02 Dezembro 2023
O cardeal Peter Turkson, uma antiga autoridade do Vaticano, rompe com os bispos de seu país natal, Gana, ao dizer à BBC que é contra o plano do país de criminalizar a homossexualidade.
A reportagem é de Guy Aimé Eblotié, publicada por La Croix International, 30-11-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Peter Turkson, uma antiga autoridade do Vaticano, provocou polêmica no seu país natal, Gana, ao denunciar a proposta de lei do país da África ocidental para criminalizar a homossexualidade.
“As pessoas LGBT não podem ser criminalizadas, porque não cometeram nenhum crime”, disse o cardeal de 75 anos durante uma entrevista que foi ao ar no dia 27 de novembro no programa “HARDtalk” da BBC.
O comentário, que contraria a opinião da Conferência dos Bispos de Gana, provocou indignação nas redes sociais digitais.
“Que Deus tenha misericórdia dele”, postou um católico ganense.
O afável cardeal, que está no Vaticano desde 2009 e atualmente é chanceler das Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais, foi inflexível.
“É hora de começar a educação, de ajudar as pessoas a entenderem o que é essa realidade, esse fenômeno”, disse Turkson, um biblista que atuou como arcebispo de Cape Coast de 1992 a 2009 e se tornou o primeiro cardeal de Gana em 2003.
“Precisamos de muita educação para que as pessoas separem essas coisas, para que tomem uma decisão sobre o que é crime e o que não é”, insistiu.
Sua posição contrasta fortemente com as declarações oficiais do episcopado do Gana, que manifestou seu apoio a uma lei “anti-homossexualidade” atualmente em revisão em Gana.
Uma expressão na língua ganense
“Desejamos reafirmar o nosso apoio inabalável a esse projeto de lei e apelar a todos os ganenses para que o apoiem, a fim de que seja aprovado em lei”, declarou a Conferência Nacional dos Bispos em novembro de 2021 em apoio à legislação proposta.
“A posição da Igreja Católica sobre as pessoas LGBTQIA+ permaneceu a mesma; tais práticas são contra não apenas os valores cristãos, mas também os valores tradicionais muçulmanos e ganenses”, disseram os bispos.
Durante a entrevista à BBC, o cardeal Turkson questionou essa afirmação. Ele disse que o Akan, uma das línguas de Gana, na verdade, tem uma expressão que se refere a “homens que agem como mulheres e mulheres que agem como homens”. Isso, deduziu ele, “significa que esse fenômeno era conhecido na cultura e na comunidade”.
As relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são referidas como “conhecimento carnal não natural” no código penal de Gana de 1960, que pune tais ações com até três anos de prisão. O projeto de lei atualmente em discussão vai mais longe, tornando obrigatória a denúncia de atos homossexuais e proibindo, sob pena de prisão, tudo o que possa ser considerado como “promoção” da homossexualidade.
“Culturas que ainda não estão prontas”
Embora os bispos católicos de Gana e da maioria dos outros países africanos sejam a favor de leis que criminalizam as relações homossexuais, Turkson disse acreditar que isso se deve às “tentativas de vincular algumas doações e subvenções estrangeiras a certos cargos em nome da liberdade, em nome do respeito aos direitos”.
Mas o cardeal, que chefiou o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral (o ex-Pontifício Conselho Justiça e Paz) de 2009 a 2022, também disse que tais exigências por parte de doadores estrangeiros não são éticas. “Essa posição também não deveria se tornar algo a ser imposto a culturas que ainda não estão prontas para aceitar coisas como essas”, disse ele.
O cardeal Turkson enfatizou que a Igreja Católica ensina que as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são “objetivamente pecaminosas” e que não reconhece o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas isso foi suficiente para satisfazer seus irados detratores. “Só porque você é um líder católico não significa que, independentemente do que você diga, os católicos possam ouvir e fazer”, disse uma pessoa no Facebook. “Temos o direito de nos opor, e ninguém pode nos impor a lei!”.
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Cardeal Turkson provoca indignação em Gana devido a comentários sobre homossexualidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU