Bandeira branca. A Semana Santa começou: Francisco, a paz e a vitória dos Barrabás belicistas

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26 Março 2024

Nas últimas duas semanas, várias bobagens foram escritas ou proferidas pelos ultras belicistas contra o Papa que pediu, numa entrevista à Rádio e Televisão Suíça, o fim da guerra na Ucrânia com essas palavras, não sem realismo: “Acredito que é mais forte quem vê a situação, quem pensa no povo, quem tem a coragem da bandeira branca, de negociar".

O artigo é de Fabrizio D'Esposito, professor italiano, publicado por Il Fatto Quotidiano, 25-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Assim, houve quem até comparasse a eventual disponibilidade de Zelensky para negociar com a “rendição” perdedora de Cristo primeiro diante do Sinédrio e depois diante de Pôncio Pilatos: como se a Paixão e Morte de Jesus fossem um fato histórico banal, sem nada a ver com a estrutura da fé católica, cujo conhecimento, ao contrário, ajudaria a compreender melhor o significado do apelo de Francisco. Inacreditável. Entre os milhares de respostas possíveis, vale lembrar o que o inalcançável e agnóstico Jorge Luis Borges, argentino como Francisco, escreve num conto das Ficções, Três Versões de Judas, em que o protagonista é um heresiarca sueco imaginário de nome Nils Runeberg. Eis aqui: “Limitar o que padeceu (Cristo, ndr) à agonia de uma tarde na cruz é blasfematório.”

Justamente.

Jesus foi crucificado às nove da manhã e morreu às três da tarde, na sexta-feira. E aquela que começou ontem com o Domingo de Ramos é a Semana Santa que culmina com a Páscoa.

Das hosanas de acolhimento em Jerusalém ao “crucifique” gritado pela multidão no espaço de poucos dias. Antes de chegar a Jerusalém, “ao avistar a cidade”, eis como o evangelista Lucas relata as primeiras palavras de Jesus: “ele chorou por causa dela e disse: ‘Ah, se ao menos você tivesse reconhecido este dia e entendido quanto seria bom para você! Mas agora é tarde’" Uma passagem dramaticamente atual.

Paz, então. E amor. Esse é o sentido primordial do sacrifício cristão. E na economia da redenção, a traição de Judas é tão funcional quanto a condenação de Jesus (longe de rendição). Na primeira das quatorze “estações” da Via Sacra medita-se “Jesus é condenado à morte”. A multidão que vota em Barrabás, desafiada e incitada pelos sumos sacerdotes (epifania bimilenar do populismo bradado), e Jesus que permanece em silêncio diante das acusações. Barrabás estava na prisão, um “bandido” culpado de motim e assassinato.

Na Sexta-Feira Santa, há um ano, seis meses antes de 7 de outubro, essa foi a meditação sobre a Via Sacra no Coliseu, que Francisco, no entanto, seguiu de Santa Marta porque estava gripado: “Barrabás ou Jesus? Eles têm que escolher. Não se trata de uma escolha qualquer: trata-se de decidir onde estar, que posição assumir nos complexos acontecimentos da vida. A paz que todos desejamos não nasce por si só, mas aguarda uma nossa decisão. Então, como hoje, somos continuamente chamados a escolher entre Barrabás ou Jesus: rebelião ou mansidão, as armas ou o testemunho, o poder humano ou a força silenciosa da pequena semente, o poder do mundo ou o do Espírito. Na Terra Santa parece que a nossa escolha recaia sempre sobre Barrabás. A violência parece ser a nossa única linguagem." Dos Barrabás de Gaza aos do front ucraniano. O que mais acrescentar?

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