05 Dezembro 2023
Pedro Barrientos vivia nos EUA há decadas e teve sua extradição solicitada pela justiça chilena em 2013, mas acabou sendo preso somente em outubro passado.
A reportagem é de Gercyane Oliveira, publicada por Opera Mundi, 04-12-2023.
O ex-tenente da ditadura pinochetista, Pedro Barrientos, processado por sua participação no assassinato do cantor e compositor Víctor Jara em 1973, chegou ao Chile na tarde desta sexta-feira (01/12) após ser extraditado pelos Estados Unidos por ter usado informações falsas para solicitar sua residência no país norte-americano.
Barrientos, após sua chegada ao Aeroporto de Pudahuel, foi transferido de helicóptero pela Polícia Investigativa (PDI) ao Batalhão da Polícia Militar de Peñalolén, onde ficará detido e em prisão preventiva, aguardando a reativação do caso.
Conforme verificado pelo ministro responsável pelo caso, Guillermo de la Barra, o Escritório de Imigração e Fiscalização Aduaneira dos Estados Unidos entregou Barrientos à PDI, que procedeu à sua detenção.
Víctor Jara foi um dos artistas mais engajados com o projeto político de Salvador Allende, mas acabou assassinado pela ditadura de Pinochet. (Foto: Fundação Victor Jara)
Barrientos, cuja extradição dos Estados Unidos foi solicitada pela justiça chilena em 2013, foi preso em outubro passado na Flórida e julgado por ter fornecido informações falsas no seu processo de nacionalização nos Estados Unidos. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, isso “abriu a possibilidade de sua deportação para o Chile”.
Víctor Jara foi torturado e morto por ser a voz do Chile de Allende. Agora, seu assassino pode finalmente ser levado à justiça.
Jara foi um famoso músico e diretor de teatro que acreditava que a cultura popular poderia ajudar a promover uma consciência revolucionária mais ampla. Por meio de seu compromisso com a luta social e o ativismo político, ele desempenhou um papel importante na coalizão da Unidade Popular de Salvador Allende, que governou o Chile por três anos até o golpe de 1973.
O cantor foi um dos muitos chilenos presos, torturados e mortos em setembro daquele ano. Por mais de 40 anos, Joan Jara fez campanha para obter justiça para seu marido.
Pedro Barrientos Nuñez é responsável pela morte de Jara. Barrientos comandou os esquadrões da morte durante o golpe e mais tarde se gabou de ter matado o músico. O veredicto concluiu uma batalha judicial de quatro anos e aumenta a possibilidade de que Barrientos seja extraditado para o Chile para enfrentar acusações de assassinato.
Em 2012, Barrientos ganhou a atenção do público graças a um programa de TV investigativo chamado ¿Quién Mató a Víctor Jara? Os jornalistas localizaram Barrientos em sua casa em Orlando, e ele deu uma entrevista na qual negou o envolvimento na morte de Jara, mas admitiu ter lidado com os detentos e estar envolvido no golpe.
Em 2013, um soldado, José Paredes, disse ao tribunal que "o tenente Barrientos decidiu brincar de roleta russa, então pegou sua arma, aproximou-se de Víctor Jara, que estava de pé com as mãos algemadas atrás das costas, girou o cilindro, o colocou contra sua nuca e disparou".
Como outros países latino-americanos que sofreram com os regimes ditatoriais nas décadas de 1970 e 1980, o Chile tem lutado para processar os abusos de direitos humanos cometidos durante o regime militar. No entanto, houve sucessos notáveis, incluindo o caso contra o chefe da brutal polícia secreta de Pinochet, Manuel Contreras, que foi condenado a várias sentenças de prisão perpétua.