20 Outubro 2023
O Centre Delàs, juntamente com outras organizações, publica um relatório que analisa como o aumento das despesas militares nos Estados membros da OTAN é nefasto à luta contra as mudanças climáticas.
A reportagem é de Oscar F. Civieta, publicada por La Marea/Climatica, 17-10-2023. A tradução é do Cepat.
Se os 31 Estados membros da OTAN atingirem o objetivo de destinar pelo menos 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) às suas Forças Armadas, provocarão uma emissão adicional de 467 milhões de toneladas de CO2 em oito anos.
É a chamada pegada de carbono militar, que, segundo o relatório O clima sob fogo cruzado. Como a meta de 2% de despesas militares da OTAN contribui para o colapso climático é responsável por 5,5% das emissões anuais de gases de efeito estufa (GEE) do mundo.
O estudo, elaborado pelo Centre Delàs d'Estudis per la Pau, IPPNW Germany, Tipping Point North South, Stop Wapphandel e Transnational Institute, investiga os gastos militares e o grande número de compromissos climáticos que poderiam ser financiados se esse dinheiro tivesse outro destino.
E se o dinheiro para a militarização fosse destinado ao combate às mudanças climáticas?
Entre 2021 e 2023, os gastos militares dos países da OTAN aumentaram de 1,16 para 1,26 bilhão de dólares. Crescimento justificado para atingir aquele objetivo de 2% do PIB, que, como aponta o estudo, “não tem uma base metodológica clara, uma vez que foi definido em 2006, antes da invasão da Ucrânia pela Rússia em 2014, e “é atualmente defendido como necessário para enfrentar a ameaça russa”.
Com esses 1,26 bilhão, comparam, o compromisso do Acordo de Paris para o financiamento climático (100 bilhões de dólares anuais) poderia ser financiado durante 12 anos. Também o financiamento climático externo necessário para países de baixo e médio rendimento durante um ano (1 bilhão de dólares). O montante também serviria para cobrir os custos dos países africanos para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas durante quatro anos (cerca de 280 bilhões de dólares anuais), ou os custos da adaptação climática para países de baixo e médio rendimento durante três anos (340 bilhões de dólares por ano).
No futuro, esta comparação poderá ser muito mais exagerada, pois, apesar do aumento (de 1,16 para 1,26 bilhão), há 20 países da OTAN que ainda não atingiram os 2%. Ou seja, a margem de crescimento é significativa.
Qual é a pegada de carbono militar?
À escala global, detalha o relatório, as Forças Armadas estão entre os maiores emissores de GEE institucionais. Se os exércitos do mundo inteiro fossem um país, estariam em 4º lugar no ranking, com emissões superiores às da Rússia.
A pegada de carbono militar (excluindo aquela relacionada com os conflitos) pode ser dividida em três categorias: fontes fixas, fontes móveis e cadeia de abastecimento.
As fontes fixas são emissões operacionais de gases provenientes de bases militares, enquanto as emissões provenientes de fontes móveis derivam de atividades militares móveis (por exemplo, a utilização de aeronaves, navios, veículos terrestres e naves espaciais). Por outro lado, as emissões da cadeia de abastecimento incluem as emissões da indústria de armamentos e de outras empresas que abastecem as Forças Armadas.
O relatório examina o período entre 2021 e 2028. No ano de início da análise (2021), a pegada de carbono militar foi de 196 milhões de toneladas métricas equivalentes de CO₂ (tCO2-eq). Em 2023, já subiu para 226 milhões. Em 2028, se os Estados membros atingirem a meta de 2%, as emissões anuais de gases de efeito estufa serão de 295 milhões. 100 milhões a mais a cada ano em comparação com 2021.
Se somarmos as emissões de todos os países da OTAN entre 2021 e 2028, a pegada de carbono militar conjunta será de 2 bilhões. E o excesso em relação às emissões, caso não se chegar a esses 2% do PIB de gastos militares, é de 467 milhões de toneladas. Isto, exemplifica o estudo, é mais do que as emissões do Vietnã num único ano (atualmente o 18º maior emissor do mundo). Além disso, estas emissões adicionais são também superiores às atualmente registradas no Reino Unido ou na França.
As emissões extraordinárias necessárias para atingir a meta de 2% da OTAN, acrescentam, são equivalentes a 474 milhões de voos de ida e volta entre Londres e Nova Iorque ao longo de 8 anos, com uma média de 59 milhões de voos por ano. Se se levar em consideração apenas os membros europeus da OTAN, a pegada de carbono militar adicional, de um ponto de vista conjunto, seria de 234 milhões de tCO2-eq, ou seja, mais do que todas as emissões de CO₂ de todos os voos que saem da UE27 e da EFTA [Associação Europeia de Livre Comércio] (147 milhões de toneladas emitidas por 4,6 milhões de voos em 2019).
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O aumento dos gastos militares nos países da OTAN gerará 467 milhões de toneladas de CO2 em oito anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU