14 Março 2024
"O bom (ironia) é que não vai faltar água para esfriar os computadores dos centros de dados e nós vamos poder continuar com o uso de redes sociais nos nossos celulares. Já crianças da América Latina não têm tanta certeza se terão água potável para beber", escreve Edelberto Behs, jornalista.
Acessar a internet, dirigir perguntas ao ChatGPT, assistir streamings, usar aplicativos online, armazenar fotos na nuvem são atividades que consomem... água. É o que mostra reportagem de Manuel G. Pascual, publicada no jornal espanhol El Pais, replicada no portal do IHU em 17-11-2023. Para cada 5 a 50 prompts (perguntas ou instruções), o ChatGPT consome meio litro de água!
Os centros de dados, informa o repórter do El País, comportam torres de computadores que carecem de resfriamento. As megaempresas de tecnologia são, pois, grandes consumidoras de água... potável. Água que depois de refrigerar essas máquinas não pode mais ser consumidas por bocas humanas.
“Um estudo recebido de Javier Farfan e Alena Lohrmann, que leva em consideração os dados de consumo atuais e as perspectivas de crescimento econômicos, estima que a Europa precisará de mais de 820 milhões de metros cúbicos de água por ano a partir de 2030 apenas para que possamos usar a internet”, informa o El País.
Já o relatório “A criança mudada pelo clima”, que o Fundo da ONU para a Infância (Unicef) produziu para a 28ª Cúpula do Clima, revelou que, no ano passado, um total de 953 milhões de crianças estavam expostas a estresse hídrico. Cerca de 45% estavam expostas em áreas com vulnerabilidade hídrica alta ou extremamente alta.
Em 2050, estima o Unicef, o total de crianças sofrendo carências hídricas deverá chegar a 988 milhões. A agência aponta que a maior parte das crianças expostas a esta situação vive em regiões do Oriente Médio, Norte da África e Sul da Ásia. “Nessas áreas, os recursos hídricos são limitados e a disponibilidade se reduz por causa do lençol freático ou risco de seca”, diz o informe.
O número de países expostos a um nível de pressão hídrica alta ou extremamente alta deve subir de 47 para 58 até 2080, prevê o Unicef. A África Subsaariana terá a maior demanda por água, vindo a América Latina em segundo lugar com maior escassez hídrica, num aumento de demanda estimado em 43% de consumo de água até 2080. Apenas 2,4% do financiamento climático dos principais fundos multilaterais para o clima apoia projetos infantis.
O bom (ironia) é que não vai faltar água para esfriar os computadores dos centros de dados e nós vamos poder continuar com o uso de redes sociais nos nossos celulares. Já crianças da América Latina não têm tanta certeza se terão água potável para beber.
Hoje 2,4 bilhões de pessoas vivem em países com estresse hídrico. São países que retiram 25% ou mais dos seus recursos renováveis de água doce para atender a demanda de consumo. As regiões mais atingidas estão centradas na Ásia Central, do Sul, e no norte da África.
Até 2025, a estimativa é que 1,8 bilhão de pessoas vão sofrer uma “escassez absoluta de água”. A maior parte da água doce para beber e saneamento vem de aquíferos subterrâneos. Muitas dessas fontes estão secando devido ao uso excessivo e estações de seca mais longas.
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Água, disponível em abundância para alguns, falta para outros. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU