08 Janeiro 2024
“A paz é fruto da justiça. Mas agora, é evidente, não é o momento para a paz entre Israel e Autoridade Nacional Palestina," constata amargamente em seu gabinete na Universidade de Belém o vice-reitor, Padre Iyad Twal. As festas de Natal estão prestes a terminar, mas na segunda-feira dos cerca de 3.200 estudantes aparecerão bem poucos para frequentar a universidade fundada pelos Irmãos das escolas cristãs, mantida pela Fundação La Salle (Focsiv). Esse é um dos projetos apoiados pela maratona rádio-televisiva “Ouse a paz. Apoie a esperança" que termina hoje na Tv2000 e Rádio Inblu 2000.
A reportagem é de Luca Geronico, publicada por Avvenire, 06-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Universidade Católica de Belém, o primeiro instituto de ensino superior aberto na Cisjordânia em 1973, continuará a ter aulas online. “Muito difícil e perigoso se deslocar com todos os pontos de controle. Eu vim porque, estudando na Faculdade de Ciências, às vezes preciso dos laboratórios. E felizmente moro perto”, explica Nádia. O nome é fictício porque os 15 estudantes presos pela polícia israelense impõem a prudência. A foto de Khaled Muhtaseh colocada num quadro de avisos, depois de ter sido morto em Jerusalém Oriental em circunstâncias pouco claras, demonstra como a guerra também entrou com prepotência na vida desses jovens palestinos.
“Lutamos para manter viva a nossa esperança. Mas acreditamos num futuro de justiça: a paz não virá sozinha”, confidencia essa jovem de 21 anos de olhar suave. As universidades, especialmente aquelas islâmicas e aquelas mantidas pela UNRWA (a agência da ONU para os refugiados palestinos), desde a primeira Intifada foram um dos terrenos mais férteis para a propagação do extremismo do Hamas.
Por essa razão, propiciar educação aos jovens palestinos é uma tarefa ainda maior neste momento delicado: abrir perspectivas para o futuro e formar uma consciência cívica e política longe de radicalismo e violência.
“Antes do dia 7 de outubro – continua o vice-reitor, padre Iyad Twal – vivíamos embalados pelo sonho dos ‘Dois povos e dois Estados’, enquanto nos esquecíamos da realidade relativa à questão israelense-palestina. A realidade é que nutrimos o fundamentalismo em ambos os lados."
This is the Islamic University of Gaza before and after. They are erasing our culture, heritage and records. This has nothing to do with Hamas. This is and always has been about wiping out Palestinians and erasing our history. Thousands of manuscripts disappeared overnight. pic.twitter.com/35ymNXyawe
— Karim Wafa Al-Hussaini (@DrKarimWafa) January 8, 2024
Um processo de paz que deveria ter começado com os Acordos de Oslo assinados em 1993, mas que encalhou na indiferença internacional quase total durante mais de uma década. “Estamos como perdidos, não há mais um sonho e faltam líderes capazes de indicar objetivos futuros...". É a admissão do fracasso de uma geração. E por isso que a missão educativa de uma universidade mantida com bolsas de estudo para mais de 90% dos estudantes, é estratégica: “Não há uma visão política unitária entre nós, palestinos, enquanto há uma visão clara do direito de viver em paz."
Como realizar esse sonho, pergunta-se o Padre Twal? “Por meio da educação: ter a honestidade de estudar e compreender bem e objetivamente a nossa situação social e política. Vejo nesses jovens a possibilidade de alcançar no futuro o objetivo da paz que não temos hoje, para não dizer abertamente que a minha geração falhou." Um sonho de paz, a ser deixado em legado para as gerações futuras.
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O desafio da Universidade de Belém: “Realizar o nosso sonho de paz” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU