16 Fevereiro 2024
“O Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu está destruindo Israel, o nosso Estado nascido das cinzas do Auschwitz”. Quem fala com uma parrésia desarmante é Edith Bruck, escritora, diretora e poetisa que na primavera de 1944, aos 13 anos, foi retirada do gueto de Sátoraljaújhely (na Hungria) e deportada para o campo de extermínio alemão na Polônia ocupada pelos nazistas. Ela também, menos de um mês após o aniversário do Dia da Memória, optou por assinar a carta-apelo, escrita por um grupo de judias e judeus italianos que se perguntaram: “Para que serve a memória se não ajuda a deter a morte em Gaza e na Cisjordânia?”. Para Bruck – que publicou recentemente o livro I frutti della memoria. La mia testimonianza nelle scuole para a La nave di Teseo – o que está acontecendo aos palestinos é "insuportável".
A entrevista com Edith Bruck é de Alex Corlazzoli, publicada por il Fatto Quotidiano, 14-02-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Você sempre condenou o Hamas. Agora, com essa carta que subscreveu, porém, parece olhar mais para a sua casa?
Não mudei de ideia em relação ao passado. Preocupo-me particularmente com a existência de Israel, mas não concordo absolutamente com as ações do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu. O que ele está fazendo em Gaza tem consequências na Europa, mas ele não se importa com isso. Suas escolhas causaram um tsunami de antissemitismo preocupante e, no entanto, nada o detém.
No apelo vocês escreveram que "a resposta do governo israelense lhes deixou chocados: Netanyahu, para permanecer no poder, iniciou uma ação militar que já matou mais de 28 mil palestinos e muitos soldados israelenses, embora até hoje ele não tenha um plano para sair da guerra e o destino da maioria dos reféns ainda é incerto”.
Só o diálogo pode resolver esse conflito que não tem proporções. Não se podem perder 28 mil vidas: cada existência, para além da fé de cada pessoa, é preciosa: sempre o disse e continuarei a afirmá-lo. Em Israel estão se manifestando contra Netanyahu, exigindo a sua renúncia, mas o Primeiro-Ministro nunca deixará o seu cargo porque, caso contrário, terá que enfrentar processos contra si.
Ele manterá o poder enquanto puder, mas sejamos claros: também o governo que o apoia é culpado.
Sempre na carta-apelo é reiterado “que muitos judeus da diáspora não conseguem compreender a dramaticidade do presente e as suas consequências para o futuro”. Netanyahu prejudicou os judeus da diáspora porque revigorou o antissemitismo que nunca havia desaparecido e que agora aumentou. Sejamos claros: o primeiro-ministro nunca eliminará o Hamas nem o movimento Hezbollah nem o jihadismo, temo, no entanto, que esteja destruindo Israel nascido das cinzas de Auschwitz.
Hoje se fala de genocídio referindo-se ao drama vivido pelos judeus com o extermínio da Segunda Guerra Mundial. É comparável?
Não. É útil lembrar o que aconteceu para ler a atualidade, mas o Holocausto não é comparável a nenhuma outra coisa. Há uma tentativa contínua de usar termos que correm o risco de diminuir o que foi o fascismo, o nazismo, a deportação. Hoje ficou difícil tomar a palavra porque muitas vezes acaba-se sendo mistificado. Nos últimos meses, numa entrevista ao Corriere della Sera, disse ironicamente que devíamos agradecer a Matteo Salvini e Giorgia Meloni que defendem Israel: aquelas palavras foram entendidas como se eu estivesse realmente grata ao ministro e à primeira-ministra, mas o sentido era outro. Vamos prestar atenção ao uso dos termos. Não vamos esvaziá-los de seu sentido e significado.
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Israel. “Bibi mata o Estado nascido das cinzas de Auschwitz”. Entrevista com Edith Bruck - Instituto Humanitas Unisinos - IHU