14 Abril 2021
"Eu acredito que a educação antirracista, em uma sociedade baseada no individualismo e subjugação dos negros, somente alcançará seus objetivos através de processos políticos que possam melhorar as condições simbólicas e materiais dos negros", escreve Ricardo Corrêa, especialista em Educação Superior e Tecnólogo industrial.
Basta! Não quero mais! Parei de gastar energia discutindo com racistas nas redes sociais, a minha paciência atingiu o limite. Cheguei à conclusão de que não adianta apontar os estarrecedores números de assassinatos, de encarceramentos, mostrar os dados econômicos e citar reflexões de Lélia Gonzalez, Abdias do Nascimento, Clóvis Moura, Amílcar Cabral, Frantz Fanon, Angela Davis. Os racistas não dão a mínima importância. Eles não estão dispostos a conhecerem as histórias dos negros que as escolas negligenciaram e os impactos contemporâneos na sociedade. O apego pelos privilégios deixou-os resistentes a qualquer argumento que defenda a reparação histórica e os direitos para os negros. E se pensarmos com certo cuidado, concluiremos que o racismo institucional não se resolve na conversa.
O racismo institucional aparece como um conjunto de mecanismos, não percebido socialmente e que permite manter os negros em situação de inferioridade, sem que seja necessário que os preconceitos racistas se expressem, sem que seja necessário uma política racista para fundamentar a exclusão ou a discriminação. O sistema nessa perspectiva funciona sem atores, por si próprio. (Wieviorka, 2006, p.168)
Eu acredito que a educação antirracista, em uma sociedade baseada no individualismo e subjugação dos negros, somente alcançará seus objetivos através de processos políticos que possam melhorar as condições simbólicas e materiais dos negros. Não esqueçamos que a realidade concreta produz aprendizados. Para tanto, será pressionando as instituições públicas e privadas para a mudança social. Temos que bater de frente com a exploração capitalista que faz dos negros os párias na sociedade, a maioria faminta e ocupando funções de baixo valor social. Eu quero que os negros ocupem a maioria dos cargos importantes neste país, e deve ser negros que tenham compromisso político com a emancipação do nosso povo. Além disso, a justiça criminal não pode continuar elegendo os negros como inimigos sociais. Não aguentamos mais depararmos com negros ocupando a maioria das valas dos cemitérios e prisões deste país. Isso precisa mudar urgente! Precisamos humanizar os desumanizados, assim veremos destruídas as imagens estereotipadas e estigmatizadas que o racismo nos imputou. Os racistas não precisarão nos ouvir e nem gostar da gente. Estarem acordados para apreenderem a realidade é o suficiente, a nossa conquista será através da organização dos movimentos negros. Lutamos por direitos e não por afagos.
Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: educação? Educações." (Brandão, 1985, p.7)
E cá pra nós, estamos adoecidos mentalmente de tanta exposição racista. Por esses motivos, deixarei os racistas à vontade para acreditarem em racismo reverso, na existência da democracia racial e outras bobagens. Eu não estou nem aí! Seguirei compartilhando conhecimento nas redes sociais e conversando com o nosso povo. Fortalecer a consciência negra é o caminho para criarmos novas atitudes.
BRANDÃO, C. Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Abril Cultura; Brasiliense, 1985
Wieviorka, M. (2006). Em que mundo viveremos? São Paulo: Perspectiva.
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A educação antirracista surgindo do simbólico e material - Instituto Humanitas Unisinos - IHU