13 Dezembro 2023
"Cada vez que encontro nas nossas paróquias leigos, mães e pais de família capazes e exemplares, pergunto-me se não seria realmente o momento em que poderiam ser escolhidos por sua vez como presbíteros", escreve Giuseppe Morotti, foi padre da Fraternidade dos Pequenos Irmãos de Jesus, em artigo publicado por Adista Segni Nuovi, Nº 43, 16-12-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nas conclusões da primeira etapa do Sínodo no cap. 11 é relatado que nas diversas comissões que o prepararam, “alguns se perguntam se o celibato para os presbíteros da igreja latina deve necessariamente traduzir-se numa obrigação disciplinar, especialmente onde os contextos eclesiais e culturais o tornam mais difícil. Trata-se de um tema novo que requer ser analisado mais profundamente".
Gostaria, num espírito sinodal, de dar um contributo para o aprofundamento desse tema, trazendo o meu testemunho de padre que se casou, mas continua a sentir-se parte viva da comunidade eclesial. Em primeiro lugar, não acredito que existam impedimentos doutrinários que proíbam o acesso ao casamento de presbíteros homens e porque não, também de presbíteros mulheres.
Estou convencido de que a grande maioria dos fiéis esteja preparada para esse passo. Meu professor de história da igreja, afirmava que as primeiras comunidades cristãs, como era costume nas comunidades judaicas a partir da destruição do templo, se reuniam nas casas. Lugares estes em que não apenas homens casados, como eram vários dos apóstolos, mas muitas vezes também suas mulheres, senhoras indiscutíveis da casa, costumavam realizar a ceia eucarística e partir o pão.
Nossos irmãos anglicanos e protestantes permaneceram abertos a essa tradição na qual não encontram nada de dessacralizante nem inoportuno. Nas igrejas ortodoxas orientais e também nas igrejas católicos orientais, como aquela caldeia em que vivi no Irã por dez anos, para os candidatos ao ministério existe a possibilidade de escolher livremente se querem ser presbíteros casados ou celibatários.
Como pude constatar, escolhas diferentes, que na sua complementaridade, constituem um enriquecimento para toda a comunidade. Uma escolha celibatária, faço questão de ressaltar isso por tê-la vivido como tal por duas décadas, a ser acolhida como um dom precioso e, consequentemente, através de uma livre escolha.
Além disso, há o que poderíamos chamar de um eloquente e incontestável “sinal dos tempos”: os seminários das nossas dioceses estão cada vez mais vazios e consequentemente os padres estão cada vez mais idosos e menos numerosos, são obrigados a assumir o ônus de mais de uma paróquia, correndo o risco de transformar-se, contra a sua vontade, em burocratas do sagrado, em vez de "pastores que sentem o cheiro de suas ovelhas".
A minha experiência pessoal também me dá coragem para reafirmar essa minha convicção.
O fato de ser um padre que escolheu constituir família não me impediu de ser acolhido com compreensão e até mesmo calor pela minha comunidade paroquial e diocesana a partir do meu pároco, do bispo e dos vários presbíteros do decanato. Entre esses há também um presbítero romeno casado, que trabalha numa fábrica e está a serviço dos seus conterrâneos de tradição católico-ortodoxa.
Também estive envolvido num primeiro tempo em tarefas para-eclesiais na Caritas diocesana e mais tarde, cada vez mais, em funções puramente educativas e eclesiais que, embora não podendo celebrar os vários sacramentos, continuam a fazer com que me sinta aquele presbítero que fui no passado.
Pessoalmente, dada a minha idade avançada, não pretendo ser readmitido a um pleno presbiterado. Contudo, cada vez que encontro nas nossas paróquias leigos, mães e pais de família capazes e exemplares, pergunto-me se não seria realmente o momento em que poderiam ser escolhidos por sua vez como presbíteros. Bastaria dar-lhes a possibilidade, se necessário, de uma nova atualização teológica e bíblica e, por que não, de uma adequada ajuda econômica, como aquela que os párocos já recebem.
A objeção que muitas vezes se faz é que o padre celibatário, não tendo uma família a cuidar, está mais disponível para a comunidade. É verdade, mas também é verdade que para um presbítero casado, precisamente porque tem família, seria mais fácil delegar várias das tarefas exigidas pela comunidade aos que têm o carisma, constituindo assim uma comunidade não só por traços, mas por natureza e em continuação sinodal e menos clerical.
Além do fato de que para um presbítero casado o tempo mais limitado que ele teria para a sua comunidade, poderia ser bem compensado, na minha opinião, além de um mais acentuado equilíbrio afetivo e humano, por uma experiência familiar capaz de fazê-lo compreender melhor as alegrias e dificuldades que envolvem diariamente a vida dos seus fiéis.
A esse respeito, gostaria de trazer um exemplo que pode até despertar um pouco de riso, mas que considero emblemático nesse sentido, ainda que de pouca importância em comparação com outros muito mais sérios que poderia relatar.
Ainda não tinha terminado o sexto ano de teologia quando, tendo acabado de ser ordenado padre, para as férias da Páscoa, fui enviado a uma paróquia para ajudar a ouvir as confissões. Apareceu no confessionário um jovem marido que com um ar bastante preocupado começou sua confissão dizendo que ele se encontrava em um grave estado de pecado. Ele literalmente passou a odiar a sogra, a ponto de ameaçá-la e desejar-lhe a morte, tamanha era a discórdia que ela espalhava diariamente na sua família.
Como sacerdote imberbe, criado no seminário desde os 10 anos de idade e, naturalmente, totalmente desconhecedor do que significava lidar com uma sogra, fiz questão de recomendar que ele tivesse paciência...aquela bendita sogra não poderia ser uma fera...que rezasse um pouco mais e tudo iria se acertar... finalmente dispensando-o após a absolvição, com um belo tapinha de encorajamento nas costas... Quando me casei, coube-me justamente a sogra certa: uma sogra da Puglia, tão generosa quanto possessiva e intrusiva que com extrema dificuldade, minha esposa e eu ainda hoje, embora agora muito idosa, mal conseguimos suportar.
Confesso que de vez em quando me lembro daquele jovem marido...
Eu realmente gostaria de encontrá-lo novamente e pedir perdão por aquelas palavras insulsas e desprovidas de qualquer experiência, com que em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, eu o despedi, jogando-o de volta com tamanha superficialidade para a sua sogra.
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Sinais dos tempos. Sinodalidade e celibato. Artigo de Giuseppe Morotti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU