01 Dezembro 2023
Francisco teve de cancelar no último minuto sua viagem a Dubai para participar da COP28, um sinal da deterioração da saúde que faz com que alguns questionem sua capacidade de continuar como papa.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada em La Croix International, 30-11-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quando a Sala de Imprensa da Santa Sé anunciou, na terça-feira passada, que o Papa Francisco estava sendo forçado a cancelar sua viagem de 1º a 3 de dezembro a Dubai, onde ele planejava participar da conferência da ONU sobre o clima (COP28), ela não escondeu a angústia do papa.
Ela afirmou que ele aceitou com “grande decepção” o conselho dos médicos de não viajar.
Oito anos após a publicação da popular encíclica “verde” e social Laudato si’, que foi muito além dos círculos católicos, a participação de Francisco nas negociações climáticas nos Emirados Árabes Unidos era considerada um evento histórico.
O Vaticano insistiu que nunca antes um papa tinha participado em uma COP. No início de outubro, o papa publicou outra exortação apostólica dedicada à luta contra as mudanças climáticas, Laudate Deum. Nela, ele denunciava principalmente o ceticismo climático dentro da Igreja Católica e pretendia pressionar a comunidade internacional. Mas mesmo o importante tema da defesa da “casa comum” não foi suficiente para que ele mantivesse os planos de viagem.
A causa do cancelamento foi uma “inflamação nos pulmões”, que no sábado o levou a suspender todas as suas audiências. Nos dias seguintes, o Vaticano também aliviou a agenda, tentando “salvar”, a todo custo, a viagem a Dubai.
O La Croix soube que nos últimos dias os conselheiros médicos do papa, incluindo seu médico e enfermeiro, têm alertado sobre a incompatibilidade de sua saúde com uma viagem de menos de três dias, um voo de sete horas, incluindo um fuso horário de três horas de diferença, além da participação em reuniões em edifícios com ar condicionado.
Francisco, que decidiu abrir sua agenda a todos os líderes mundiais que desejassem se encontrar com ele, planejou nada menos do que 30 reuniões para sábado, após seu discurso na assembleia geral na COP28.
De todos os modos, ele esperou até o último momento para tomar sua decisão, esperando ir para Dubai apesar de sua fraqueza. Com efeito, foi na tarde de terça-feira, 28, que ele tomou a decisão de cancelar a viagem, sentindo-se “febril” naquele momento. No meio da tarde, ele recebeu um grupo de franceses vítimas do crime de pedofilia, aos quais confidenciou sobre sua viagem a Dubai: “São os médicos que vão decidir”.
No Vaticano, Francisco está fazendo de tudo para continuar suas atividades normalmente. Ele presidiu a Audiência geral de quarta-feira diante de vários milhares de fiéis. Sem fôlego, confiou a leitura da catequese do dia a um de seus assessores, limitando sua parte aos apelos mais políticos, feitos no fim da oração, evocando, em particular, o destino dos reféns israelenses e o dos habitantes de Gaza.
Embora o enfraquecimento de sua saúde não pareça estar minando seu desejo de continuar suas atividades, o adiamento forçado levanta claramente a questão de sua capacidade de continuar seu pontificado.
Francisco, que celebrará seu 87º aniversário no dia 17 de dezembro, está envolvido desde outubro no Sínodo sobre a Sinodalidade, que uma pessoa próxima descreve como “seu grande legado”. E todos aqueles que diariamente têm contato com ele continuam insistindo que ele “está totalmente lúcido”, “têm uma memória extraordinária” e continua sendo um “trabalhador incansável”.
“Na cabeça dele, ele está indo muito bem”, diz um de seus colaboradores regulares. “Mas seu corpo está lhe enviando sinais de que precisa parar. Nos últimos meses, ele tem se confrontado realmente com seus limites.”
Na verdade, este novo incidente de saúde está longe de ser o primeiro. A última hospitalização ocorreu em junho, quando, para evitar uma obstrução intestinal, ele foi operado durante três horas sob anestesia geral de uma hérnia abdominal. Ninguém no Vaticano pode dizer se Francisco decidirá nos próximos meses renunciar ao cargo, mesmo que as especulações tenham aumentado nos últimos dias.
Seus próprios pensamentos sobre o assunto evoluíram muito ao longo do tempo.
“A porta está aberta, é uma opção natural, mas até hoje não bati nessa porta”, disse ele em julho de 2022 ao retornar do Canadá.
Mas ele se corrigiu alguns meses depois, no Congo.
“Acredito que o ministério do papa é ad vitam (para toda a vida)”, disse ele na época. “Não vejo nenhuma razão para que não seja assim.”
Francisco observou na época que, de fato, tinha preparado uma carta de renúncia no caso de um “problema de saúde” o impedir “de exercer meu ministério, e eu não estar totalmente consciente e capaz de renunciar”. Mas enfatizou que a renúncia dos papas não deveria ser nem “uma moda passageira” nem “algo normal”.
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Papa Francisco está sendo cada vez mais prejudicado por suas limitações físicas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU