22 Dezembro 2023
Os sapatos gastos e rasgados, a blusa leve demais para o frio do outono, o olhar perdido no vazio e uma pergunta recorrente: “Quando vão nos tirar daqui?”. A. tem dezesseis anos, é natural da Guiné. Deixou seu país quando era pouco mais que uma criança e somente depois de uma viagem que durou três anos conseguiu chegar aqui, por via marítima. Ele ainda está usando as roupas que lhe deram após o desembarque em Lampedusa. Sentado no chão dentro do hotspot de Taranto, lamenta não conseguir entrar em contato com a família que ficou em casa. Juntamente com os seus companheiros, todos menores de idade, é muitas vezes obrigado a pular por cima dos portões do centro, caminhar pela rodovia estadual e chegar à cidade mais próxima para encontrar um local para se conectar à Internet.
A reportagem é de Eleonora Camilli, publicada por La Stampa, 15-12-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Aqui os dias são todos iguais, sem nada para fazer” conta um jovem da Gâmbia que partiu para a Europa com o objetivo de construir um futuro melhor. Ele gostaria de estudar, mas nesse lugar suspenso é difícil: a presença de professores externos não é garantida e a falta de conexão à rede impede qualquer outra atividade didática extra. A espera é enervante, todos dizem, há quem fique nos hotspot até por meses. De locais provisórios para o primeiro acolhimento, esses centros estão se tornando estruturas limbo onde os menores migrantes com mais de dezesseis anos permanecem por períodos até muito longos, sem acesso aos serviços essenciais para promover a proteção dos jovens".
A situação é ilustrada por um monitoramento realizado pela Unicef nos lugares de fronteira e nas estruturas de emergência na Sicília, Calábria e Apúlia. O relatório conta como, do decreto Cutro até o último decreto sobre os menores (133/2023), o chamado Cutro2, houve uma lenta erosão das tutelas previstas especificamente para os migrantes menores. Começando pelas disposições que permitiram que os adolescentes de 16 aos 18 anos fossem temporariamente abrigados nas estruturas com os adultos.
"Justamente por terem sido criadas para finalidades distintas do acolhimento dos menores estrangeiros não acompanhados, os centros para os adultos não estão calibrados para as suas necessidades. As condições de promiscuidade e o acolhimento nos espaços de grupos de diferentes idades e gênero, devido à superlotação, podem comportar riscos significativos, incluindo a violência de gênero", escreve a Unicef, lembrando que essas estruturas apresentam frequentemente condições higiênico-sanitárias bastante precárias, com riscos também para a saúde das pessoas presentes.
É o caso do antigo complexo escolar de Ardore ou dos sítios de Stilo, Siderno e Portigliola, que nos momentos de intensificação das chegadas podem ser utilizados como centros de acolhimento temporário.
A organização convida, portanto, a “recolocar os direitos das crianças ao centro das políticas de gestão dos fluxos migratórios".
Entre os centros de acolhimento visitados também está o Cara da Isola Capo Rizzuto, na zona de Crotone, onde apenas uma semana atrás, uma disposição urgente do Tribunal de Estrasburgo ordenou a transferência de um menor migrante. Aqui, os operadores da organização recolheram os depoimentos de outros jovens: contam que raramente podem sair e apenas em grupo, quando há acompanhante disponível.
Alguns iniciaram aulas de italiano, mas não um verdadeiro percurso de inclusão.
“A orientação da resposta emergencial adotada corre o risco de se transformar numa emergência dos direitos dos menores, muitas vezes prejudicados por transferências inoportunas e pela falta de ativação dos serviços necessários".
No total, são seis mil menores atendidos pela organização de um total de 17 mil menores não acompanhado que chegaram à Itália desde o início do ano. São 320 os casos de grave vulnerabilidade registrados em apenas quatro meses e assistidos nos diversos projetos ativos também no norte da Itália. Entre eles há Mohamed, de 10 anos, que chegou na Itália por mar com a mãe vindo da Tunísia. O objetivo da viagem era garantir que a criança, com uma rara síndrome degenerativa, tivesse uma esperança de vida. Para ele a única esperança de sobrevivência é um transplante de medula óssea. Quando desembarcou na Sicília foi imediatamente atendido. Hoje está sendo tratado em uma estrutura hospital no norte da Itália. A mãe e o irmão estão abrigados em uma estrutura de segundo acolhimento.
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Os menores refugiados abandonados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU