20 Fevereiro 2024
Ação foi motivada pela detenção de um homem negro que sofreu uma tentativa de homicídio enquanto trabalhava
A reportagem é de Bettina Gehm, publicada por Sul21, 18-02-2024.
Um ato antirracista e contra a violência reuniu centenas de pessoas na tarde deste domingo (18), na esquina da avenida Osvaldo Aranha com a rua José Bonifácio (bairro Bom Fim). Organizado pelo Sindicato dos Motociclistas Profissionais do (RS), o ato foi motivado pela detenção do entregador Everton Goandete da Silva, homem negro que sofreu uma tentativa de homicídio enquanto trabalhava neste sábado (17) e foi algemado e detido pela Brigada Militar ao fazer a denúncia.
O ato contou com a presença de lideranças sindicais, representantes de movimentos estudantis e deputados e vereadores de Porto Alegre ligados ao movimento negro. Ao longo da mobilização, os manifestantes gritavam palavras de ordem contra o prefeito Sebastião Melo (MDB) e o governador Eduardo Leite (PSDB), que manifestou confiança nos homens e mulheres da BM em publicação nas redes sociais.
Manifestantes gritam palavras de ordem no ato em apoio ao motoboy detido logo após sofrer ataque com faca e chamar a Brigada Militar.
— Sul21 (@sulvinteum) February 18, 2024
📹 Bettina Gehm/Sul21 pic.twitter.com/BGQoJSRPNI
Tamyres Filgueira, coordenadora adjunta do Núcleo de Estudos Africanos, Afro-brasileiros e Indígenas da UFRGS (Neabi), classificou como “cruel” o que aconteceu com o entregador. “Porque o racismo é isso. É perverso com a população negra”, afirmou. “É estruturante, porque decide qual emprego tu vai ter, quanto tu vai ganhar, onde tu vai morar. Se tu vai viver hoje ou vai morrer amanhã. O Everton foi mais uma vítima dessa sociedade racista. A polícia é racista na sua ideologia”, concluiu.
Foto: Luiza Castro | Sul21
Diretor do Sindimoto e entregador por aplicativo, Jean Clezar frisou que a luta contra a violência é de todos os pobres e trabalhadores. “É muito difícil a gente ir a Brasília, protestar contra os aplicativos [de delivery], quando o nosso agressor também está aqui do lado de casa”, disse. “Nosso agressor talvez seja o Estado – não só as plataformas digitais, mas também o Estado, que precariza nosso trabalho. Que faz um negro ser morto”.
O entregador Everton Goandete da Silva estava próximo à esquina da rua Miguel Tostes com a avenida Protásio Alves, onde se concentram trabalhadores que entregam refeições para bares e restaurantes da região, quando foi atacado por um homem com uma faca, que o feriu próximo ao pescoço. Chamada ao local, a BM deteve a vítima com truculência e conduziu cordialmente o agressor, como mostram inúmeras imagens que circulam pelas redes sociais desde o episódio.
Foto: Luiza Castro | Sul21
O entregador foi liberado ainda na tarde de sábado. Segundo o advogado Ramiro Goulart, foi registrado um Boletim de Ocorrência por lesões corporais contra o agressor, que ainda pode ser modificado, já que a delegacia responsável pelo caso deveria ser a 3ª DPE, na avenida Cristóvão Colombo.
A BM intimou Everton a depor nesta segunda-feira (19) como vítima da agressão ocorrida no sábado. Os conselhos Nacional e Estadual dos Direitos Humanos, os deputados Fernanda Melchionna (PSOL), Daiana Santos (PCdoB), Matheus Gomes (PSOL) e Laura Sito (PT) acompanharão a sindicância. Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, anunciou na manhã deste domingo (18) que o governo federal vai acompanhar o caso.