06 Outubro 2023
"O Instrumento de trabalho (Instrumentum laboris) do próximo Sínodo dos Bispos constata a feliz surpresa de muitos cristãos por terem sido 'escutados pela comunidade, em alguns casos pela primeira vez, recebendo assim o reconhecimento do seu próprio valor que testemunha o amor do Pai por cada um dos seus filhos e suas filhas' (IL 22)", escreve o teólogo e padre italiano Severino Dianich, um dos fundadores e ex-presidente da Associação Teológica Italiana e professor da Faculdade Teológica de Florença, em artigo publicado por Settimana News, 28-09-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Daqueles seis/sete milhões de italianos que vão à missa aos domingos, pelo menos cinco são cristãos que não são frades, freiras nem membros de nenhuma associação católica, que não são pessoalmente ativos em nenhuma das instituições da Igreja, que não são membros de um movimento eclesial, que não são teólogos nem leitores habituais de publicações religiosas católicas, nem fazem parte de nenhum dos vários círculos de intelectuais católicos, que se encontram para refletir sobre os temas da Igreja. São cristãos e ponto. Os religionistas os classificariam entre “as grandes massas religiosas”. Eu os definiria simplesmente como “o povo das paróquias”.
É o núcleo duro do corpo cristão espalhado pelo mundo. São cristãos que creem e rezam, mesmo que muitas vezes à sua maneira, relativamente observantes das boas regras da ortodoxia, mas que procuram viver honestamente e praticar, mesmo que às vezes em grau mínimo, a caridade evangélica, que batizam os seus filhos e os orientam para viver como cristãos.
É preciso dizer que, entre eles, há também protagonistas realmente importantes da missão da Igreja, sujeitos relevantes na sociedade, no exercício de profissões específicas ou por um seu eminente papel público.
O Instrumento de trabalho (Instrumentum laboris) do próximo Sínodo dos Bispos constata a feliz surpresa de muitos cristãos por terem sido “escutados pela comunidade, em alguns casos pela primeira vez, recebendo assim o reconhecimento do seu próprio valor que testemunha o amor do Pai por cada um dos seus filhos e suas filhas" (IL 22).
É uma experiência que, tendo em conta os seus limites, não deve ser subestimada. Basta pensar que é, absolutamente, a primeira vez na história da Igreja que se realiza um empreendimento desse tipo.
Para dizer a verdade, é a primeira vez desde a época apostólica, da qual os Atos dos Apóstolos narram o evento de Paulo e Barnabé que, pela questão da admissão dos pagãos, “em Jerusalém, foram recebidos pela Igreja, pelos apóstolos e pelos anciãos", e que nessa reunião plenária foi tomada uma decisão de enorme importância para o futuro do cristianismo.
Na época provavelmente foram envolvidos todos os cristãos existentes no mundo, nas duas comunidades de Antioquia e de Jerusalém. Hoje, a ambição de envolver todos os fiéis que conservam mesmo uma mínima relação com a Igreja num Caminho Sinodal, obviamente, deve ser redimensionada.
Ao abordar o objetivo é importante, no entanto, destacar os seus limites, não para diminuir a sua dimensão histórica, mas porque, na perspectiva de que o evento determine um costume habitual para o futuro da Igreja e a canonística insira suas regras na ordenação canônica, se possa chegar à forma ideal de uma Igreja efetivamente sinodal.
Um dos limites que deveria ser levado em consideração não é aquele numérico no sentido quantitativo, mas aquele de seu sentido qualitativo. Que tipo de cristãos é aquele que foi efetivamente envolvido no Caminho Sinodal? Para citar o caso da Igreja italiana, o texto da Síntese nacional, publicado pela CEI, assinala os 50 mil “grupos sinodais” nos quais mais ou menos meio milhão de pessoas se reuniram e dialogaram entre si.
Dado o distinto poder de apelo que poderia significar o apelo do Papa e dos bispos para se encontrar, ainda assim representa um número significativo. Mesmo comparando-o com o evento que reúne, de longe, o maior número de italianos, os jogos de futebol da Série A, que viram lotar os estádios, no total das primeiras sete rodadas de 2022, com dois milhões de espectadores.
A questão mais delicada não é, portanto, aquela do número, mas a do aspecto qualitativo dos grupos e das pessoas que responderam aos convites para os diferentes encontros do Caminho Sinodal. A parte que ficou mais alheia ao evento é, realmente, aquele “povo das paróquias”, que não costuma participar nas iniciativas propostas ao longo da semana e que se torna parte da vida da Igreja apenas na missa dominical. Dentro dele estão também fiéis que prestam bom testemunho do Evangelho no mundo, mas que, devido a situações familiares particulares, não podem participar noutras ocasiões.
Além disso, não faltam pessoas que dificilmente poderão participar ativamente na vida paroquial, justamente por estarem absorvidas em funções públicas relevantes para além dos confins da Igreja local e que, por isso mesmo, seria útil que fossem consultadas.
Mesmo entre os mais de 80 não bispos que darão vida à Primeira Sessão do Sínodo dos Bispos, “o povo das paróquias” não tem uma sua representação própria, nem são formalmente representados os párocos, ou seja, os seus mais diretos pastores.
Certamente serão os bispos que se tornarão os porta-vozes das instâncias dessa massa de cristãos.
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As paróquias no Sínodo. Artigo de Severino Dianich - Instituto Humanitas Unisinos - IHU