05 Abril 2024
Um grupo de cardeais fez perguntas profundas ao cardeal Jorge Mario Bergoglio sobre a Teologia da Libertação e as suas consequências políticas antes de decidir elegê-lo papa em 2013, disse o Papa Francisco.
A reportagem é de Justin McLellan, publicada por National Catholic Reporter, 04-04-2024.
Na livro-entrevista “El Sucessor”, publicada na Espanha em 3 de abril, o papa disse que “não percebia” que era um candidato sério ao papado em 2013, mas que começou a juntou as peças de uma campanha para elegê-lo depois que um grupo de cardeais lhe perguntou sobre a Teologia da Libertação – uma abordagem teológica desenvolvida na América Latina que prega uma “opção preferencial pelos pobres” e busca libertar as pessoas da injustiça e do pecado.
Na entrevista, Francisco disse ao jornalista espanhol Javier Martínez-Brocal que um grupo de cardeais europeus o “incomodou” com perguntas durante um almoço entre as sessões de votação em 13 de março de 2013, poucas horas antes de ele sair para a varanda da Basílica de São Pedro e apresentar-se ao mundo como o papa recém-eleito.
“Eles me perguntaram coisas sobre a América Latina”, disse ele. “Eles queriam que eu falasse com eles sobre o aspecto político da Teologia da Libertação, o suposto desvio político dessa teologia”.
Como arcebispo de Buenos Aires, o cardeal Bergoglio abraçou a opção preferencial pelos pobres promovida pela TdL, muitas vezes atendendo aos bairros mais pobres da capital argentina e enviando padres para trabalhar nessas áreas, mas criticou o "recurso à hermenêutica marxista" desta teologia.
A sua conversa com os cardeais pareceu acalmar os nervos, uma vez que o cardeal Bergoglio foi eleito papa naquela noite.
Francisco disse que, apesar de ter obtido votos nas cédulas do conclave na noite de 12 de março e na manhã de 13 de março, “eu os interpretei como ‘votos substitutos’”, ou votos emitidos por eleitores que esperam para ver quem emerge como candidato claro antes de votar em seus verdadeiros candidatos.
Ele lembrou que vários cardeais foram falar com o cardeal Angelo Scola, de Milão, um candidato amplamente divulgado como favorito papal pela imprensa, e compartilhou que mais tarde soube que o cardeal Scola lhes disse para “votarem em Bergoglio”.
O papa disse ainda que não escreveu o discurso que fez a outros cardeais em reuniões pré-conclave, no qual condenou a ideia de uma “Igreja autorreferencial” que prende Jesus dentro de si e impede a evangelização, mas sim que veio para ele em uma conversa de carro com outro cardeal enquanto se dirigia para uma reunião.
Francisco disse que não tinha dúvidas sobre aceitar tornar-se papa depois de ser eleito e rejeitou os rumores de que havia considerado escolher o nome João em vez de Francisco.
Após a eleição, disse o papa, ele recusou usar os sapatos vermelhos típicos de um papa “porque eu uso sapatos ortopédicos”. Ele também recusou um anel que lhe foi oferecido e quis manter sua própria cruz peitoral em vez de usar uma de joias.
Vestir-se de branco sem a mozzetta papal vermelha – vestimenta semelhante a uma capa que é um sinal de autoridade – “me pareceu o mais simples”, disse ele. Mas acrescentou que “não foi uma decisão premeditada, tudo aconteceu com muita naturalidade”.
Depois de deixar a sacristia da Capela Sistina, ele caminhou para cumprimentar o cardeal Ivan Dias, de Bombaim, na Índia, e tropeçou em um degrau invisível. “O primeiro passo em falso do papa”, brincou com aos cardeais próximos, que riram em resposta.
O papa disse que, ao sair para a varanda da Basílica de São Pedro, acidentalmente quebrou o protocolo ao não sair ao lado do camerlengo, o cardeal Tarcisio Bertone, mas sim com outros dois cardeais. E observou que não tinha pensado no que diria à multidão que esperava ouvir as primeiras palavras do novo papa na Praça São Pedro, mas “simplesmente saiu de mim: ‘Irmãos e irmãs, boa noite!'"
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Cardeais preocupados com Teologia da Libertação no conclave de 2013, diz papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU