19 Fevereiro 2024
“O Vaticano aumenta a pressão sobre Israel porque o momento é grave, para o Médio Oriente e para o mundo inteiro. As afirmações do cardeal Pietro Parolin, que falou de uma resposta “desproporcional” em comparação com o ataque do Hamas, marcam uma mudança na diplomacia do Vaticano em relação à guerra em Gaza e representam a determinação do Papa Francisco em querer parar o massacre”. O alto prelado da Santa Sé consultado por La Stampa não tem dúvidas: “O Secretário de Estado indicou explicitamente quem tem a responsabilidade de pôr fim ao conflito neste momento: o governo liderado por Benjamin Netanyahu”.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicado por La Stampa, 15-02-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
E depois, a contrarréplica no L'Osservatore Romano aos protestos da embaixada israelense é “significativa na força e forma: um artigo com aquele destaque na primeira página, intitulado ‘Parar a carnificina’, e com um subtítulo que cita o Secretário de Estado, ‘As palavras do cardeal Parolin sobre as 30 mil mortes em Gaza’, não pode deixar de ter recebido a aprovação da Casa Santa Marta, residência do Papa Francisco", garante um cardeal.
O diretor editorial das Mídias Vaticanas, Andrea Tornielli, escreve preto no branco a posição do Santa Sé: “A escolha do lado é sempre aquela das vítimas. E, portanto, pelos israelenses massacrados em casa, nos kibutzim, enquanto se preparavam para celebrar o dia da Simchat Torá, pelos reféns arrancados das suas famílias, como pelos civis inocentes – um terço dos quais crianças – mortos nos bombardeios em Gaza. Ninguém pode definir o que está acontecendo na Faixa um ‘dano colateral’ da luta contra o terrorismo. O direito à defesa, o direito de Israel de garantir a justiça para os responsáveis pelo massacre de outubro, não pode justificar essa carnificina”. Mensagem inequívoca.
Um bispo destaca “a citação de Edith Bruck, com a qual de fato levanta-se a voz contra a política militar de Netanyahu, nomeando-o indiretamente: um outro aspecto inusitado para a diplomacia do Vaticano, geralmente extremamente prudente”. No editorial lê-se: “Entrevistada pelo Fatto Quotidiano, também a escritora e poeta – que na primavera de 1944, aos treze anos, foi capturada no gueto húngaro de Sátoraljaújhely e deportada para Auschwitz – expressou posições semelhante. Dirigiu críticas severas ao atual primeiro-ministro israelense, afirmando que ‘ele prejudicou os judeus da diáspora porque revigorou o antissemitismo que nunca havia desaparecido e agora aumentou’. Bruck acrescentou a sua convicção de que com essa política nunca se eliminarão os terroristas. Aquelas do cardeal e da poetisa judia são palavras ditadas por uma visão realista do drama em curso".
Ao mesmo tempo, um cardeal especialista em geopolítica adverte: “Atenção: a tensão não põe de forma alguma em discussão a amizade com Israel e com os judeus, a que o Papa escreveu recentemente, uma carta afetuosa na qual ressaltou que ‘as manifestações de ódio contra os judeus são um pecado contra Deus’.
A atitude da Santa Sé responde ao princípio segundo o qual ‘os amigos devem destacar as virtudes dos amigos, mas também dizer-lhes quando estão errados’. Neste caso, a crítica é política e não envolve nenhum aspecto religioso”.
Outro prelado recorda o trecho da recente entrevista ao La Stampa em que o Pontífice indica a caminho para um futuro de paz, e o quadro dentro do qual se movem e se expressam os emissários dos Sagrados Palácios: “O acordo de Oslo, com a solução de dois Estados”. Aquele acordo é “fumaça nos olhos para a galáxia judaica”, observa o monsenhor.
Outro aspecto relatado por uma fonte do Vaticano: “Parolin acelerou tons e modos depois que foi registrado o aumento do apoio internacional contra os ataques militares israelenses: primeiro Espanha e Irlanda, depois nas últimas horas a pressão veio da Itália, França e EUA, com o Presidente Biden que ligou para Netanyahu”. Emerge claramente da premissa do cardeal: a voz de quem pede para Israel parar, é agora “uma voz geral”.
Nesse interim, para a Santa Sé, o Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca de Jerusalém dos Latinos, é o ponto de referência na terra ensanguentada. “Ele está tentando com determinação mediar”, explicou o Papa. E Francisco entra em contato diariamente por videochamada com a paróquia de Gaza: “A gente se vê na tela do Zoom, converso com as pessoas”. Além disso, a outra prioridade é “sempre lá libertação dos reféns israelenses", para a qual o empenho da Igreja permanece constante.
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“Por trás das frases do Cardeal Parolin tem o consentimento de Francisco” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU