25 Março 2024
"De acordo com o World Resources Institute, em 2040 'a Itália enfrentará um estresse hídrico muito crítico'. Espera-se menos de 50% de disponibilidade de água para o país. Em nível mundial, até 2025 até 3,5 bilhões de pessoas poderão sofrer escassez de água. A ONU prevê que em 2030 o a população mundial só poderá usufruir de 60% da água de que necessita", escreve o padre comboniano Alex Zanotelli, em artigo que foi publicado por Il Manifesto, 24-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nunca como hoje o Dia Mundial da Água assume tanta importância. Estamos vivendo um desastre neste planeta e, em questão da água, é uma crise assustadora. Simplesmente vou citar alguns dados. O governo da Catalunha tomou decisões muito drásticas dado que estão atravessando uma seca assombrosa: o governo decidiu reduzir o consumo de água em 80% para a agricultura, em 50% para a pecuária e 25% para as atividades industriais. O governo também decidiu limitar o consumo doméstico diário a 200 litros de água por pessoa. Também é proibido acionar as fontes ornamentais, lavar carros ou encher piscinas. As medidas vão estar em vigor por pelo menos 15 meses. Isso é apenas uma indicação do que está acontecendo.
Mesmo na Itália a crise é assustadora. As geleiras estão derretendo diante dos nossos olhos. Não neva mais. Temos que usar a água até para fazer neve artificial. Mas ficamos loucos? Chove cada vez menos e temos rios reduzidos a riachinhos. A Sicília está em seca desde dezembro. Uma situação muito grave e mesmo assim parece que não nos diz respeito.
Os cientistas dizem claramente: não haveria vida se não houvesse água. Mesmo assim privatizamos a água para que seja explorada na Bolsa de Valores de Chicago. Estamos brincando com o fogo. O superaquecimento é o produto final do uso de petróleo e carvão para obter energia. Ou conseguimos abandonar os fósseis ou é realmente o fim.
À medida que continuarmos com o consumo indiscriminado, não só teremos menos água, mas enfrentaremos crise após crise. Na África, a zona do Sahel já se tornou inabitável, atingindo até 60 graus com a terra virando areia e as pessoas obrigadas a fugir. Haverá migrações de massa: populações que necessariamente terão que migrar para sobreviver.
Haverá guerras pela água, várias já estão em curso como aquela de Israel. Uma das razões fundamentais são os recursos hídricos: Israel controla as fontes dentro do muro. Mas em breve irá estourar a Grande Guerra pela barragem do Nilo Azul entre Etiópia, Sudão e Egito, porque as populações vivem dessa água e ela será cada vez menos disponível.
Devemos forçar os nossos governos a abandonarem os combustíveis fósseis como necessidade histórica. Mas os governos não querem saber disso porque são prisioneiros das multinacionais petrolíferas e dos bancos. A UE está renegando o Acordo Verde. Devemos ter a coragem que têm a Última Generazione e a Extinction rebellion, a coragem da desobediência civil para chamar a atenção.
De acordo com o World Resources Institute, em 2040 “a Itália enfrentará um estresse hídrico muito crítico”. Espera-se menos de 50% de disponibilidade de água para o país. Em nível mundial, até 2025 até 3,5 bilhões de pessoas poderão sofrer escassez de água. A ONU prevê que em 2030 o a população mundial só poderá usufruir de 60% da água de que necessita.
Dispomos de poucos anos para inverter a tendência: se não conseguirmos deixar em grande parte os OGM, os fósseis, serão desencadeados na atmosfera fenômenos dos quais não se poderá mais voltar atrás.
É por isso que realmente se torna urgente sair às ruas. É por isso que considero importante o dia mundial da água, porque nos lembra que existe um enorme problema. O Papa Francisco na Laudato si' chama a água de “direito à vida”, a fonte de toda a vida. Então vamos nos empenhar realmente para vencer essa grande batalha da civilização.
O Fórum Nacional dos Movimentos pela Água realizará um encontro nos dias 20 e 21 de abril em Nápoles. Convidamos realmente todos neste momento importante, dado que Nápoles é a única grande cidade que conseguiu ter a água pública gerida por uma empresa especial que pode cobrir os custos, mas não há lucro. Lá nos encontraremos novamente para gritar sobre a importância de voltar a ser público o serviço de abastecimento hídrico. Com o referendo em 2011, cerca de 21 milhões de italianos disseram que esses recursos tinham de sair do mercado, o que não se pode lucrar em cima da água. Temos que lutar para realmente conseguir isso.
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O mundo em chamas. Artigo de Alex Zanotelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU