28 Fevereiro 2024
"A estupidez com sua presença pomposa e numerosa é uma revelação incisiva" escreve o cardeal italiano Gianfranco Ravasi em artigo publicado por “Il Sole 24 Ore”, 25-02-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um estúpido pode ser inofensivo? O estúpido mais inofensivo sempre encontra um eco favorável nos corações e na mente de seus contemporâneos que são pelo menos tão estúpidos quanto ele: e sempre são muitos. Se um estúpido capta uma ideia, está feito: ele construirá um sistema sobre ela e obrigará os outros a compartilhá-la.
Há muitos anos tive a sorte de passar uma tarde conversando com Riccardo Bacchelli, o grande autor do Mulino del Po, em sua casa em Milão. No final, me acompanhando ao elevador, ele me disse com ironia: “Reverendo, lembre-se que pessoas estúpidas impressionam, mesmo que seja apenas pelo número!” É o tema que também permeia a citação acima proposta, extraída do Diario Notturno de Ennio Flaiano (1956). Nela encontramos intacta e viva a veia satírica desse jornalista e crítico falecido em 1972, sempre pronto a registrar os aspectos desconcertantes e paradoxais da sociedade contemporânea.
A estupidez com sua presença pomposa e numerosa é uma revelação incisiva. É difícil acrescentar algo mais às palavras contundentes de Flaiano que se entrelaçam totalmente com a observação de Bacchelli. Antigamente se dizia em latim que bonum est diffusivum sui, isto é, que o bem se derrama por sua natureza e se expande irradiando-se. Poderíamos repetir que a tolice tem a mesma eficácia avassaladora, e o efeito é grotesco porque gera uma multidão de seguidores. Poderíamos então concluir com uma elegante poetisa, a polonesa Wislawa Szymborska: “As pessoas tornam-se estúpidas por atacado e voltam a ser sábias por varejo."