são bem-vindos. "O Evangelho não é apolítico. Pensar que se trata apenas do céu ou do inferno é um erro", sentenciou Dom Gerhard Feige, da Diocese de Magdeburgo, sempre muito crítico em suas declarações ao AfD.

"Não podemos ficar de braços cruzados enquanto um partido tenta abolir a democracia usando os meios da democracia", disse Dom Stefan Hesse, da Arquidiocese de Hamburgo, que em janeiro passado, antes mesmo do pronunciamento da Conferência Episcopal Alemã, juntou-se aos bispos do leste do país em uma declaração condenando o AfD.

"Na Alemanha, experimentamos o que significa reagir tarde demais ou não reagir de forma alguma", observou o arcebispo de Berlim, Dom Heiner Koch, onde em janeiro um conselheiro leigo da arquidiocese foi obrigado a renunciar após ser revelada uma reunião com figuras da ultradireita.

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