07 Dezembro 2023
Francisco apontou em sua catequese que as atrações de uma espiritualidade íntima ou mesmo um sentimento de incompreensão da centralidade da liturgia podem ser, mais do que respostas ao Espírito, reações à insatisfação pessoal.
A reportagem é de Rodrigo Moreno Quicios, publicada por Alfa y Omega, 06-12-2023.
O Papa Francisco falou apenas duas vezes na audiência geral de 6 de dezembro. No início, para abençoar os peregrinos, e no fim, para enviar uma mensagem de paz: "Não esqueçamos de rezar por aqueles que sofrem o drama da guerra, especialmente na Ucrânia, em Israel e na Palestina. A guerra é sempre uma derrota. Ninguém ganha, todos perdem. Só ganham os fabricantes de armas”, disse na Sala Paulo VI com a voz um tanto trêmula, embora com visível melhora na saúde.
A sua catequese girou em torno da exortação apostólica Evangelii Gaudium, a primeira do pontificado de Francisco, e que muitos resumem como o seu “programa”. Com a ajuda do padre Filippo Ciampanelli, que leu para ele, Francisco advertiu que, embora a alegria seja uma primeira característica da evangelização, “o anúncio também deve ser feito no Espírito Santo. De fato, para comunicar Deus, não bastam a alegre credibilidade do testemunho, a universalidade do anúncio e a atualidade da mensagem. Sem o Espírito Santo todo zelo é vão e falsamente apostólico: seria só nosso e não daria frutos”, sublinhou.
"Na Evangelii Gaudium lembrei que 'Jesus é o primeiro e maior evangelizador' e que 'em qualquer forma de evangelização o primado é sempre Deus', que 'quis nos chamar a colaborar com ele e a estimular-nos com a força do seu Espírito'", notou o Papa pela boca do seu assistente. Um apelo a dar destaque a Deus na evangelização acompanhado de uma nuance: “No entanto, o primado do Espírito não deve levar-nos à indolência”. O Papa sublinhou que “a confiança não justifica o desinteresse” e que “a vitalidade da semente que cresce por si só não autoriza os agricultores a negligenciarem o campo”.
Francisco brincou dizendo que “o Senhor não nos deixou panfletos teológicos ou um manual pastoral para aplicar, mas o Espírito Santo que dá origem à missão”. E, nas suas palavras, o Espírito convida à “iniciativa corajosa” com duas características: “criatividade e simplicidade”.
Sobre este primeiro traço, a criatividade, o Papa explicou que é de grande ajuda “neste nosso tempo que não ajuda ter uma visão religiosa da vida e o anúncio tornou-se mais difícil em muitos lugares”. Francisco reconheceu que, quando a pregação é “aparentemente infrutífera, pode surgir a tentação de abandonar o serviço pastoral”. O que também é acompanhado pelo refúgio “em zonas de segurança, como a repetição habitual de coisas que sempre se fazem, os atrativos de uma espiritualidade íntima ou mesmo um sentido incompreendido da centralidade da liturgia”.
Na sua catequese, Francisco advertiu que tais dinâmicas “são tentações que se disfarçam de fidelidade à tradição, mas, muitas vezes, mais do que respostas ao Espírito, são reações a insatisfações pessoais”. Na sua opinião, podem ser resolvidos com “criatividade pastoral” e “ser ousado no Espírito”. “É por isso que escrevi que Jesus Cristo pode quebrar os esquemas enfadonhos em que tentamos confiná-lo”, sublinhou o Papa, que também reivindicou a “criatividade divina” apontando que cada vez que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, novos caminhos aparecem.
Mas Francisco explicou que o destino destes caminhos e desta criatividade é, em última análise, a “simplicidade”, porque essa é também a mensagem cristã: “Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar e agora está vivo ao teu lado todos os dias, para te iluminar, para te fortalecer e para te libertar”.
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O Papa adverte que se fechar à criatividade é uma tentação que se disfarça de fidelidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU